ODS 1
ONU: duração e frequência de secas aumentaram 29% desde 2000
Conferência sobre Desertificação aponta que crise climática, degradação dos solos e desmatamento vem provocando estiagens intensas e prolongadas
Relatório da Convenção da ONU para Combate à Desertificação (UNCCD) alerta que a humanidade enfrenta secas cada vez mais severas e prolongadas por causa das mudanças climáticas e da degradação dos solos e que e as nações precisam tomar medidas urgentes para reduzir esta ameaça num momento de crescente demanda global por alimentos. “Estamos em uma encruzilhada, no topo de um divisor de águas, onde precisamos ganhar uma nova percepção e consciência. Precisamos nos direcionar para soluções em vez de continuar com ações destrutivas, acreditando que mudanças marginais pode curar um fracasso sistêmico”, escreve Ibrahim Thiaw, secretário-executivo da UNCCD, na apresentação do documento, lançado durante a Conferência da ONU sobre Desertificação (COP15), que está sendo realizada em Abidjan, na Costa do Marfim.
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Os números são alarmantes. Desde 2000, o número e a frequência de eventos de estiagem e seca ao redor do mundo aumentaram 29%. De 1970 a 2019, os riscos climáticos e hídricos foram responsáveis por 50% dos desastres naturais e 45% das mortes relacionadas a desastres, principalmente em países em desenvolvimento. As secas representaram 15% dos desastres naturais desse período, mas causaram o maior número de mortes (aproximadamente 650 mil). As perdas econômicas foram calculadas em US$ 124 bilhões entre 1998 e 2017.
De acordo com o relatório da UNCDD, pelo menos 2,3 bilhões de pessoas – cerca de um quarto da população global – enfrenta, hoje estresse hídrico; entre elas, há quase 160 milhões de crianças expostas a secas severas e prolongadas. “Os fatos e os números deste relatório apontam todos na mesma direção: uma trajetória ascendente na duração das secas e na gravidade dos impactos, afetando não apenas as sociedades humanas, mas também os sistemas ecológicos dos quais depende a sobrevivência de toda a vida, incluindo a de nossa espécie”, destacou Thiaw, no lançamento do relatório Seca em Números, realizado nesta quarta (11/05) e transmitido pelos canais da ONU.
O relatório alerta para os impactos na produção de alimentos: “secas mais longas e mais severas correm o risco de reduzir o rendimento das colheitas, matar o gado e reduzir o abastecimento de água”. A UNCDD acrescenta que este processo vai transformar florestas e pastagens em verdadeiras caixas de fósforo, deixando essas áreas prontas “para incêndios florestais mortais do tipo sofrido nos últimos anos por Austrália, Brasil, Califórnia, Indonésia e Sibéria”.
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Veja o que já enviamosO documento da Convenção da ONU para Combate à Desertificação também alerta para os impactos no ecossistemas. “Durante as duas primeiras décadas do século 21, a Amazônia experimentou 3 secas generalizadas, todas as quais desencadearam grandes incêndios florestais. Os eventos de seca estão se tornando cada vez mais comuns na região amazônica devido ao uso da terra e às mudanças climáticas, que estão interligados”, alertam os pesquisadores da UNCDD responsáveis pelo relatório. “Se o desmatamento da Amazônia continuar inabalável, 16% das florestas remanescentes da região provavelmente queimarão até 2050”, acrescentam.
A ONU mostra os impactos em outras regiões do mundo: mais de 1,4 bilhão de pessoas foram afetadas pela seca de 2000 a 2019. A África sofreu com a seca com mais frequência do que qualquer outro continente, com 134 secas intensas e prolongadas, das quais 70 ocorreram na África Oriental. Como resultado da chamada Seca do Milênio na Austrália, a produtividade agrícola do país caiu 18% de 2002 a 2010. Nos EUA, as quebras de safra e outras perdas econômicas devido às secas totalizaram centenas de bilhões de dólares ao longo do século passado – somente US$ 249 bilhões de 1980 a 2019. Atualmente, uma média de 15% da área terrestre e 17% da população da União Europeia é afetada todos os anos pela seca.
O relatório sustenta ainda que cerca de 700 milhões de pessoas estarão sob risco de deixar suas casas e migrar para outras áreas por conta da seca, até o final desta década, caso não hajam mais ações efetivas para reduzir as emissões de gases de efeito estufa, combater o desmatamento, restaurar ecossistemas e recuperar solos degradados. “Nós devemos lidar com a seca com urgência, usando todas as ferramentas que pudermos. Uma das melhores e mais abrangentes maneiras de fazer isso é por meio da restauração de terras, que aborda muitos dos fatores subjacentes à degradação da água. ciclos e a perda da fertilidade do solo. Devemos construir e reconstruir melhor nossas paisagens, imitando a natureza sempre que possível e criando sistemas sustentáveis”, afirmou o secretário-executivo da UNCCD.
Ibrahim Thiaw alertou, contudo, que a restauração de florestas e solos não é suficiente. “Precisamos proteger e administrar as terras por meio de melhores práticas de consumo e produção. Pelo lado da agricultura, isso significa técnicas de gestão sustentáveis e eficientes que cultivem mais alimentos em menos terra e com menos água. Do lado do consumo, significa mudar nossas relações com alimentos, forragens e fibras, passando para dietas baseadas em vegetais, reduzindo ou interrompendo o consumo de animais”, acrescentou.
Oscar Valporto é carioca e jornalista – carioca de mar e bar, de samba e futebol; jornalista, desde 1981, no Jornal do Brasil, O Globo, O Dia, no Governo do Rio, no Viva Rio, no Comitê Olímpico Brasileiro. Voltou ao Rio, em 2016, após oito anos no Correio* (Salvador, Bahia), onde foi editor executivo e editor-chefe. Contribui com o #Colabora desde sua fundação e, desde 2019, é um dos editores do site onde também pública as crônicas #RioéRua, sobre suas andanças pela cidade