Emprego é tema central do Plano Santa Cruz 2030

Moradores da Zona Oeste do Rio de Janeiro elaboram agenda com metas e propostas sobre como querem viver em 10 anos

Por Casa Fluminense | ODS 11ODS 8 • Publicada em 9 de setembro de 2020 - 08:48 • Atualizada em 18 de novembro de 2020 - 09:09

Reunião para discutir o Plano Santa Cruz 2030: foco em propostas para a geração de emprego e renda na região (Foto: Larissa Amorim)

Luize Sampaio*

Santa Cruz tem mais de 25 mil jovens fora da escola e sem trabalho, de acordo com o Índice de Progresso Social produzido pelo Instituto Pereira Passos (IPP). O número representa um quarto dos moradores, com idades entre 14 e 29 anos, da região. Além da falta de oportunidades de trabalho, os jovens também sofrem com os altos índices de violência. Entre as cinco Regiões Administrativas da Zona Oeste, Santa Cruz é a que registra a maior taxa de homicídios entre jovens negros.  Produtor cultural e articulador local, Pablo Ramoz contou que teve contato com esses dados a partir de um levantamento apresentado pela Casa Fluminense – associação civil com foco em políticas públicas para a Região Metropolitana do Rio. Depois de ver a pesquisa, ele se sentiu encorajado a não ficar mais passivo com a situação. “Comecei a me reunir com moradores e coletivos de todo o território. As discussões foram ganhando corpo e foi desse acúmulo de escuta que surgiu o agenda local de Santa Cruz”, explicou Ramoz.

O Plano Santa Cruz 2030 é a sistematização das metas e propostas que foram discutidas e recolhidas nesses encontros entre moradores, lideranças, organizações locais e representantes de algumas empresas do distrito industrial. O grupo começou, ainda em 2017, a desenhar uma nova possibilidade de futuro para toda a Região Administrativa de Santa Cruz, composta também pelos bairros de Sepetiba e Paciência. Nesta sexta-feira (11/09), o grupo se prepara para lançar a primeira versão do Plano Santa Cruz 2030, que contou também com a parceira das organizações Ser Cidadão, Conselho Britânico e Casa Fluminense. O plano será lançado durante uma transmissão ao vivo na página do Facebook do Santa Cruz 2030 a partir das 10h, 

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O Mapa da Desigualdade 2020 mostrou que mais da metade dos empregos formais da Região Metropolitana do Rio de Janeiro, composta por 22 municípios, se concentram na área central da capital. A publicação aponta também que menos de quinto dos moradores da região vivem no Centro.  A agenda local de Santa Cruz quer mudar essa lógica. O plano busca tornar a Região Administrativa, com aproximadamente 400 mil habitantes, uma nova  centralidade da metrópole: um espaço de cidadania digna para os moradores e com formação educativa para os jovens disputarem o mercado de trabalho. Atualmente, apenas 8% da juventude da região frequenta o ensino superior. 

Para alcançar esse futuro, os organizadores entraram em contato com as empresas que compõem o distrito industrial de Santa Cruz. Segundo o grupo, a indústria tem uma responsabilidade dentro do retrato socioeconômico da região. “Só de impostos o distrito recolhe R$ 200 milhões por ano. Eles lucram muito com a região, por isso estamos apenas pedindo uma contrapartida para esse uso”, afirmou Ramoz. Na agenda local, é cobrado que as indústrias passem a adotar medidas para melhorar o desenvolvimento da região. Entre as reivindicações elaboradas pelo grupo, estão a  adoção de políticas de mitigação socioambiental e mais estímulos à formação e contratação de jovens da região. O Plano Santa Cruz 2030 é dividido em quatro temas de propostas que englobam o setor de emprego e renda, saúde, educação e cultura.

Debate em Santa Cruz para a construção da agenda local: além de emprego, prioridades para saúde, educação e cultura (Foto: Larissa Amorim)
Debate em Santa Cruz para a construção da agenda local: além de emprego, prioridades para saúde, educação e cultura (Foto: Larissa Amorim)

Cidadania ativa

Um fio condutor importante para a agenda local de Santa Cruz foi a Casa Ser Cidadão, um dos poucos espaço na região voltados para encontros e eventos culturais. Santa Cruz possui nota 6 de 100 no índice de acesso à cultura, de acordo com os dados do IPP. A Região Administrativa da Barra da Tijuca, também na Zona Oeste do Rio, alcançou 43 pontos na mesma pesquisa. O gerente de programas da Ser Cidadão, Francisco Jorge, contou que a Ser Cidadão tem dificuldades de desempenhar sua maior missão que é a integração dos jovens da área com os bens culturais. “Com a falta de espaços públicos que desempenham esse papel, fomos naturalmente nos tornando um local estratégico para Santa Cruz ”, pontuou Jorge. 

O local foi sede de boa parte dos encontros, oficinas e curso antecederam a elaboração do Plano.  Além disso, a Ser Cidadão foi uma importante articuladora entre os diferentes atores que participaram do desenvolvimento da agenda. “Nos tornamos um lugar de mediação entre os diálogos da sociedade civil, organizações e atores econômicos do território” explicou o gerente da organização. 

O Plano Santa Cruz 2030 foi feito através da metodologia de cidadania ativa, metodologia global aplicada pelo Conselho Britânico – organização internacional que busca criar pontes entre o Reino Unido e outros países. A relação entre eles e o grupo que planejava a agenda começou em 2019 e resultou no Curso Santa Cruz 2030, que, segundo a gerente de projetos e sociedade do conselho, Juliana Guimarães, foi crucial no processo de criação prática da agenda. “O curso nasceu com o objetivo de potencializar a rede de coletivos e organizações de Santa Cruz. O processo foi uma verdadeira imersão”, resumiu. 

Juliana contou também que o evento de lançamento será uma celebração que inaugura um novo momento do Plano Santa Cruz 2030.  “A agenda é fruto de uma série de acordos. Agora é a hora da gente cobrar o comprometimento de todos com essas metas ”, explicou a gerente do Conselho Britânico. O grupo planeja ainda organizar uma série de encontros online voltados para discutir ações práticas para as metas estabelecidas no plano.

*Casa Fluminense

Casa Fluminense

A Casa Fluminense é um espaço permanente para a construção coletiva de políticas e ações públicas por um Rio mais justo, democrático e sustentável. Formada em 2013 por ativistas, pesquisadores e cidadãos identificados com a visão de um Rio mais integrado, acredita que a realização deste horizonte passa pela afirmação de uma agenda pública aberta à participação de todos os fluminenses e destinada universalmente a todo o seu território e população e não apenas - ou prioritariamente - para as áreas centrais da capital.

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