ODS 1
Emprego é tema central do Plano Santa Cruz 2030
Moradores da Zona Oeste do Rio de Janeiro elaboram agenda com metas e propostas sobre como querem viver em 10 anos
Luize Sampaio*
Santa Cruz tem mais de 25 mil jovens fora da escola e sem trabalho, de acordo com o Índice de Progresso Social produzido pelo Instituto Pereira Passos (IPP). O número representa um quarto dos moradores, com idades entre 14 e 29 anos, da região. Além da falta de oportunidades de trabalho, os jovens também sofrem com os altos índices de violência. Entre as cinco Regiões Administrativas da Zona Oeste, Santa Cruz é a que registra a maior taxa de homicídios entre jovens negros. Produtor cultural e articulador local, Pablo Ramoz contou que teve contato com esses dados a partir de um levantamento apresentado pela Casa Fluminense – associação civil com foco em políticas públicas para a Região Metropolitana do Rio. Depois de ver a pesquisa, ele se sentiu encorajado a não ficar mais passivo com a situação. “Comecei a me reunir com moradores e coletivos de todo o território. As discussões foram ganhando corpo e foi desse acúmulo de escuta que surgiu o agenda local de Santa Cruz”, explicou Ramoz.
O Plano Santa Cruz 2030 é a sistematização das metas e propostas que foram discutidas e recolhidas nesses encontros entre moradores, lideranças, organizações locais e representantes de algumas empresas do distrito industrial. O grupo começou, ainda em 2017, a desenhar uma nova possibilidade de futuro para toda a Região Administrativa de Santa Cruz, composta também pelos bairros de Sepetiba e Paciência. Nesta sexta-feira (11/09), o grupo se prepara para lançar a primeira versão do Plano Santa Cruz 2030, que contou também com a parceira das organizações Ser Cidadão, Conselho Britânico e Casa Fluminense. O plano será lançado durante uma transmissão ao vivo na página do Facebook do Santa Cruz 2030 a partir das 10h,
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Veja o que já enviamosO Mapa da Desigualdade 2020 mostrou que mais da metade dos empregos formais da Região Metropolitana do Rio de Janeiro, composta por 22 municípios, se concentram na área central da capital. A publicação aponta também que menos de quinto dos moradores da região vivem no Centro. A agenda local de Santa Cruz quer mudar essa lógica. O plano busca tornar a Região Administrativa, com aproximadamente 400 mil habitantes, uma nova centralidade da metrópole: um espaço de cidadania digna para os moradores e com formação educativa para os jovens disputarem o mercado de trabalho. Atualmente, apenas 8% da juventude da região frequenta o ensino superior.
Para alcançar esse futuro, os organizadores entraram em contato com as empresas que compõem o distrito industrial de Santa Cruz. Segundo o grupo, a indústria tem uma responsabilidade dentro do retrato socioeconômico da região. “Só de impostos o distrito recolhe R$ 200 milhões por ano. Eles lucram muito com a região, por isso estamos apenas pedindo uma contrapartida para esse uso”, afirmou Ramoz. Na agenda local, é cobrado que as indústrias passem a adotar medidas para melhorar o desenvolvimento da região. Entre as reivindicações elaboradas pelo grupo, estão a adoção de políticas de mitigação socioambiental e mais estímulos à formação e contratação de jovens da região. O Plano Santa Cruz 2030 é dividido em quatro temas de propostas que englobam o setor de emprego e renda, saúde, educação e cultura.
Cidadania ativa
Um fio condutor importante para a agenda local de Santa Cruz foi a Casa Ser Cidadão, um dos poucos espaço na região voltados para encontros e eventos culturais. Santa Cruz possui nota 6 de 100 no índice de acesso à cultura, de acordo com os dados do IPP. A Região Administrativa da Barra da Tijuca, também na Zona Oeste do Rio, alcançou 43 pontos na mesma pesquisa. O gerente de programas da Ser Cidadão, Francisco Jorge, contou que a Ser Cidadão tem dificuldades de desempenhar sua maior missão que é a integração dos jovens da área com os bens culturais. “Com a falta de espaços públicos que desempenham esse papel, fomos naturalmente nos tornando um local estratégico para Santa Cruz ”, pontuou Jorge.
O local foi sede de boa parte dos encontros, oficinas e curso antecederam a elaboração do Plano. Além disso, a Ser Cidadão foi uma importante articuladora entre os diferentes atores que participaram do desenvolvimento da agenda. “Nos tornamos um lugar de mediação entre os diálogos da sociedade civil, organizações e atores econômicos do território” explicou o gerente da organização.
O Plano Santa Cruz 2030 foi feito através da metodologia de cidadania ativa, metodologia global aplicada pelo Conselho Britânico – organização internacional que busca criar pontes entre o Reino Unido e outros países. A relação entre eles e o grupo que planejava a agenda começou em 2019 e resultou no Curso Santa Cruz 2030, que, segundo a gerente de projetos e sociedade do conselho, Juliana Guimarães, foi crucial no processo de criação prática da agenda. “O curso nasceu com o objetivo de potencializar a rede de coletivos e organizações de Santa Cruz. O processo foi uma verdadeira imersão”, resumiu.
Juliana contou também que o evento de lançamento será uma celebração que inaugura um novo momento do Plano Santa Cruz 2030. “A agenda é fruto de uma série de acordos. Agora é a hora da gente cobrar o comprometimento de todos com essas metas ”, explicou a gerente do Conselho Britânico. O grupo planeja ainda organizar uma série de encontros online voltados para discutir ações práticas para as metas estabelecidas no plano.
*Casa Fluminense
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A Casa Fluminense é um espaço permanente para a construção coletiva de políticas e ações públicas por um Rio mais justo, democrático e sustentável. Formada em 2013 por ativistas, pesquisadores e cidadãos identificados com a visão de um Rio mais integrado, acredita que a realização deste horizonte passa pela afirmação de uma agenda pública aberta à participação de todos os fluminenses e destinada universalmente a todo o seu território e população e não apenas - ou prioritariamente - para as áreas centrais da capital.