Da descarbonização à década da eletrificação

Parque Eólico no Piauí: comunidades do Nordeste propõem salvaguardas para conter impacto de usinas (Foto: Divulgação / Enel)

O combate às mudanças climáticas passa pela redução do uso dos combustíveis fósseis e investimento em outras fontes de energia, como hídrica, eólica e solar

Por Amelia Gonzalez | Conteúdo de marca • Publicada em 24 de novembro de 2022 - 08:42 • Atualizada em 19 de abril de 2023 - 09:39

Parque Eólico no Piauí: comunidades do Nordeste propõem salvaguardas para conter impacto de usinas (Foto: Divulgação / Enel)

Mil dias foi o tempo dedicado pelos líderes de 21 países para escreverem um relatório voltado a todos os cidadãos e cidadãs do mundo. O ano era 1987. Sob o título “Nosso Futuro Comum”, este estudo foi organizado por uma mulher, Gro Brundtland, então primeira-ministra da Noruega, e trouxe importantes alertas. No documento foi criada a expressão “desenvolvimento sustentável”, hoje universalmente conhecida.

“A sustentabilidade requer uma ênfase maior na conservação e no uso eficiente de energia”, preveniam os líderes no estudo, também chamado “Relatório Brundtland”.

Vinte anos depois, em 2007, já sem o cargo de primeira-ministra, Gro Brundtland veio ao Brasil. Em entrevista ao jornal “O Globo”, ela enfatizou a necessidade de se utilizar o termo sustentabilidade como originalmente fora  descrito no estudo que ajudou a criar. E elencou o maior desafio que o mundo terá que enfrentar para conter as mudanças climáticas: o uso consciente da energia.

“É preciso procurar soluções balanceadas que minimizem o impacto ao meio ambiente”, disse ela.

Mais quinze anos nos separam desse momento, e o mundo segue enfrentando o desafio de reduzir os impactos que nossa produção e consumo causam ao meio ambiente.

Não à toa, porém, em “Nosso Futuro Comum”, a tecnologia é chamada de “vínculo chave entre os seres humanos e a natureza”. Pois é com o estímulo à busca de tecnologias que nos garantam fontes  de energia não poluentes que se pretende alcançar a meta de manter o aquecimento global a 1.5 graus Celsius até o fim do século, acordo assinado em Paris, em 2015, pelas Nações Unidas.

Vivemos atualmente a década da eletrificação, um momento crucial para o desafio de frear o aquecimento. Eletrificar consiste em substituir tecnologias que ainda funcionam baseados em combustíveis fósseis  — como veículos a gasolina e o aquecimento e refrigeração a gás natural, por exemplo — por alternativas que funcionam com eletricidade, como veículos elétricos e bombas de calor.  A meta é obter o máximo possível de nosso consumo de energia conectado à rede elétrica, sem esquecer que a origem desta energia seja 100% renovável. 

Ligar, em vez de acender.

cronologia energia limpa
Arte: Fernando Alvarus

Trilham este caminho os agentes que se comprometem com a transição energética de forma responsável. A meta é acelerar a descarbonização, tarefa mais do que necessária, já que no Brasil, segundo um estudo realizado pelo Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa do Observatório do Clima (SEEG) e lançado no dia 1 de novembro deste ano, as  emissões de gases de efeito estufa tiveram sua maior alta em quase duas décadas no ano passado. Foi um aumento de 12,2% em relação a 2020 (2,16 bilhões de toneladas). 

Estamos vivendo a década da eletrificação. Aqui no Brasil somos privilegiados nesse sentido, porque cerca de 80% de nossa matriz já é limpa

Marcia Massotti
Diretora de Sustentabilidade da Enel Brasil

Para muitas empresas que geram e fornecem energia, esta é uma oportunidade para acelerar uma resposta positiva, ou seja, a eletrificação.

 Neste sentido, o Grupo Enel se coloca como parte da solução. Atualmente, 100% da energia gerada pela empresa no Brasil vêm de fontes renováveis, principalmente eólica e solar. A única térmica a gás que a empresa tinha em seu portfólio no país foi vendida, como parte de um compromisso global da companhia que resultou na antecipação em dez anos, de 2050 para 2040, da meta do Grupo de zerar emissões diretas e indiretas no mundo.

“Estamos vivendo a década da eletrificação. Aqui no Brasil somos privilegiados nesse sentido, porque cerca de 80% de nossa matriz já é limpa. Vivemos uma década de muito investimento em descarbonização, o que ainda continua porque o mundo tem desafios maiores do que o nosso. Mas agora a eletrificação  se juntou ao esforço da descarbonização. Uma super oportunidade. Afinal, estamos vendo o futuro do aumento do consumo de energia como um todo,  consequência do aumento da produção industrial e do aumento demográfico”, afirma Marcia Massotti, diretora de sustentabilidade da Enel Brasil.

Eletrificação no transporte e na indústria

Massotti acrescenta que a eletrificação vai ajudar setores que ainda são fortes emissores de gases poluentes, como o de transporte e o industrial. Com a tecnologia, será possível diminuir a demanda por combustíveis fósseis e aumentar o consumo por energia elétrica, garantindo que a fonte dessa energia seja, de fato, limpa.

