Imagens e poesia do meu mundo

Uma das muitas belas imagens da Oficina Lúdica de Fotografia, nas margens do São Francisco. Foto Robert Ferreira

Nas margens do São Francisco, oficina de fotografia revela visões de jovens sobre o lugar onde vivem

Por André Teixeira | FotogaleriaODS 4 • Publicada em 6 de setembro de 2017 - 17:32 • Atualizada em 9 de setembro de 2017 - 13:45

Uma das muitas belas imagens da Oficina Lúdica de Fotografia, nas margens do São Francisco. Foto Robert Ferreira
Uma das muitas belas imagens da Oficina Lúdica de Fotografia, nas margens do São Francisco. Foto Robert Ferreira
Uma das muitas belas imagens da Oficina Lúdica de Fotografia, nas margens do São Francisco. Foto Robert Ferreira

Uma vez por ano, entre agosto e setembro, a rotina de algumas cidades à beira do Rio São Francisco é rompida pela chegada da equipe do Cinema no Rio, que desde 2005 promove sessões gratuitas de cinema nacional ao ar livre para os ribeirinhos. Entre as atrações exibidas no telão inflável, uma das mais celebradas é a projeção de fotos feitas pelos participantes da Oficina Lúdica de Fotografia, promovida pelo projeto com alunos da rede pública local. O objetivo, mais do que passar noções básicas de fotografia, enquadramento e uso da luz natural, é, segundo Inácio Neves, um dos idealizadores, “estimular o olhar dos participantes sobre sua própria cidade, valorizando o ambiente onde vivem”.

A oficina foi um excelente aprendizado para mim. São poucas as oportunidades como esta por aqui, além de pouco divulgadas. Foi bom não só para quem participou, mas também para quem viu as fotos que fizemos e pôde ver a cidade bonita em que moramos e que quase sempre não reparamos

A estrutura da Oficina é simples. Durante uma hora, os monitores passam as primeiras noções, mostrando fotografias de autores consagrados e discutindo sobre as que mais chamam a atenção da turma. Depois, é hora da prática: em duplas, com câmeras compactas, eles saem pelas ruas registrando o casario antigo, o rio, praças, o cotidiano da cidade – imagens que normalmente passam despercebidas para eles. De volta à sala de aula, os monitores comentam as fotos e ajudam os garotos a escolher três imagens, que mais tarde são exibidas no telão, antes dos filmes. “A oficina é uma oportunidade de interação entre o projeto e a comunidade. A ideia é tentar que eles vejam seu mundo com mais poesia”, diz André Fossati, um dos monitores.

A Oficina é realizada desde 2013. Nos anos anteriores, o projeto fazia com os alunos um trabalho com brinquedos ópticos. No total, cerca de 16 mil crianças já participaram das oficinas ao longo destes 12 anos, de acordo com Neves. “A partir de 2016, abrimos também para o público de terceira idade, num esforço de inclusão do idoso ao projeto”, acrescenta.

A receptividade entre os participantes é muito boa. “A oficina foi um excelente aprendizado para mim. São poucas as oportunidades como esta por aqui, além de pouco divulgadas. Foi bom não só para quem participou, mas também para quem viu as fotos que fizemos e pôde ver a cidade bonita em que moramos e que quase sempre não reparamos”, comenta Karla Nunes, que terminou o ensino médio e agora sonha em estudar cinema.

A imagem poética do dia-a-dia que a rotina muitas vezes deixa escapar. Foto Géssica Lorrane
A imagem poética do dia-a-dia que a rotina muitas vezes deixa escapar. Foto Géssica Lorrane

Convidado a analisar as fotos produzidas pelos alunos, Mauro Trindade, professor, curador e integrante do Departamento de Teoria e História da Arte da UERJ, surpreendeu-se com o que viu. “A importância socioeducativa das aulas de fotografia para alunos do ensino público já é bastante conhecida. A surpresa é encontrar trabalhos de qualidade técnica e sensibilidade, capazes de realizar enquadramentos inusitados, composições elaboradas e controle de foco e luz, que fazem dessas imagens uma cartografia emocional de seus territórios e uma revelação de suas potências artísticas”, analisa.

André Teixeira

Formado em Jornalismo pela UFRJ, começou a carreira como estagiário de O Globo, em 1990. Dois anos depois, passou a trabalhar como free-lancer para empresas como Sebrae, Petrobras, Coca-Cola e Unisys. Em 98, voltou ao Globo, como repórter-fotográfico, e, em 2011, passou a atuar como editor assistente de fotografia. Atualmente escreve e fotografa.

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