Concentração de gases com efeito de estufa bate recorde. De novo

Relatório de agência da ONU aponta que o mundo está fora da rota para atingir a meta do Acordo de Paris de limitar o aquecimento global a bem abaixo de 2°C

Por #Colabora | ODS 13 • Publicada em 29 de outubro de 2024 - 10:21 • Atualizada em 30 de outubro de 2024 - 10:21

Usina de carvão em Xangai, China: energia a carvão é uma vilã da emissão de gases de efeito estufa (Johannes Esbele/AFP)

As concentrações de gases de efeito de estufa na atmosfera atingiram novos recordes em 2023, o que “condena o planeta a muitos anos de aumento das temperaturas”, alertou a Organização Meteorológica Mundial (OMM) ao divulgar seu Boletim Anual de Gases de Efeito Estufa, lançado pela entidade na 2ª feira (28/10). Os níveis dos três principais gases com efeito de estufa que contribuem para o aquecimento global — dióxido de carbono (CO2), metano (CH4) e óxido nitroso (N2O) — voltaram a aumentar no ano passado.

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A agência da ONU constatou que o CO2 está se acumulando mais rapidamente do que nunca na atmosfera, com um aumento de mais de 10% em duas décadas: o dióxido de carbono contribui para 64% do aquecimento global e provém principalmente da queima de combustíveis fósseis. “Mais um ano. Mais um recorde. Isto deveria fazer soar o alarme entre os tomadores de decisões políticas. Estamos claramente atrasados em relação ao objetivo estabelecido no Acordo de Paris sobre o Clima de 2015″, afirmou a secretária-geral da OMM, a meteorologista argentina Celeste Saulo, durante a apresentação do relatório.

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Em 2015, no Acordo de Paris, os países concordaram em limitar o aquecimento global a menos de 2°C acima dos níveis pré-industriais, e até a 1,5°C, se possível. No entanto, os pesquisadores mostram uma realidade oposta. Em 2023, as temperaturas globais em terra e no mar já foram “as mais elevadas de que há registo”, com os níveis de dióxido de carbono a registarem um aumento de 151% em relação aos níveis pré-industriais, ou seja, antes de 1750.

Foram também medidas 1.934 partes por mil milhões de metano e 336,9 partes por mil milhões de óxido nitroso, os outros dois gases responsáveis pelo aquecimento global, com níveis que representam um aumento de 265% e 125%, respetivamente, em relação à era pré-industrial. Enquanto as emissões continuarem, os gases com efeito de estufa vão continuar se acumulando na atmosfera, aumentando as temperaturas, lamenta a OMM, que divulga o seu relatório duas semanas antes do começo da próxima conferência das Nações Unidas sobre o clima (COP29), que vai ser realizada entre 11 e 22 de novembro em Baku, no Azerbaijão.

A organização alerta que o aquecimento pode desencadear retroalimentações climáticas que são “preocupações críticas” para a sociedade, como incêndios florestais mais intensos, que liberam mais carbono – as queimadas no Pantanal e na Amazônia são exemplos recentes. “Esses números são mais do que simples estatísticas. Cada parte por milhão e cada fração de aumento na temperatura tem um impacto real em nossas vidas e em nosso planeta”, destacou Celeste Paulo.

O relatório reitera que a última vez que a Terra teve uma concentração de dióxido de carbono comparável à atual foi entre três e cinco milhões de anos atrás, quando a temperatura era dois a três graus mais quente e o nível do mar era 10 a 20 centímetros mais alto do que é hoje.

A agência meteorológica da ONU adverte que, mesmo que as emissões fossem rapidamente reduzidas a zero (ou seja, atenuadas por fenómenos de absorção como as florestas), seriam necessárias décadas para o clima da Terra voltar reduzir os níveis atuais de temperatura, devido à longa permanência do CO2 na atmosfera. “Os incêndios florestais podem libertar mais emissões de carbono para a atmosfera, enquanto o aumento da temperatura dos oceanos pode reduzir a sua capacidade de absorção de CO2, o que pode levar a uma maior acumulação de CO2 na atmosfera e acelerar o aquecimento global”, afirmou a cientista norte-americana Ko Barrett, secretária-geral adjunta da OMM.

Países não cumprem compromissos assumidos

O relatório serve como complemento para o relatório divulgado pelo Pnuma (Programa da ONU para o Meio Ambiente) na quinta-feira (24/10), que mede as emissões anuais de GEE. No caso da OMM, o foco é quanto dessas emissões permanecem concentradas na atmosfera. O Relatório de Lacunas para as Emissões 2024 (EGR, na sigla em inglês para Emissions Gap Report), lançado anualmente, mostrou que as emissões de gases de efeito segue aumentando, mesmo que em ritmo mais lento do que em 2015.

Segundo o estudo do Pnuma, as metas climáticas atualmente assumidas pelos países (NDCs) levariam – se cumpridas – a um aquecimento de 2,6ºC a 2,8ºC. As políticas atualmente implementadas, entretanto, nos colocam no trilho de um aquecimento “catastrófico”, de 3,1ºC até o final deste século, nas palavras de António Guterres, secretário-geral da ONU, na abertura do evento que lançou o relatório.

“A próxima Conferência do Clima da ONU, a COP29, aciona o relógio para que os países entreguem novos planos climáticos nacionais, ou NDCs [Contribuições Nacionalmente Determinadas, a meta de cada país para o Acordo de Paris], até o próximo ano. Os governos concordaram em alinhar esses planos à meta de 1,5ºC, o que significa que devem reduzir todas as emissões de gases de efeito estufa , em toda a economia e estimulando progressos em todos os setores”, afirmou Guterres na ocasião.

#Colabora

Texto produzido pelos jornalistas da redação do #Colabora, um portal de notícias independente que aposta numa visão de sustentabilidade muito além do meio ambiente.

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