Pode parecer insensibilidade ou falta de noção, mas o dever de jornalista me força a reportar o óbvio: o coronavírus “tá tendo saída” no flerte online.
Assim como os memes e os canais de streaming, alimentar um crush é uma atividade que tem ajudado a aliviar o estresse e a paranoia desses dias quase tão escatológicos quanto o romance de Gabriel García Márquez.
Aquele app que para as Ferminas e Florentinos cansados já estava criando poeira no HD do smartphone de repente ganhou uma sarrada do espanador e entrou pra jogo novamente. Afinal, há pouca coisa melhor na vida privada do sofá do que adquirir novos crushes.
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Veja o que já enviamosEstabelecido isso, é preciso reconhecer que a grande sacada desse momento histórico é entregar de bandeja um assunto tão fácil de agradar. É como um gerador instantâneo de conversa fiada. “E essa quarentena como vai?”. “Alguma dica do que assistir no streaming?”. “Qual a primeira coisa que você vai fazer quando a quarentena acabar?”. As possibilidades de papo mole são infinitas.
O gancho para passar para a próxima fase do encontro também está dada. “Pô, vamos tomar um chope antes que os bares fechem”, lança o malandro. “Vem aqui pra casa que é mais seguro que na rua”, sugerem as mais espertas.
Mas há quem prefira curtir um amor platônico por algumas semanas e ficar imaginando o frio na barriga do tão aguardado primeiro encontro. Concretizar, aliás, fica em segundo plano. O que importa é projetar.
E qual a etiqueta quando se chega na casa do contatinho? Sacar o álcool gel da bolsa pode assustar? Ou é sinal de lucidez? De repente é melhor propor uma lavagem de mãos em dupla, aí dá pra conferir se o boy não esqueceu nenhum cantinho. “Esfregou entre os dedos, anjo?”.
Mas nem tudo que reluz (no WhastApp) é flerte. Para não deixar de ver a família e os amigos, fica combinado assim: nos encontramos numa praça, a céu aberto, 1,5 metro de distância um do outro. Checamos a carinha de cada um, se o aspecto é de saúde, se o sorriso ainda é o mesmo. Berramos algumas frases carinhosas, controlando o volume de perdigotos, e voltamos para casa.
Nos tempos do coronavírus, o amor não é secundário, mas vem com uma boa dose de prevenção e álcool gel.