Juçara: extração responsável ajuda a manter palmeiras em pé e conserva a Mata Atlântica

A Juçara alimenta várias aves que fazem a dispersão de sementes na floresta (Foto: Divulgação / Juçaí)

Juçaí, empresa que produz sorbet de açaí a partir dos frutos da espécie, fomenta cultivo sustentável e replantio de mudas

Por Luisa Valle | Conteúdo de marcaODS 12 • Publicada em 29 de outubro de 2021 - 11:00 • Atualizada em 8 de novembro de 2021 - 09:06

A Juçara alimenta várias aves que fazem a dispersão de sementes na floresta (Foto: Divulgação / Juçaí)

O Brasil é um dos maiores produtores de palmito no mundo – e um dos principais consumidores também. De acordo com dados do IBGE, só em 2020, foram colhidas mais de 110 mil toneladas do alimento no país. Mas, parte dessa produção vem da extração irregular do Palmito Juçara, espécie da Mata Atlântica, que corre risco de extinção.

No entanto, a exploração do fruto da Juçara, que oferece um açaí único, trouxe uma nova esperança para as palmeiras, que, aos poucos, voltam a surgir nas regiões.

Diferentemente do palmito, que, para ser retirado, devasta a espécie com a derrubada da árvore, os frutos podem ser extraídos sem malefícios ao meio ambiente, ou seja, sem a necessidade de corte da palmeira. Há alguns anos, o cultivo responsável do açaí originário da Mata Atlântica é a garantia de uma atividade em prol do bioma. É a partir de ações responsáveis que agricultores deixam de lado a ocupação irregular ligada ao palmito e passam a fazer parte de um circuito de proteção à Mata, impulsionando a valorização do solo e daquilo que ele oferece.

 

A colheita é feita de forma responsável. Dois terços dos frutos devem ser deixados na árvore para alimentação da fauna local e dispersão natural de sementes

A Juçaí, que produz um sorbet de açaí feito a partir da polpa da Juçara, é um exemplo de empresa que fomenta esse tipo de trabalho. O produto, que é totalmente vegano, orgânico e com alto teor nutritivo – com índices que somam 50% mais ferro, 31% mais potássio e duas vezes mais poder antioxidante se comparado ao açaí tradicional -, já caiu no gosto dos consumidores que buscam uma vida mais equilibrada e saborosa. Entre 2019 e 2020, a produção cresceu mais de 90%, impulsionada pela maior busca por itens de procedência sustentável e ligados à saudabilidade. De acordo com o gerente geral, Bruno Correa, a marca é a junção de pilares de ESG, ou seja, com as melhores práticas ambientais, sociais e de governança:

“Juçaí nasceu da missão de criar um produto que, por meio do seu processo comercial, fortalecesse um ciclo virtuoso de conservação: quanto mais vendemos, mais valor é agregado para o fruto, e mais incentivo é dado para manter esta árvore viva e prevenir o desmatamento”.

A coleta do fruto da Juçara é uma alternativa sustentável à extração ilegal do palmito (Foto: Divulgação / Juçaí)

Pensando nisso, a marca conta, justamente, com o trabalho de produtores locais, que fazem a coleta direto nas árvores, manualmente. São em locais como a Serrinha do Alambari, no Rio de Janeiro, lugar do surgimento de Juçaí, que eles recolhem apenas 1/3 dos frutos e mantêm o restante à disposição do bioma, inclusive dos animais, que dependem também do açaí como alimento.

“Somos certificados como produtos orgânicos e, como tal, todos os nossos fornecedores também são. Só este fator já nos dá a segurança de que a colheita é feita de forma responsável. Dois terços dos frutos devem ser deixados na árvore para alimentação da fauna local, e dispersão natural de sementes”, destaca Bruno, reforçando ainda que a empresa vem desenvolvendo uma auditoria adicional para garantir que os fornecedores estejam atuando de forma correta.

Conheça mais sobre a história de Juçaí

Sem nenhum tipo de fertilizante sintético ou agrotóxico, a qualidade é mantida durante os estágios de produção e na chegada até o consumidor, que prova o sabor natural de Juçaí – hoje, disponível em versões guaraná, banana, banana zero, cambuci, maracujá e amora.

PROTEÇÃO DA MATA ATLÂNTICA

Certificada com Empresa B e associada do SOS Mata Atlântica, no qual apoia projetos de mapeamento do ecossistema, Juçaí é uma das companhias responsáveis pela extração e, principalmente, pelo replantio de Juçaras em áreas que vão de Santa Catarina, no Sul do país, até a Bahia.

A utilização do fruto da Juçara, a exemplo de Juçaí, tem se mostrado muito relevante como exploração sustentável, garantindo a vivência da espécie (Foto: Divulgação / Juçaí)

De acordo com Marcia Hirota, diretora executiva da Fundação SOS Mata Atlântica, a utilização do fruto da Juçara, a exemplo de Juçaí, tem se mostrado muito relevante como exploração sustentável, garantindo a vivência da espécie.

“A extração do fruto também tem outra vantagem, que é o grande potencial de contribuir com o desenvolvimento de atividades que fortaleçam as comunidades locais”, explica Marcia, que continua: “Ao olharmos para a imensa e rica biodiversidade que encontramos na Mata Atlântica, fica evidente o cenário de oportunidades, tanto para a economia como para o desenvolvimento de pesquisas, novas tecnologias e produtos. É fundamental fortalecer o elo entre a manutenção da biodiversidade e a sociedade, valorizando a floresta em pé e garantindo a proteção deste lindo bioma, que é um Patrimônio Nacional dos brasileiros”.

