“Uma economia diferente, que faz viver e não mata, inclui e não exclui, humaniza e não desumaniza, cuida da Criação e não a depreda. Um evento que nos ajude a estar juntos e nos conhecer”, escreveu o Papa na carta-convite para a “Economia de Francisco”, encontro que reunirá, em Assis, na Itália, em novembro, jovens do mundo inteiro, não só católicos, mas de todos os credos, para fundar um novo pacto econômico global. A maior comitiva estrangeira é a brasileira, com 280 participantes, formada, em sua maioria, por representantes da periferia, como o coordenador do movimento, Edu Brasileiro, de 28 anos, morador de Itaquera, Zona Leste de São Paulo: “Assis não nos pautará, nós é que vamos pautar Assis. Temos como missão levar os ecos das periferias que morrem. Vamos com a gana de disputar as narrativas econômicas, pois esse tema virou assunto de elite”.
O mineiro Alan Andrade, mestre em Direito pela PUC-SP, ousa dizer que a “Economia de Francisco” vai transformar paradigmas sociais, pelo protagonismo que abre a setores invisibilizados: “É um movimento da periferia para o centro, não o contrário. O dinheiro já não tem a última palavra na vida dos jovens. O Brasil se mobilizou, não Brasília; o debate pode ajudar a mobilizar o país, sendo conforto e norte em um momento de tanto sofrimento por causa da pandemia”.
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Para Daiane Zito, de 31 anos, formada em Relações Públicas e moradora do bairro Jardim Elisa Maria, extremo norte da capital paulista, o encontro será uma oportunidade de partilhar as experiências de solidariedade que ela vivencia. “Há pouco tempo achei uma fotografia em que eu, bebê, e outras crianças estávamos em um cercadinho, enquanto as nossas mães capinavam um quintal para fazer uma horta solidária. Sempre vivi na partilha, na divisão. Criamos uma tecnologia de resistência, o aquilombamento”, afirma Dai, cuja viagem será viabilizada por uma campanha de arrecadação virtual dos R$ 6.900 que calcula necessitar: “Isso já me fez entrar no espírito do encontro. A rede de solidariedade me surpreendeu. Uma senhora que não me conhecia entrou em contato para fazer um depósito, por acreditar nos meus ideais. E uma amiga, que não tinha dinheiro, me deu um casaco para eu não passar frio na Itália”.
Edu Brasileiro, de 28 anos: “Assis não nos pautará, nós é que vamos pautar Assis”. Foto Arquivo Pessoal
Segundo Brasileiro, essa é a tônica das propostas brasileiras a serem apresentadas: “Devemos difundir os saberes do bem-viver, herdados dos povos ameríndios, que eram centrados na coletividade, e tinham a partilha como manifestação espiritual. Essas sociedades têm experiência na linha do desenvolvimento sustentável”.
Gustavo Nagib, de 34 anos, doutorando de geografia na USP, com pesquisa sobre agricultura alternativa, acredita que o modo de produção das hortas comunitárias devem servir de inspiração para a nova economia, em lugar da mentalidade produtivista: “O modelo econômico atual destrói a natureza, o tempo e a vida, nos impedindo de sonhar. Horta comunitária é uma expressão, sua finalidade está na agregação, no encontro, na produção de novas territorialidades, na ocupação de espaços abandonados”.
“Há muitos da ou na periferia que fizeram opção pelos pobres, pela construção de um mundo menos desigual, mais justo, onde seja possível realizar a utopia eucarística de ‘partilhar os bens da Terra e os frutos do trabalho humano’. E é com eles que devemos contar, tanto na Igreja como na sociedade”
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Os 280 participantes brasileiros – a maioria católicos, mas também de religiões de matriz africana, protestantes ou sem religião – se inscreveram no site do encontro e foram selecionados por uma banca de especialistas em economia e ciências sociais. Mariana Cassiano, professora de matemática e moradora de Nilópolis, Baixada Fluminense, foi escolhida pela defesa de engajamento social e visibilidade a pessoas em situação de rua, como aquelas às quais se dedica. A jovem afirma que levará para Assis o grito dos que moram nas ruas e nunca são ouvidos: “Há uma visão assistencialista, pois quando se questiona a pobreza as pessoas se afastam. Não é fácil. É preciso dar voz às minorias. Por isso, penso Assis não como um fim, mas como um meio. Muitas mentalidades precisam ser transformadas”.
Gustavo Nagib, geógrafo: “O modelo econômico atual destrói a natureza”. Foto Arquivo Pessoal
Para o teólogo Frei Betto, assessor de movimentos sociais e autor de livros como “O diabo na corte – Uma leitura crítica do Brasil atual”, essas pessoas podem inspirar toda a sociedade: “Há muitos da ou na periferia que fizeram opção pelos pobres, pela construção de um mundo menos desigual, mais justo, onde seja possível realizar a utopia eucarística de ‘partilhar os bens da Terra e os frutos do trabalho humano’. E é com eles que devemos contar, tanto na Igreja quanto na sociedade”. Frei Betto louva a iniciativa do Papa: “Francisco sabe que o futuro depende dos jovens. Por isso priorizou, como participantes do evento, gente com menos de 35 anos, aberta a um futuro melhor, com mais esperança em uma sociedade sem desigualdades gritantes”.
Mariana Cassiano, de Nilópolis: É preciso dar voz às minorias”. Foto Arquivo Pessoal
O grupo brasileiro vem se reunindo desde o ano passado para aprofundar a análise da conjuntura nacional. O objetivo dos encontros é preparar melhor os participantes para que eles sejam os mais propositivos possíveis. Juntos, eles motivarão a sociedade para uma nova economia inspirada em São Francisco de Assis, santo católico que viveu em harmonia com a natureza e buscou a satisfação no essencial. O grupo nacional ficou conhecido por “Articulação Brasileira da Economia de Francisco e Clara”, numa referência a Santa Cara, discípula de São Francisco. Pois, segundo Brasileiro, a feminilidade é imprescindível nesse processo: “sem Clara, não tem um novo sistema econômico, pois a mulher representa a partilha, o cuidado e o afeto; a mulher não é subalterna como diz a economia capitalista e patriarcal”.
O encontro está sendo preparado com a participação ativa de especialistas renomados, entre os quais Amartya Sen e Joseph Stiglitz, ganhadores do Prêmio Nobel de Economia de 1998 e 2001, respectivamente; e Muhammad Yunus, Nobel da Paz de 2006. Em videoconferência com integrantes do movimento Economia de Francisco em 20 países, em dezembro de 2910, Stiglitz reforçou que os avanços de produção são meios para manutenção da sociedade: “É necessário aprofundar as discussões sobre questões sociais e as mudanças geradas pela globalização nas sociedades, bem como pensar em ideias concretas sobre o que devemos fazer para a tecnologia e os mercados servirem à humanidade, e não o contrário”.
Os participantes vão trabalhar divididos em 12 aldeias temáticas, e ao fim do encontro vão elaborar um documento único, a ser distribuído aos chefes de Estado e à sociedade, convocando todas as nações a um novo pacto global mais justo e solidário, inclusivo.
Jornalista pela PUC-Rio, é carioca do bairro de Campo Grande. Tem interesse por pautas sobre racismo, diversidade, desenvolvimento sustentável e inclusão social. Acredita que uma boa história pode transformar vidas, e considera o jornalismo uma ferramenta importante na defesa e promoção da democracia e dos direitos humanos. Ama cinema, MPB e conversa de bar.
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