Vulcão em Tonga revela vulnerabilidade do sistema global de telecomunicações

Imagem de satélite com a erupção do vulcão Hunga Tonga-Hunga-Ha’apai numa ilha do arquipélago de Tonga: 100 mil pessoas incomunicáveis após rompimento de cabos submarinos de telecomunicações (Foto: Eyepress News / AFP – 15/01/2022)

População de 100 mil pessoas do arquipélago do Pacífico fica incomunicável após erupção ter provocado rompimento de cabos submarinos de fibra ótica

Por The Conversation | ODS 11ODS 9 • Publicada em 19 de janeiro de 2022 - 09:55 • Atualizada em 1 de dezembro de 2023 - 18:44

Imagem de satélite com a erupção do vulcão Hunga Tonga-Hunga-Ha’apai numa ilha do arquipélago de Tonga: 100 mil pessoas incomunicáveis após rompimento de cabos submarinos de telecomunicações (Foto: Eyepress News / AFP – 15/01/2022)

(Dale Dominey-Howes*) – Quatro dias após a violenta erupção de um vulcão em Tonga, quase toda a comunicação com os moradores das ilhas permanece cortada, com seus sistemas paralisados, deixando a imensa maioria da população do arquipélago – aproximadamente 100 mil pessoas – incomunicável. Em nosso mundo moderno e altamente conectado, onde mais de 95% da transferência global de dados ocorre ao longo de cabos de fibra ótica que cruzam os oceanos, a quebra ou interrupção dessa infraestrutura crítica pode ter consequências catastróficas locais, regionais e até globais.

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Isso é exatamente o que aconteceu em Tonga – arquipélago no meio do Oceano Pacífico – após o desastre do vulcão-tsunami de sábado. Mas esta não é a primeira vez que um desastre natural corta cabos submarinos críticos e não será a última. O vídeo abaixo mostra a incrível disseminação de cabos submarinos pelo planeta – com mais de 885.000 quilômetros de cabos instalados desde 1989. Esses cabos se aglomeram em corredores estreitos e passam entre os chamados “pontos de estrangulamento” críticos que os deixam vulneráveis ​​a uma série de de riscos naturais, incluindo erupções vulcânicas, deslizamentos de terra subaquáticos, terremotos e tsunamis.

Tonga só se conectou à rede global de telecomunicações submarinas na última década. Suas ilhas têm sido fortemente dependentes desse sistema, pois é mais estável do que outras tecnologias, como satélite e infraestrutura fixa.

A situação em Tonga agora ainda é bastante indefinida pela falta de informações, e alguns detalhes ainda precisam ser confirmados; mas, pelos dados iniciais, parece que um ou mais processos vulcânicos (como o tsunami, deslizamento de terra submarino ou outras correntes submarinas) romperam o cabo de fibra óptica de 872 km de comprimento que conecta Tonga para o resto do mundo. O sistema de cabo não foi desligado ou desconectado pelas autoridades – efetivamente foi rompido em consequência da erupção do vulcão.

Isso teve um impacto enorme. Os tonganeses que vivem na Austrália e na Nova Zelândia não podem entrar em contato com seus entes queridos para ver como estão. Também dificultou a comunicação entre os funcionários do governo tonganês e os serviços de emergência e para as comunidades locais determinarem as necessidades de ajuda e recuperação. Há pelo menos três mortes causadas pela erupção do vulcão: só nesta terça-feira aviões da Austrália e da Nova Zelândia começaram a sobrevoar o arquipélago e a retomada das comunicações pode demorar semanas.

As telecomunicações estão inoperantes no arquipélago, assim como as funções regulares da Internet – e as interrupções continuam interrompendo os serviços online, piorando as coisas. Tonga é particularmente vulnerável a esse tipo de interrupção, pois há apenas um cabo conectando a capital, Nuku’alofa, a Fiji, que fica a mais de 800 km de distância. Não existem cabos entre as ilhas.

Riscos para cabos submarinos

Os eventos em Tonga mais uma vez destacam o quão frágil é a rede global de cabos submarinos e a rapidez com que a população pode ficar offline. Em 2009, fui coautor de um estudo detalhando as vulnerabilidades da rede de telecomunicações submarina a uma variedade de processos de risco natural. E nada mudou desde então.

Os cabos são colocados na distância mais curta (que significa mais barata) entre dois pontos na superfície da Terra. Eles também precisam ser colocados ao longo de localizações geográficas específicas que permitem fácil colocação, razão pela qual muitos cabos são agrupados em pontos de estrangulamento.

Casas e árvores cobertas pelas cinzas do vulcão na ilha de Nomuka, no arquipélago de Tonga: erupção mostra vulnerabilidade de sistema global de comunicações (Foto: Força de Defesa da Nova Zelândia / AFP)
Casas e árvores cobertas pelas cinzas do vulcão na ilha de Nomuka, no arquipélago de Tonga: erupção mostra vulnerabilidade de sistema global de comunicações (Foto: Força de Defesa da Nova Zelândia / AFP)

Alguns bons exemplos de pontos de estrangulamento incluem as ilhas havaianas, o Canal de Suez, Guam e o Estreito de Sunda na Indonésia. Inconvenientemente, estes também são locais onde os grandes riscos naturais tendem a ocorrer.

Uma vez danificado, pode levar dias a semanas (ou até mais) para reparar cabos quebrados, dependendo da profundidade do cabo e da facilidade de acesso. Em tempos de crise, essas interrupções tornam muito mais difícil para os governos, serviços de emergência e instituições de caridade se envolverem nos esforços de recuperação.

Muitos desses cabos submarinos passam perto ou diretamente sobre vulcões ativos, regiões impactadas por ciclones tropicais e/ou zonas sísmicas ativas, passíveis de terremotos.

De muitas maneiras, a Austrália também é muito vulnerável (assim como a Nova Zelândia e o resto do mundo), já que estamos conectados à rede global de cabo por um número muito pequeno de pontos de conexão, apenas de Sydney e Perth.

Em relação a Sydney e à costa leste da Austrália, sabemos que grandes deslizamentos de terra subaquáticos ocorreram na costa de Sydney no passado. Eventos futuros podem danificar a parte crítica da rede que se conecta a nós.

Como gerenciar o risco daqui para frente?

Dada a vulnerabilidade da rede revelada pelo vulcão em Tonga, o primeiro passo para mitigar o risco é realizar pesquisas para quantificar e avaliar o risco real para cabos submarinos em locais específicos no fundo do oceano e para diferentes tipos de perigos naturais. Por exemplo, ciclones tropicais (furacões/tufões) ocorrem regularmente, mas outros desastres como terremotos e erupções vulcânicas acontecem com menos frequência.

Atualmente, há poucos dados disponíveis publicamente sobre o risco para a rede global de cabos submarinos. Uma vez que sabemos quais cabos são vulneráveis ​​e a que tipos de perigos, podemos desenvolver planos para reduzir o risco.

Ao mesmo tempo, os governos e as empresas de telecomunicações devem encontrar maneiras de diversificar a maneira como nos comunicamos, como o uso de mais sistemas baseados em satélite e outras tecnologias.

*Dale Dominey-Howes é professor de Ciências de Perigos e Riscos de Desastres, na Universidade de Sydney (Austrália)

The Conversation

The Conversation é uma fonte independente de notícias, opiniões e pesquisas da comunidade acadêmica internacional.

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