Como uns dos desafios para manter o que há de remanescente nesses lugares, incluindo a Palmeira, está o trabalho de convencer produtores vinculados ao palmito ilegal. Para Mario Mantovani, diretor do setor de Advocacy na Fundação, enquanto houver quem compre, a extração ilegal do palmito da Juçara vai continuar existindo.

“Infelizmente, ainda existe a extração criminosa deste palmito. Tem gente que vende e gente que compra. No Vale do Ribeira, na Serra do Mar, no Paraná, em Santa Catarina, onde tiver palmito estão indo tirar. O combate na mata é muito complicado. É preciso ter um trabalho maior de inteligência”, diz Mantovani.

A solução encontrada por Juçaí consiste em formar parcerias com um viés de desenvolvimento socioambiental, unindo a comunidade aos benefícios do progresso sustentável.

Quando o palmito é retirado, a árvore morre e uma nova leva 10 anos até que esteja madura o suficiente      para uma nova extração. No caso da coleta dos frutos, a safra acontece todo ano, é uma atividade renovável. Para Bruno Correa, estima-se que os coletores da comunidade tenham o dobro da receita com a coleta de Juçaí em comparação com o extrativismo clandestino.

“Nas regiões onde a Juçara é presente, diversos produtores são atingidos pelo extrativismo clandestino do palmito. Porém, como a ocupação é irregular, eles estão sujeitos à falta de renda fixa, condições ilegais de trabalho e riscos iminentes      por conta das fiscalizações, o que acaba não sendo vantajoso e seguro. Há alguns anos, somos aliados de cooperativas locais, que estão presentes desde a colheita até o transporte para as fábricas. São elas que nos auxiliam a oferecer remuneração justa, conscientizar a respeito dos benefícios do processo de Juçaí e, claro, incentivar a conservação ao solo”, explica o gerente geral de Juçaí, que calcula que a empresa hoje gere cerca de 900 empregos diretos e indiretos em todo o ciclo da produção.

O sorbet de açaí feito a partir da polpa da Juçara tem alto teor nutritivo – com índices que somam 50% mais ferro, 31% mais potássio e duas vezes mais poder antioxidante se comparado ao açaí tradicional (Foto: Divulgação / Juçaí)

O impacto da extração dos frutos da Juçara, no entanto, não tem um efeito apenas econômico. De acordo com Marcia Hirota, a Palmeira Juçara é uma das espécies mais emblemáticas da Mata Atlântica, mas, a ameaça do desmatamento e da exploração ilegal da espécie é um agravante para a saúde de toda a floresta:

“Sem o Palmito-Juçara, a Mata Atlântica empobrece. Ela alimenta várias aves que fazem a dispersão de sementes na floresta. Também se beneficiam das suas sementes ou frutos outros animais, como as cutias,      antas, catetos e muitos outros. De acordo com a Fundação Florestal, a sua semente e o fruto servem      de alimento para mais de 68 espécies, entre aves e mamíferos. Tucanos, jacutingas, jacus, sabiás e arapongas são os principais responsáveis pela dispersão das sementes, enquanto cutias,      antas, catetos, esquilos e muitos outros animais ainda se beneficiam das suas sementes e frutos”.

Aos poucos, a espécie volta a aparecer na Mata Atlântica, que concentra mais de 70% da população do país e que hoje tem apenas 12,4% da floresta que existia originalmente. De acordo com Bruno Correa, por meio de Juçaí, foram replantadas 3.500 mudas da palmeira e seis milhões de sementes foram distribuídas.

 

A Palmeira Juçara é uma das espécies mais emblemáticas da Mata Atlântica (Divulgação / Juçaí)

“Somente no ano de 2021, até agora, contabilizamos oito mil Juçaras conservadas, o que é motivo de comemoração, visto que a Juçara quase deixou de existir há poucos anos por conta da extração”, comemora Correa, o qual revela que a empresa tem planos de expandir seus negócios e, assim, conservar ainda mais:

“Para alcançarmos nossas metas, naturalmente, vamos precisar acessar uma quantidade muito maior de polpa. Por isso, o desenvolvimento de novos fornecedores e parceiros de Juçara orgânica é essencial para nossos planos e garantir nossa evolução. Juçaí é bastante reconhecido no Rio de Janeiro, local onde nascemos. Mesmo por lá, buscamos sempre a expansão, atingindo novas regiões e estabelecimentos. Em São Paulo, que também é nossa capital de distribuição, estamos em processo de construção de marca, e o desejo é aumentar a capilaridade por lá. Para atender a essas futuras demandas, estamos preparando uma nova fábrica até o fim do ano. Com isso, conseguiremos ampliar nossa chegada em outros locais e proteger um maior número de Juçaras”.

Atualmente, a marca é vendida nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro, no Chile e no Canadá. Ao todo, são mais de 500 pontos de vendas.

 

Luisa Valle

Jornalista formada na PUC-Rio com especialização em História do Rio de Janeiro pela UFF. Trabalhou no jornal "O Globo" por 14 anos, onde passou pela editoria Rio e pela Revista Boa Viagem, além de participar de grandes coberturas nas editorias de País, Mundo e Ela. Atualmente vive na Alemanha, onde trabalha como freelancer

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