As cinco ameaças do clima para a saúde das crianças

Até 2030, aquecimento global poderá provocar a morte, por desnutrição, de 95 mil meninos e meninas de até 5 anos

Por José Eduardo Mendonça | ODS 13ODS 3 • Publicada em 29 de junho de 2018 - 08:48 • Atualizada em 3 de julho de 2018 - 22:51

Em Bangladesh, a jovem Salma coleta água para abastecer a família. As doenças de veiculação hídrica estão entre as principais causas de mortalidade infantil. Foto Mushfiqul Alam/NurPhoto
Em Bangladesh, a jovem Salma coleta água para abastecer a família. As doenças de veiculação hídrica estão entre as principais causas de mortalidade infantil. Foto Mushfiqul Alam/NurPhoto
Em Bangladesh, a jovem Salma coleta água para abastecer a família. As doenças de veiculação hídrica estão entre as principais causas de mortalidade infantil. Foto Mushfiqul Alam/NurPhoto

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), em trabalho publicado em maio deste ano, mais de 88% das doenças atribuíveis às mudanças do clima ocorrem em crianças com menos de 5 anos de idade.

Eventos extremos do tempo ameaçam diretamente as crianças, por ferimentos e mortes. A frequência e intensidade deles têm registrado aumentos, devido ao desflorestamento, à degradação urbana, à urbanização e à intensificação das variáveis do clima.

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Crianças sofrem mais porque passam mais tempo fora de casa. São mais vulneráveis aos aumentos na poluição porque seus pulmões ainda estão se desenvolvendo. Ficar fora de casa também as torna mais suscetíveis a insetos que portam infecções

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Entre 2000 e 2009 aconteceram o triplo destes fenômenos em relação ao período de 1980 a 1989. Há uma chance superior a 90% de que ao final do século as temperaturas médias de verão tenham ultrapassado as maiores já registradas em muitas regiões do planeta.

Isto é parte de um quadro complexo e assustador. O clima influencia o comportamento, desenvolvimento e mortalidade de uma extensa gama de organismos vivos, alguns dos quais têm o potencial de causar infecção pediátrica. Mas é difícil determinar estes efeitos, pela contribuição de desenvolvimento econômico e uso do solo, alteração de ecossistemas e comércio mundial.

O aumento da demanda de água irá afetar a disponibilidade e o custo dos alimentos, especialmente onde a desnutrição infantil já é alarmante. A diminuição da quantidade de proteínas, ferro e zinco de muitos alimentos terão implicações significativas para a nutrição infantil.

Crianças estão ainda ameaçadas pelos efeitos do clima em um contexto social mais amplo, atingidas pela elevação do nível do mar e diminuição da biodiversidade, da viabilidade econômica da agricultura, turismo e das condições de sobrevivência de comunidades indígenas. Não menos perigosas serão as consequências da escassez de água, migrações em massa, instabilidade política global e conflitos em potencial por todo o mundo.

A crescente urbanização e o trabalho infantil estão entre as ameaças. Foto Mohammad Ponir Hossain/NurPhoto
A crescente urbanização e o trabalho infantil estão entre as ameaças. Foto Mohammad Ponir Hossain/NurPhoto

Até 2030, a mudança do clima poderá levar à morte 95 mil crianças por desnutrição. As mortes por diarreia chegariam a 48 mil. Isto mostra uma reversão dos ganhos de todos os esforços de redução da mortalidade infantil nos últimos 25 anos. O estudo da OMS cita pesquisa da Emory University School of Medicine, nos EUA, segundo a qual as mortes por diarreia, malária e deficiências nutricionais entre crianças de menos de cinco anos responderam por 38%, 65% e 48% dos óbitos mundiais em 2015, respectivamente.

Mona Sarfaty, diretora do programa de clima e saúde da George Emory University, nos EUA, diz que os dados do estudo são confiáveis, e já bem conhecidos da comunidade pediátrica: “Crianças sofrem mais porque passam mais tempo fora de casa. São mais vulneráveis aos aumentos na poluição porque seus pulmões ainda estão se desenvolvendo. Ficar fora de casa também as torna mais suscetíveis a insetos que portam infecções”. A médica não sugeriu deixá-las trancafiadas, mas pede urgência em programas de mitigação de tais danos.

“Muitos dos estudos relacionados ao tema são muito amplos e genéricos e tendem a examinar mais as populações adultas. Não acho que foquem nos impactos específicos para as crianças, e precisamos de mais pesquisas nessa área. Precisamos de mais esforços para tratarmos da questão”, afirma ela.

Resumindo, o aumento global de temperaturas está causando mudanças físicas, químicas e ecológicas no planeta. A mudança do clima traz ameaças à saúde humana, e as crianças são especialmente vulneráveis. Com base em vários destes estudos, as cinco grandes ameaças das mudanças climáticas para a saúde das crianças são:

1 – Sequelas físicas e psicológicas provocadas por desastres do tempo, como enchentes, secas e inundações.

2 – Aumento do estresse por conta do calor.

3 – Piora da qualidade do ar.

4 – Padrões de alterações de doenças no caso de infecções sensíveis ao clima.

5 – Insegurança alimentar e de nutrientes em regiões mais vulneráveis.

José Eduardo Mendonça

Jornalista com passagens por publicações como Exame, Gazeta Mercantil, Folha de S. Paulo. Criador da revista Bizz e do suplemento Folha Informática. Foi pioneiro ao fazer, para o Jornal da Tarde, em 1976, uma série de reportagens sobre energia limpa. Nos últimos anos vem se dedicando aos temas ligados à sustentabilidade.

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