ODS 1
Que tal dormir num sofá? De graça
Rede de hospedagem gratuita mobiliza 10 milhões de pessoas por ano em 180 países
Há quem ache desconfortável se hospedar em um quarto na casa de desconhecidos durante as férias. Ou mesmo alugar um apartamento de um estranho com móveis e objetos pessoais do dono. Mas essas modalidades de hospedagem alternativa fizeram a fortuna do Airbnb, uma das empresas mais bem-sucedidas da economia colaborativa, hoje avaliada em US$ 25 bilhões. “Surfar em um sofá” em outra cidade, outro país, é um esporte mais radical. Fundado em São Francisco em 2004, antes do Airbnb, criado na mesma cidade em 2008, o Couchsurfing.com é um site onde se procura alguém que possa emprestar um sofá ou algo assim para você passar alguns dias. Ou então você oferece o seu sofá. Não há dinheiro envolvido.
Uma década depois de sua criação, cerca de dez milhões de pessoas por ano se hospedam na casa de 400.000 anfitriões distribuídos por 180 países. No Irã, por exemplo, há 20 mil pessoas cadastradas. Até em Port-au-Prince, no Haiti, há anfitriões. Toda a experiência é baseada na troca de conhecimento, na interação cultural. E, claro, na confiança mútua.
Inovador na sua origem, o Couchsurfing.com atualmente é uma rede social que ainda procura o caminho para se transformar em uma empresa lucrativa na nova economia. Estranhos são “amigos que você ainda não conhece” e “couchsurfers dividem suas vidas com as pessoas que eles encontram, promovendo o intercâmbio cultural e o respeito mútuo”, diz o site oficial.
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[/g1_quote]Uma pesquisa realizada pelo World Travel Monitor, considerado o principal estudo sobre o comportamento do turismo global, mostra que menos jovens europeus estão viajando desde 2007. Uma das causas seria a baixa taxa de natalidade, já que o número de turistas mais velhos está aumentando. Mas ainda assim o surfe de sofás cresceu em 2014 (e o aluguel de apartamentos também). A pesquisa foi apresentada no primeiro semestre de 2015 pela ITB Berlin, a maior feira mundial da indústria do turismo.
Bruna Talarico e Felipe Carneiro experimentaram o Airbnb pela primeira vez em outubro deste ano. O casal de jornalistas brasileiros está à frente do projeto Gente Extraordinária, que pretende mostrar como as pessoas buscam a felicidade em diferentes partes do mundo e apresentar novos pontos de vista sobre a realidade. Agora em dezembro eles embarcam para a Oceania, onde vão passar cinco meses fazendo uma série de entrevistas. Antes disso, estiverem na Califórnia para comprar equipamentos (além de textos, Gente Extraordinária terá ensaios fotográficos e vídeos). Parte do projeto foi financiado por uma campanha no Catarse, e todas as entrevistas, fotos e vídeos estarão disponíveis gratuitamente nas redes sociais. Na viagem de preparação, o Couchsurfing.com foi o meio de hospedagem escolhido.
“Por conta do projeto Gente Extraordinária, precisamos viajar com mais pontos de contato com a cultura e a população local. Decidimos então testar logo o Couchsurfing.com. Nossa experiência foi a mais surpreendente possível. Criamos viagens públicas, que eram ‘avisos’ de que estaríamos em determinada cidade por determinado período, explicando nosso projeto jornalístico. Todas as nossas hospedagens pelo CouchSurfing.com foram originadas em convites de usuários, com exceção de uma noite que pedimos meio que de urgência a um morador de Newport Beach, e ele nos recebeu com o coração aberto”, conta Bruna.
Graças ao Couchsurfing.com, o casal acabou tendo a oportunidade de conhecer lugares fora de roteiros tradicionais de viagem. Em Monterey, por exemplo, os dois dormiram em uma das antigas fábricas que enlatavam sardinhas na Cannery Row, em um quarto com vista para o famoso aquário local à beira-mar, onde os anfitriões trabalhavam. A vista é a mesma dos hóspedes do hotel vizinho, o InterContinental, com diárias a partir de US$ 300.
Mas não existe hospedagem grátis com vista panorâmica para o Oceano Pacífico. Bruna ressalta que é preciso um tempo para entender como funciona a casa e se adequar à rotina dos anfitriões, além de manter tudo o mais organizado possível. Outro ponto negativo, principalmente em uma viagem mais longa, é ter que ficar pulando de sofá em sofá.
“Ainda assim vale muito a pena”, diz Bruna. “É muito diferente do quarto de um hotel, onde você acaba construindo seu mundinho. E também não é como alugar um quarto ou um apartamento pelo Airbnb, quando se estabelece uma relação comercial e você se comporta mais ou menos como se estivesse em um hotel. Com o Couchsurfing, você entra na rotina do anfitrião, e ele acaba sendo seu local friend. Na Califórnia saímos com nossos anfitriões”.
Durante os cinco meses em que Bruna e Felipe vão viajar pela Oceania fazendo entrevistas para o projeto Gente Extraordinária, o Couchsurging será um dos meios de hospedagem, principalmente na Austrália e na Nova Zelândia, ainda que não o único. Na volta para o Brasil, quando estiver novamente uma casa, Bruna diz que será sua vez de retribuir a gentileza dos californianos e do pessoal da Oceania, e oferecer o seu sofá para estranhos.
Jornalista formada pela Universidade Federal Fluminense (UFF), trabalhou por mais de 25 anos na redação do jornal O Globo nas áreas de Comportamento, Cultura, Educação e Turismo. Editou a revista e o site Boa Viagem O Globo por mais de uma década. Anda pelo Brasil e pelo mundo em busca de boas histórias desde sempre. Especializada em Turismo, tem vários prêmios no setor e é colunista do portal Panrotas. Desde 2015 escreve como freelance para diversas publicações, entre elas o #Colabora e O Globo. É carioca e gosta de dias nublados. Ama viajar. Está no Instagram em @CarlaLencastre
Eu viajei uma vez para a Austrália e não vejo a hora de retornar. O único problema de lá é que dá uma vontade imensa de ficar por lá mesmo, rsrs