Quando voltei a morar no Rio em 2016, após oito anos em Salvador, descobri que o verão carioca ia ficar desfalcado, pela primeira vez em 20 anos, da árvore de Natal flutuante da Lagoa, atração gratuita para moradores e visitantes que juntava gente entre dezembro e o Dia de Reis. Era uma pena porque, no Natal de 2016, já estava em operação a Linha 4 do metrô, que tornava muito mais fácil vir da Zona Norte para a Lagoa. Parecia uma praga pós-olímpica – como a eleição do bispo – e se repetiu no ano seguinte.
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Veja o que já enviamosÉ uma observação sem qualquer dado científico mas meu olhar carioca calcula que as estações do metrô em Ipanema – principalmente, mas também em Copacabana (Cantagalo) e Leblon – fizeram aumentar o fluxo em direção à árvore flutuante desde o ano passado. Como sabem os que circulam pela cidade de transporte público, vida de morador da Zona Norte não fica mais fácil no fim de semana de lazer: o número de composições do metrô na Linha 2 é reduzido e a baldeação para a Linha 1 – que vai ao Centro e à Zona Sul – passa a ser em apenas uma estação; a Supervia desativa ramais, aumenta o tempo entre a passagem dos trens, elimina os expressos; os ônibus escasseiam. Mas, neste Natal de 2019, o sistema de alto-falantes do metrô anuncia, seguidamente, as melhores estações para descer e ver a árvore – da mesma forma, como dá informações detalhadas para quem vai à Passarela do Samba, no Carnaval, ou ao Réveillon de Copacabana.
O programa Árvore de Natal Iluminada na Lagoa é bem mais família. Pais e avós com filhos e netos dividem espaço com adolescentes de férias, turistas de toda parte, moradores das redondezas. Muitos trazem cangas, toalhas e isopores para fazer um piquenique. Carrocinhas de pipoca, cachorro quente, milho, açaí e churros têm nas crianças os melhores clientes – e elas ainda brincam com bolhas de sabão e balões de gás brilhantes. Pais com mais dinheiro no bolso levam os filhos para passear de pedalinho e chegar mais perto da árvore. Turistas com dólar ficam nos quiosques com vista para a atração. Nos parques do Cantagalo, dos Pedalinhos, das Figueiras e dos Patins, o entorno da Lagoa ganha um clima de praia noturna ou de domingo na Quinta da Boa Vista.
Sempre tem gente que reclama e não foi diferente agora em 2019: frequentadores habituais se queixam do excesso de lixo e de gente; os motoristas, como de hábito, protestam com os engarrafamentos em época natalina; há aqueles que acham desperdício de dinheiro gastar com atração turística. Mas também tem gente que reclama em Brasília, Teresina, Maricá, Londrina, Goiânia e outras cidades que montaram árvores flutuantes, seguindo o exemplo do Rio, que também inspirou São Paulo a criar sua árvore, hoje atração turística à beira do lago do Parque do Ibirapuera.
Neste 2019, a Light, patrocinadora da vez, investiu R$ 11 milhões através de lei de incentivo do governo estadual, que ficou com o resto da conta, anunciada em R$ 13,6 milhões: são 70 metros de altura e 900 mil lâmpadas, menos do que sua marca no Guiness, de 1999, de maior árvore flutuante do mundo com 85 metros e 1,5 milhão de luzes. A nossa falida prefeitura já havia anunciado que, se dependesse dela, teríamos um Natal sem sua iluminada atração. É um dinheiro bem gasto. Carioca – já escrevi aqui, citando um anônimo filósofo da praia – é como barata: não pode fazer calor que saem todos para a rua. E o entorno da lagoa – onde os tupinambás montaram aldeias muito antes do desembarque dos portugueses – é um ótimo lugar para passar os dias quentes do verão.