#RioéRua – Programa familiar na Lagoa

A árvore de Natal, flutuante e iluminada, da Lagoa: 70 metros de altura e 900 mil lâmpadas (Foto: Oscar Valporto)

Árvore de Natal flutuante atrai pais e filhos, moradores e turistas, em clima de praia noturna ou piquenique na Quinta da Boavista

Por Oscar Valporto | ODS 11 • Publicada em 30 de dezembro de 2019 - 08:00 • Atualizada em 17 de fevereiro de 2020 - 19:48

A árvore de Natal, flutuante e iluminada, da Lagoa: 70 metros de altura e 900 mil lâmpadas (Foto: Oscar Valporto)
Crianças, adolescentes, barraquinhas: programa noturno na Lagoa iluminada pela árvore em clima familiar (Foto: Oscar Valporto)
Crianças, adolescentes, barraquinhas: programa noturno, na Lagoa iluminada pela árvore, em clima familiar (Foto: Oscar Valporto)

Quando voltei a morar no Rio em 2016, após oito anos em Salvador, descobri que o verão carioca ia ficar desfalcado, pela primeira vez em 20 anos, da árvore de Natal flutuante da Lagoa, atração gratuita para moradores e visitantes que juntava gente entre dezembro e o Dia de Reis. Era uma pena porque, no Natal de 2016, já estava em operação a Linha 4 do metrô, que tornava muito mais fácil vir da Zona Norte para a Lagoa. Parecia uma praga pós-olímpica – como a eleição do bispo – e se repetiu no ano seguinte.

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Deste lado da cidade, tem muita gente que reclama da árvore flutuante tornada atração turística: moradores da Zona Sul e, principalmente, os sempre apressados da Barra da Tijuca se queixam do trânsito lento e muitas vezes congestionado em torno da antiga lagoa dos tupinambás, transformada quase em via expressa com as aberturas dos túneis Rebouças e Zuzu Angel. Motoristas desaceleram para ver a árvore iluminada, ambulantes atravessam a pista com suas barraquinhas, carros param para famílias saltarem, criam-se filas nos estacionamentos.
A árvore de Natal, flutuante e iluminada, da Lagoa: 70 metros de altura e 900 mil lâmpadas (Foto: Oscar Valporto)
A árvore de Natal, flutuante e iluminada, da Lagoa: 70 metros de altura e 900 mil lâmpadas (Foto: Oscar Valporto)

É uma observação sem qualquer dado científico mas meu olhar carioca calcula que as estações do metrô em Ipanema – principalmente, mas também em Copacabana (Cantagalo) e Leblon – fizeram aumentar o fluxo em direção à árvore flutuante desde o ano passado. Como sabem os que circulam pela cidade de transporte público, vida de morador da Zona Norte não fica mais fácil no fim de semana de lazer: o número de composições do metrô na Linha 2 é reduzido e a baldeação para a Linha 1 – que vai ao Centro e à Zona Sul – passa a ser em apenas uma estação; a Supervia desativa ramais, aumenta o tempo entre a passagem dos trens, elimina os expressos; os ônibus escasseiam.  Mas, neste Natal de 2019, o sistema de alto-falantes do metrô anuncia, seguidamente, as melhores estações para descer e ver a árvore – da mesma forma, como dá informações detalhadas para quem vai à Passarela do Samba, no Carnaval, ou ao Réveillon de Copacabana.

Barracas de pipoca, churros, cachorro quente, milho, açaí e água de coco à beira do espelho d'água: comércio movimento com crianças como alvo (Foto: Oscar Valporto)
Barracas de pipoca, churros, cachorro quente, milho, açaí e água de coco à beira do espelho d’água: comércio movimento com crianças como alvo (Foto: Oscar Valporto)

O programa Árvore de Natal Iluminada na Lagoa é bem mais família. Pais e avós com filhos e netos dividem espaço com adolescentes de férias, turistas de toda parte, moradores das redondezas. Muitos trazem cangas, toalhas e isopores para fazer um piquenique. Carrocinhas de pipoca, cachorro quente, milho, açaí e churros têm nas crianças os melhores clientes – e elas ainda brincam com bolhas de sabão e balões de gás brilhantes. Pais com mais dinheiro no bolso levam os filhos para passear de pedalinho e chegar mais perto da árvore. Turistas com dólar ficam nos quiosques com vista para a atração. Nos parques do Cantagalo, dos Pedalinhos, das Figueiras e dos Patins, o entorno da Lagoa ganha um clima de praia noturna ou de domingo na Quinta da Boa Vista.

Pedalinhos na água para ficar mais perto, fotos para quem está em terra firme: árvore flutuante é atração desde 1996 (Foto: Oscar Valporto)
Pedalinhos na água para ficar mais perto, fotos para quem está em terra firme: árvore flutuante é atração desde 1996 (Foto: Oscar Valporto)

Sempre tem gente que reclama e não foi diferente agora em 2019: frequentadores habituais se queixam do excesso de lixo e de gente; os motoristas, como de hábito, protestam com os engarrafamentos em época natalina; há aqueles que acham desperdício de dinheiro gastar com atração turística. Mas também tem gente que reclama em Brasília, Teresina, Maricá, Londrina, Goiânia e outras cidades que montaram árvores flutuantes, seguindo o exemplo do Rio, que também inspirou São Paulo a criar sua árvore, hoje atração turística à beira do lago do Parque do Ibirapuera.

Cangas, carrinhos de bebê e bicicletas: acessórios para o programa à beira da Lagoa dos Tupinambás (Foto: Oscar Valporto)
Cangas, carrinhos de bebê e bicicletas: acessórios para o programa à beira da Lagoa dos Tupinambás (Foto: Oscar Valporto)

Neste 2019, a Light, patrocinadora da vez, investiu R$ 11 milhões através de lei de incentivo do governo estadual, que ficou com o resto da conta, anunciada em R$ 13,6 milhões: são 70 metros de altura e 900 mil lâmpadas, menos do que sua marca no Guiness, de 1999, de maior árvore flutuante do mundo com 85 metros e 1,5 milhão de luzes. A nossa falida prefeitura já havia anunciado que, se dependesse dela, teríamos um Natal sem sua iluminada atração. É um dinheiro bem gasto. Carioca – já escrevi aqui, citando um anônimo filósofo da praia – é como barata: não pode fazer calor que saem todos para a rua. E o entorno da lagoa – onde os tupinambás montaram aldeias muito antes do desembarque dos portugueses – é um ótimo lugar para passar os dias quentes do verão.

Oscar Valporto

Oscar Valporto é carioca e jornalista – carioca de mar e bar, de samba e futebol; jornalista, desde 1981, no Jornal do Brasil, O Globo, O Dia, no Governo do Rio, no Viva Rio, no Comitê Olímpico Brasileiro. Voltou ao Rio, em 2016, após oito anos no Correio* (Salvador, Bahia), onde foi editor executivo e editor-chefe. Contribui com o #Colabora desde sua fundação e, desde 2019, é um dos editores do site onde também pública as crônicas #RioéRua, sobre suas andanças pela cidade

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