“A eletrificação vai nos ajudar a crescer como sociedade de forma sustentável. Não podemos continuar com o desenvolvimento baseado na emissão de gases poluentes, sobretudo com a população crescendo a cada dia. É preciso reduzir essas emissões. Intensificando a eletrificação emitimos menos, porque trocamos uma fonte de energia suja, que é o combustível fóssil, por uma elétrica . Seguimos empenhados na Enel em expandir as fontes limpas de energia e buscar novas tecnologia e soluções que diversifiquem ainda mais este portfólio, seja com hidrogênio verde, seja com baterias, na medida em que a regulamentação avançar no Brasil e as tecnologias amadurecerem”, destaca Massotti.

O momento da virada

No jogo de xadrez, Zugzwang é uma jogada que significa um movimento obrigatório, mesmo em um cenário de dificuldades. E determina: é a sua vez de jogar. Este princípio norteia o documentário de 2005, “Zugzwang”, de Duto Sperry, sobre o uso da energia globalmente. O pano de fundo das reflexões dos diversos especialistas entrevistados no filme é o tremendo desafio que a humanidade tem em mãos: caminhar para estilos de vida e de desenvolvimento “que sejam menos gulosos em termos de energia”, como lembra o ecosocioeconomista Ignacy Sachs no documentário que pode ser visto aqui.

Nesta mesma linha de pensamento, o ambientalista e biólogo norte-americano Thomas Lovejoy (morto no ano passado), lembra no documentário que é essencial a criação de novas matrizes energéticas.

“Pelo uso de combustíveis fósseis e também pela destruição de florestas tropicais, estamos transformando o clima na Terra em algo hostil à vida na Terra e à vida humana”.

Não será a primeira vez que a humanidade se vê diante de obstáculos, como não será inédito o fato de conseguirmos nos livrar deles. É só lembrar que no início dos tempos foi preciso dominar o fogo antes de descobrirmos outras formas de energia. Em outro documentário relevante para o tema, “Nosso Planeta, Nosso Legado”, o fotógrafo e ambientalista Yann Arthus-Bertrand lembra que, depois do fogo, os humanos descobriram que os animais poderiam ser uma força a auxiliar seu desenvolvimento:

“Era ousado cavalgar. Com essa união de energias o homem adquire uma nova liberdade que atravessa todas as fronteiras, começando por aquela entre o possível e o impossível. Eles se espalham pelo planeta. A conquista do mundo não poderia ter acontecido sem a força desses animais e o destino da humanidade teria sido diferente”, diz Arthus-Bertrand, no documentário.

Benefícios além dos ambientais

Um estudo recente realizado pela Enel em parceria com a Deloitte, chamado “Caminhos para a transição energética no Brasil”, mostrou que acelerar a descarbonização e a eletrificação no Brasil trará benefícios que vão muito além dos ambientais. Haverá impactos econômicos e sociais significativos. 

“Neste estudo, foram propostos diferentes cenários. No cenário em que o Brasil acelera a transição energética e atinge zero emissões em 2050, o país teria um saldo estimado de oito milhões de novos postos de trabalho por conta da transição energética. Mas não vamos alcançar este objetivo sem o envolvimento de todos os setores produtivos e sem avanços regulatórios e medidas governamentais que ajudem a acelerar esta transformação”, prevê Massotti.

Evolução da economia

Entra em cena o conceito de economia circular, que faz parte do empenho da Enel de liderar uma transição energética justa. E isto vai além de reciclar e reutilizar seus equipamentos. Para contribuir, por exemplo, com a geração de novos empregos e com qualificação de mão de obra atrelada a seus investimentos em geração limpa, a empresa possui, por exemplo, o projeto Enel Compartilha, em que capacita mulheres no setor elétrico. 

 “Na região do parque eólico Lagoa dos Ventos, no Piauí, que é o maior parque eólico da América Latina, geramos mais de sete mil empregos diretos, o que obviamente contribui para gerar um desenvolvimento no território porque estamos gerando oportunidade, renda e impostos. E, como incluímos mulheres nessa força de trabalho, também estamos impulsionando a diversidade. De fato é algo que está sendo transformador no sentido da transição justa”, lembra a diretora de Sustentabilidade da Enel.

E a transformação do território não se resume ao período de obras. Com foco no futuro, a Enel pratica a escuta ativa, priorizando as demandas da comunidade, para deixar um legado de desenvolvimento social e econômico, explica Massotti: 

“Queremos deixar um ambiente próspero quando terminarmos a construção. Só em Lagoa dos Ventos foram mais de dez cursos em várias atividades, até em carpintaria, para ampliar as oportunidades de ingresso no mercado de trabalho. A Enel não quer ser a única provedora de empregos. A ideia é que outras indústrias se interessem pela região e que existam profissionais qualificados naquele território para atender a várias demandas.”

Nada mais condizente com o conceito de desenvolvimento sustentável impresso pelos líderes que escreveram “Nosso Futuro Comum”. Um dos trechos do relatório deixa claro essa perspectiva:

“A satisfação das necessidades e aspirações humanas é um objetivo tão óbvio da atividade produtiva que pode parecer redundante falar de seu papel central no conceito de desenvolvimento sustentável”.

Sim, é a nossa vez de jogar.

Amelia Gonzalez

Jornalista, durante nove anos editou o caderno Razão Social, encartado no jornal O Globo, que atualizava temas ligados ao desenvolvimento sustentável. Entre 2013 e 2020 foi colunista do G1, sobre o mesmo tema. Atualmente mantém o Blog Ser Sustentável, onde as questões relacionadas ao meio ambiente, ao social e à governança são tratadas sempre com ajuda de autores especialistas.

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