ODS 1
Esporte com fins educativos ajuda a driblar dificuldades
Fundação Gol de Letra
Os nomes dos projetos da Fundação Gol de Letra fazem referência ao futebol. E Victor de Sousa Silva Teixeira, de 14 anos, e Matheus Alexandre Ferreira, de 15 anos, também fazem metáforas futebolísticas para explicar como a entidade tem ajudado a transformar suas vidas. Eles participam das atividades desenvolvidas na unidade do Caju, na Zona Portuária do Rio.
– Aqui a gente dribla as dificuldades. Desde que comecei, perdi a timidez, pois eu era uma pessoa fechada. Agora é mais fácil fazer amizades. Também passei a estudar e aprender mais – disse Matheus, que frequenta as aulas de esporte e letramento há um ano e meio.
Para Victor, passar o contraturno escolar na sede da Gol de Letra tem ampliado o horizonte dele, nascido e criado na comunidade do Caju.
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Veja o que já enviamos– Nunca imaginei que iria para São Paulo conhecer outros garotos do projeto de lá. Ter essa experiência foi muito legal, mostra que a gente pode ir para qualquer lugar se a fizer a coisa certa – afirmou Victor.
Criada pelos ex-jogadores de futebol Raí e Leonardo, a organização não-governamental (ONG) funciona há 16 anos, mas está no Caju há uma década. O local no Rio de Janeiro foi escolhido com uma motivação especial: tem cerca de 25 mil moradores encravados entre um complexo de cemitérios e os galpões das empresas que atuam no porto.
O Caju é um dos bairros mais pobres do Rio de Janeiro. É mais conhecido pelos cemitérios que abriga e carrega os aspectos negativos de ficar na Zona Portuária, com tráfego intenso de carretas, engarrafamentos e poluição. Além de não ter sido incluído no projeto Porto Maravilha, que pretende repaginar a região.
Sentada na biblioteca da entidade – inaugurada em 2008 pelo escritor Ziraldo e que por muitos anos foi a única do bairro – a diretora executiva Beatriz Pantaleão conta que o projeto conseguiu se inserir na realidade local e, aos poucos, tenta modificá-la.
[g1_quote author_name=”Beatriz Pantaleão” author_description=”coordenador do Gol de Letra” author_description_format=”%link%” align=”left” size=”s” style=”simple” template=”01″]Temos uma grande lista de espera. Então mantemos o espaço aberto para quem não conseguiu uma vaga. Assim, todos sentem parte da fundação. Manter um projeto social é um desafio diário. Dizer não para uma criança é frustrante. E aumentar o atendimento nem sempre é possível
[/g1_quote]Hoje, a Gol de Letra atende 2.100 pessoas em suas atividades no Rio de Janeiro e em São Paulo. Tratam-se de crianças e adultos de 6 a 30 anos em práticas socioeducativas voltadas ao aprendizado, convivência e multiplicação de saberes para um público que vive em comunidades socialmente vulneráveis. Em 2001, a Fundação Gol de Letra foi reconhecida pela Unesco como instituição modelo.
Comprometimento
Uma das dificuldades da fundação é atuar em uma comunidade onde o tráfico de drogas está presente. Para Beatriz Pantaleão, a competição é desleal, pois o comércio ilegal de entorpecentes seduz os jovens pelos resultados financeiros imediatos. Na história da entidade, alguns jovens do projeto foram perdidos para as facções criminosas, mas a quantidade que se manteve na sala de aula e conseguiu uma profissão é bem maior. A comunidade conta com uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) desde abril de 2013.
Ter sucesso nesse desafio exige comprometimento. E, de acordo com a diretora executiva, o compromisso dos profissionais precisa ser reforçado sempre. Por isso, ela argumenta que os contratos dos trabalhadores da entidade têm de ser via CLT. Entre professores e trabalhadores da área administrativa e serviços gerais, são 46 funcionários na unidade do Caju.
– Nós lidamos com crianças que vêm de uma realidade complicada. E elas acabam criando vínculo conosco, nos chamam de tia, pegam afeto. Nossa responsabilidade torna-se ainda maior quando a gente pensa nesse contexto. Então o contrato na carteira de trabalho deixa esse compromisso mais forte – explica.
No começo, a entidade mantinha seu quadro de funcionários com o fundo institucional que foi criado, para atender uma exigência da legislação brasileira. Para a criação, os ex-jogadores Raí e Leonardo colocaram a mão no bolso. Depois de 15 anos de existência, esses valores já foram usados.
Atualmente, os professores e outros profissionais são pagos, sobretudo, com recursos obtidos por meio de contribuições de empresas e das leis de incentivo, embora também receba dinheiro de pessoas físicas. No ano passado, o orçamento total foi de R$ 10 milhões, sendo que 41% veio de empresas, institutos e fundações parceiros, de acordo com o relatório anual que a entidade mantém em sua página na internet.
Clones do projeto
A princípio Raí e Leonardo acreditavam que o projeto estaria em todos os estados brasileiros à essa altura, 15 anos depois da criação. Mas hoje as intenções mudaram. A ideia agora é disseminar a metodologia de trabalho.
Com apoio da Adidas, a Fundação Gol de Letra está levando sua fórmula de atuação para Porto Alegre, Belo Horizonte, Salvador, São Paulo, Brasília, para os municípios goianos de Barro Alto e Niquelândia, e para o Morro dos Prazeres, em Santa Tereza, no Rio de Janeiro.
[g1_quote author_name=”Beatriz Pantaleão” author_description=”diretora da Fundação Gol de Letra” author_description_format=”%link%” align=”left” size=”s” style=”simple” template=”01″]A gente traz outras instituições para conhecer nossa sede, assistir as reuniões que fazemos com a comunidade, ensinamos nosso método, treinamos e explicamos como criar projeto para captar recursos. Depois vamos sair de cena e deixar os projetos caminharem com as próprias pernas
[/g1_quote]Enquanto isso, a sede do Caju passa por uma ampliação. Um novo prédio está em construção para receber cursos de capacitação profissional, entre eles um de logística e um de design de modas, escolhidos pela própria comunidade. O primeiro vai ajudar os moradores a conseguirem uma colocação no mercado de trabalho da Zona Portuária e o último amplia as chances de empregabilidade no polo de confecções de São Cristóvão, que fica próximo.
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Formado em jornalismo pela Universidade Federal de Goiás. Trabalhou nos jornais "Diário da Manhã", "O Hoje" e "O Popular", de Goiânia. Desde 2014 está Rio, onde trabalhou no Portal UPP e, atualmente, no "Extra".