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Chuvas no Sul: resgate de animais mobilizam bombeiros e voluntários
Mais de sete mil pets, principalmente cães, já foram salvos; bois, porcos e galinhas também foram atingidos pelas enchentes no Rio Grande do Sul
O desastre climático no Rio Grande do Sul não afeta apenas os seres humanos – até o fim desta terça (07/05), eram 95 mortos, 131 desaparecidos e mais de 200 mil desalojados ou desabrigados – mas também uma legião de animais: de pets, cães e gatos domésticos, a galinhas, bois, vacas, porcos, ovelhas e outros criados em sítios e fazendas do interior. Pelo menos sete mil animais domésticos, principalmente cães, foram resgatados por forças públicas e por voluntários durante as chuvas no Sul.
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De acordo com balanço divulgado na segunda-feira (06/05), 5.432 animais já haviam sido resgatados pelas equipes estaduais – Corpo de Bombeiros, Defesa Civil, Brigada Militar e Polícia Civil – nos municípios gaúchos. “É muito animal na pontinha do telhado, é muito animal preso na janela, é muito animal, que está nadando incansavelmente”, escreveu, numa rede social, Carla Sássi, coordenadora do Grupo de Resposta a Animais em Desastre (Grad Brasil).
A ONG explicou que já realocou mais de 200 animais resgatados na Região Metropolitana de Porto Alegre, principalmente nos municípios de Esteio e São Sebastião do Caí. Carla Sássi acrescentou que a organização precisa de um barco com motor para ampliar os salvamentos, já que a correnteza é forte. “Os pedidos por resgates não param de chegar, mas muitas áreas continuam inacessíveis. Precisamos aumentar nossa equipe a campo e estamos solicitando apoio de embarcações a motor para salvar o maior número de animais possível”, afirmou Carla à Agência Brasil.
Ainda na Região Metropolitana de Porto Alegre, a ex-esgrimista Deise Falsi, que disputou os Jogos Pan-Americanos do Rio e hoje é ativista da causa ambiental, comanda um grupo de voluntários que já resgatou mais de 100 animais desde o fim da semana passada. Ela postou um vídeo do resgate de uma mulher, Sandra, que ficou 40 horas sobre o telhado da casa porque recusou-se a ser resgatada sem seus pets: ela é tutora de 27 gatos e seis caes. “Estou com todos os gatinhos internados… Muitos caíram na água e estavam muito ariscos e assustados. Foi um resgate mega difícil”, escreveu Deise em seu perfil no Instagram.
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Veja o que já enviamosEm Porto Alegre e na vizinha Canoas, há dezenas de animais ainda ilhados à espera de resgate. “Não tem como não se emocionar quando as pessoas chegam até nós implorando pelo salvamento de seus animais de estimação, incluindo desde cães e gatos até galinhas e coelhos. Elas chegam até nós suplicando pelo salvamento. Nos seguram e arrastam, para que façamos o resgate de maneira urgente. É desesperador”, contou a médica veterinária catarinense Aracelli Hammann, que atendeu a um chamado da Defesa Civil Nacional e está em Canoas, atuando ao lado do Grad Brasil no resgate de animais.
No ano de 2023, a especialista em resgate de animais já atuou na grande inundação que atingiu diversos municípios gaúchos nos meses de julho e setembro. “Quando chegamos aqui no ano passado encontramos um cenário de guerra. Eu jamais imaginaria voltar e encontrar uma situação muito pior. Uma verdadeira tragédia. A média de salvamento é em torno de 100 animais ao dia. Eles chegam em péssimas condições de saúde, hipotérmicos e famintos. Após os primeiros socorros, os encaminhamos para um abrigo temporário”, contou a veterinária ao NSC Total.
Voluntários também estão mobilizados em municípios do interior para resgatar os animais domésticos durante as chuvas. Em Campo Bom, na região do Vale dos Sinos, que fica ao norte de Porto Alegre no sentido de Caxias do Sul, voluntários calculam já ter resgatado mais de 200 cães. Fundadora da ONG Campo Bom para Cachorro, Kayanne Braga disse que a entidade está com dificuldade de atender as necessidades. “Boa parte desses animais tem a triagem realizada no ginásio municipal, com um acampamento que a gente levantou de última hora também”, contou Kayanne à CNN, lembrando que a ONG retirou de casas alagadas animais que estavam amarrados nos fundos dos imóveis.
Em Santa Cruz do Sul. no Vale do Rio Pardo, voluntários estão completando uma semana de trabalho de resgate dos animais. “Famílias resgatadas já desciam do bote dos bombeiros chorando e pedindo ajuda: ‘por favor, volta e pega meu cachorro, pega meu gato, eu não consegui trazer’. Porque tem casas que tinham cinco, seis animais”, contou a vereadora Bruna Molz também à CNN.
Bruna também relatou o caso de uma senhora idosa que se recusou a sair de casa porque o bote dos bombeiros não tinha lugar para seus pets: ela só foi resgatada quando pode levar seus cachorros e dois gatos. “Muitas pessoas não queriam sair devido aos animais de estimação”, disse a vereadora de Santa Cruz do Sul, lembrando que os pets foram abrigado no pavilhão da Oktoberfest do município. “Em geral, as equipes de voluntários trabalham com doações. Os animais precisam de rações, água, medicamentos e veterinários voluntários. Toda vida importa, ninguém merece ficar para trás”, acrescentou Bruna Molz.
Em Esteio, no Vale dos Sinos, Carla Ebert, proprietária de um pet shop e de uma creche de animais, contou à Agência Brasil que recepcionou, apenas no fim de semana, mais de 50 animais deixados para trás nas enchentes. Ela relata que pessoas comuns estão resgatando os animais ilhados e levando para um abrigo cedido pela prefeitura. “É muito animal. É uma coisa absurda. A gente vai ver quando baixar a água, a gente nem está preparado para isso, devido aos que morreram. É muito triste”, lamentou Carla. “A gente se organizou como pode e as pessoas foram levando os animais”, completou.
No interior do estado, criações de animais foram atingidas pelas chuvas. Em Roca Sales, no Vale do Taquari, produtor rural gravou vídeo mostrando dezenas de porcos mortos após o recuo da água das chuvas que inundaram o município nos últimos dias. Animais foram encontrados cobertos de lama à beira de uma estrada rural. Há também relatos de bois arrastados pela enchente nos vales dos rios Pardo e Taquari: “é impossível calcular a perda dos rebanhos”, disse o produtor rural Henrique Aqui à RBS. Na enchente de setembro de 2023, quando 54 pessoas morreram no Rio Grande do Sul, a Emater calculou que a passagem do ciclone extratropical provocou a morte de 29.356 animais, entre bois, vacas, suínos e aves.
Texto produzido pelos jornalistas da redação do #Colabora, um portal de notícias independente que aposta numa visão de sustentabilidade muito além do meio ambiente.