Uma vez por ano, entre agosto e setembro, a rotina de algumas cidades à beira do Rio São Francisco é rompida pela chegada da equipe do Cinema no Rio, que desde 2005 promove sessões gratuitas de cinema nacional ao ar livre para os ribeirinhos. Entre as atrações exibidas no telão inflável, uma das mais celebradas é a projeção de fotos feitas pelos participantes da Oficina Lúdica de Fotografia, promovida pelo projeto com alunos da rede pública local. O objetivo, mais do que passar noções básicas de fotografia, enquadramento e uso da luz natural, é, segundo Inácio Neves, um dos idealizadores, “estimular o olhar dos participantes sobre sua própria cidade, valorizando o ambiente onde vivem”.
[g1_quote author_name=”Karla Nunes” author_description=”Estudante” author_description_format=”%link%” align=”left” size=”s” style=”simple” template=”01″]A oficina foi um excelente aprendizado para mim. São poucas as oportunidades como esta por aqui, além de pouco divulgadas. Foi bom não só para quem participou, mas também para quem viu as fotos que fizemos e pôde ver a cidade bonita em que moramos e que quase sempre não reparamos
[/g1_quote]A estrutura da Oficina é simples. Durante uma hora, os monitores passam as primeiras noções, mostrando fotografias de autores consagrados e discutindo sobre as que mais chamam a atenção da turma. Depois, é hora da prática: em duplas, com câmeras compactas, eles saem pelas ruas registrando o casario antigo, o rio, praças, o cotidiano da cidade – imagens que normalmente passam despercebidas para eles. De volta à sala de aula, os monitores comentam as fotos e ajudam os garotos a escolher três imagens, que mais tarde são exibidas no telão, antes dos filmes. “A oficina é uma oportunidade de interação entre o projeto e a comunidade. A ideia é tentar que eles vejam seu mundo com mais poesia”, diz André Fossati, um dos monitores.
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Veja o que já enviamosA Oficina é realizada desde 2013. Nos anos anteriores, o projeto fazia com os alunos um trabalho com brinquedos ópticos. No total, cerca de 16 mil crianças já participaram das oficinas ao longo destes 12 anos, de acordo com Neves. “A partir de 2016, abrimos também para o público de terceira idade, num esforço de inclusão do idoso ao projeto”, acrescenta.
A receptividade entre os participantes é muito boa. “A oficina foi um excelente aprendizado para mim. São poucas as oportunidades como esta por aqui, além de pouco divulgadas. Foi bom não só para quem participou, mas também para quem viu as fotos que fizemos e pôde ver a cidade bonita em que moramos e que quase sempre não reparamos”, comenta Karla Nunes, que terminou o ensino médio e agora sonha em estudar cinema.
Convidado a analisar as fotos produzidas pelos alunos, Mauro Trindade, professor, curador e integrante do Departamento de Teoria e História da Arte da UERJ, surpreendeu-se com o que viu. “A importância socioeducativa das aulas de fotografia para alunos do ensino público já é bastante conhecida. A surpresa é encontrar trabalhos de qualidade técnica e sensibilidade, capazes de realizar enquadramentos inusitados, composições elaboradas e controle de foco e luz, que fazem dessas imagens uma cartografia emocional de seus territórios e uma revelação de suas potências artísticas”, analisa.