O amor nos tempos do corona

Jovem casal em escada rolante em Hong King: amor em tempos de pandemia (Vivek Prakash / AFP)

Como a pandemia de Covid-19 está afetando a dinâmica do flerte online

Por Marina Cohen | Artigo • Publicada em 18 de março de 2020 - 17:03 • Atualizada em 19 de setembro de 2020 - 12:24

Jovem casal em escada rolante em Hong King: amor em tempos de pandemia (Vivek Prakash / AFP)

Pode parecer insensibilidade ou falta de noção, mas o dever de jornalista me força a reportar o óbvio: o coronavírus tá tendo saída no flerte online.

Assim como os memes e os canais de streaming, alimentar um crush é uma atividade que tem ajudado a aliviar o estresse e a paranoia desses dias quase tão escatológicos quanto o romance de Gabriel García Márquez.

Aquele app que para as Ferminas e Florentinos cansados já estava criando poeira no HD do smartphone de repente ganhou uma sarrada do espanador e entrou pra jogo novamente. Afinal, há pouca coisa melhor na vida privada do sofá do que adquirir novos crushes.

Antes de seguir com as observações sobre a vida amorosa dos millennials, deixo claro que não há cenário em que a pandemia da doença Covid-19 seja vantajosa ou desejada. Ela pode ser fatal para alguns grupos de risco, como idosos, pessoas com hipertensão ou diabetes, e nenhum efeito dessa crise é motivo para celebração.

Estabelecido isso, é preciso reconhecer que a grande sacada desse momento histórico é entregar de bandeja um assunto tão fácil de agradar. É como um gerador instantâneo de conversa fiada. E essa quarentena como vai?. Alguma dica do que assistir no streaming?. Qual a primeira coisa que você vai fazer quando a quarentena acabar?. As possibilidades de papo mole são infinitas.

O gancho para passar para a próxima fase do encontro também está dada. Pô, vamos tomar um chope antes que os bares fechem, lança o malandro. Vem aqui pra casa que é mais seguro que na rua, sugerem as mais espertas.

Mas há quem prefira curtir um amor platônico por algumas semanas e ficar imaginando o frio na barriga do tão aguardado primeiro encontro. Concretizar, aliás, fica em segundo plano. O que importa é projetar.

E qual a etiqueta quando se chega na casa do contatinho? Sacar o álcool gel da bolsa pode assustar? Ou é sinal de lucidez? De repente é melhor propor uma lavagem de mãos em dupla, aí dá pra conferir se o boy não esqueceu nenhum cantinho. Esfregou entre os dedos, anjo?”.

Mas nem tudo que reluz (no WhastApp) é flerte. Para não deixar de ver a família e os amigos, fica combinado assim: nos encontramos numa praça, a céu aberto, 1,5 metro de distância um do outro. Checamos a carinha de cada um, se o aspecto é de saúde, se o sorriso ainda é o mesmo. Berramos algumas frases carinhosas, controlando o volume de perdigotos, e voltamos para casa.

Nos tempos do coronavírus, o amor não é secundário, mas vem com uma boa dose de prevenção e álcool gel.

Marina Cohen

Jornalista formada pela PUC-Rio. Trabalhou no jornal O Globo, no Jornal do Brasil, no site I Hate Flash e na revista Vizoo. Hoje, escreve para o Projeto#Colabora. É uma carioca louca pelo universo jovem, por observar as tendências da web, e por histórias contadas e protagonizadas por mulheres.

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