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Veja o que já enviamosO termômetro da justiça climática no preço da garrafa de água mineral
Cobrança de R$ 25 pela água no circuito da COP30, em Belém, reforça que não não existe debate global sem justiça local
É quinta-feira, 6 de novembro de 2025. O céu no Rio de Janeiro (ou em qualquer lugar que a vida e o corre me jogaram nesta semana) está… bem, não importa muito, pois a pressão aqui é outra. Mais uma semana, mais um prazo para a coluna na Colabora e, sinceramente, a tela do computador está me encarando de volta, vazia, zombeteira. A famosa “crise da folha em branco” bateu com força, mas o calendário não perdoa.
No entanto, um bom jornalista (e um colunista que se preze) sabe que o Brasil é um poço sem fundo de pautas. Basta parar de encarar o tela branca e olhar para o que realmente move o nosso país. E, nesta semana, o que está em Belém do Pará é impossível de ignorar, ecoando por todos os jornais.


A pauta é nobre e fundamental: a defesa do meio ambiente, a restauração florestal, o futuro do planeta. O presidente Lula discursou e discursará, o Príncipe William apareceu, chefes de Estado debatem sobre a “janela de oportunidade que se fecha”. Mas, enquanto as câmeras focam nos discursos e nos acordos bilionários (como o anúncio de US$ 3 bilhões da Noruega para o Fundo Florestas Tropicais para Sempre), um detalhe me chama a atenção de quem está de olho na rua, no que é palpável.


O colega Teo Cury, em sua coluna, soltou a bomba que ecoa o abismo social que tanto conhecemos: a água mineral em Belém, no circuito da Cúpula, está custando R$ 25 e a coxinha, R$ 45.
Vinte e cinco reais por uma garrafa de água. Quarenta e cinco reais por uma coxinha.
Não se trata apenas de inflação de evento. É o retrato cruel de como a espetacularização dos grandes temas, como o clima, pode conviver lado a lado com a mais escancarada desigualdade social e a exploração econômica.
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Veja o que já enviamosBelém é a vitrine do Brasil que se coloca como líder do “Sul Global”, cobrando ações e recursos dos países desenvolvidos para proteger a Amazônia. Um papel vital. Mas, para quem vive na periferia de Belém ou de qualquer outra capital brasileira, R$ 25 por uma água é mais do que um preço – é uma ofensa e um lembrete amargo de que a “agenda global” muitas vezes chega acompanhada de uma bolha que inflaciona a vida do pobre e o exclui do próprio debate.
A COP30 tem que ser sobre o clima, sim. Mas também tem que ser sobre o povo amazônida, sobre os trabalhadores, os ribeirinhos, os indígenas, sobre a gente que move o Brasil e vê o preço de sua subsistência disparar no mesmo metro quadrado em que se debate o futuro da humanidade.
A geopolítica é importante, as declarações de Lula são cruciais, e a presença de líderes mundiais na Amazônia é histórica. Mas o verdadeiro termômetro da sustentabilidade, da justiça climática e da nossa moral como nação, não está nos discursos, mas sim no preço de uma garrafa d’água e de uma coxinha. Está na capacidade de garantir que, ao sediar o mundo, não expulsemos o nosso povo.
A lição que fica é a de sempre: não existe debate global sem justiça local. O luxo do debate não pode esmagar a necessidade da base. Belém precisa ser o centro do mundo, mas o mundo que chega a Belém precisa se curvar ao preço justo e à dignidade de quem vive ali. Do contrário, seremos apenas um belo cenário para mais uma peça teatral climática.
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