Não é com eles correr atrás. Correndo à frente de qualquer prejuízo ao meio ambiente, os organizadores do circuito Indomit – marca criada pela produtora de eventos esportivos Bombinhas Adventure Runners com o objetivo de oferecer experiências únicas em provas trail running (fora do asfalto) – tomaram uma série de medidas para não deixar rastros de sujeira nas trilhas por onde passam seus atletas, seja em Bombinhas (Santa Catarina), São Bento do Sapucaí (São Paulo) ou mesmo em Mendoza (Argentina) e em Isla Margarita (Venezuela). Além disso, também abrem caminho para que as cidades em que promovem suas corridas possam ganhar com os eventos, sempre planejados para acontecer em baixa temporada, atraindo um público que lota hotéis e restaurantes, gerando trabalho para a população local.
[g1_quote author_name=”Item 15.6 do regulamento da prova” author_description_format=”%link%” align=”left” size=”s” style=”simple” template=”01″]Será penalizado o atleta que jogar resíduos no chão durante o percurso. (…) Será causa de desclassificação o corredor que for flagrado jogando lixo fora dos locais habilitados para tal fim
[/g1_quote]“Este ano a gente teve quase 600 inscritos. Se cada um trouxe um acompanhante, já seriam 1200 pessoas na cidade. Só que São Bento tem 700 leitos. Então, quantos tiveram que dormir em outra cidade?”, calcula Gustavo Nogueira, diretor geral da Indomit São Paulo Ultra Trail, que este ano aconteceu no dia 2 de abril. “Ainda não temos os números fechados desta edição, mas em 2015, com metade dos inscritos, a gente movimentou quase meio milhão de reais. Acho que em 2016 o movimento foi muito maior, e o povo de São Bento vai ficar feliz”.
Gostando do conteúdo? Nossas notícias também podem chegar no seu e-mail.
Veja o que já enviamosLá, a prova foi em um final de semana depois da Páscoa, baixíssima temporada, e a cidade lotou. Muita gente teve que ficar nos arredores, como em Santo Antônio do Pinhal e Campos do Jordão, o que incentivou o turismo na região como um todo. Em geral, a retirada de kits e os congressos técnicos acontecem numa sexta-feira, e as provas se concentram no sábado. Agora, para aumentar o tempo de permanência dos atletas e de suas famílias, a marca implementou também a Indomit kids, uma corrida infantil, na manhã de domingo. “Assim, as pessoas são estimuladas a ficar até a hora do almoço do terceiro dia, consumir mais uma diária no hotel e mais uma refeição em restaurante”, explica Gustavo.
Segundo ele, no caso da cidade paulista, por sorte já havia uma cultura de eventos outdoor, e, portanto, muitos moradores já são treinados para trabalhar como estafe. “Eu tenho um cara que comanda nossa equipe aqui. São mais de cem pessoas. Ele faz reuniões, chama todo mundo pelo nome, sabe o que cada um deve fazer. E muita gente me parabenizou pela qualidade dos estafes, que sempre estavam com um sorriso no rosto ao entregar a água, falando ‘vamos, vamos, vamos’. Só quem está lá correndo sabe a importância disso”.
Para o diretor geral da prova, essa é mais uma das contrapartidas que o evento pode dar à cidade que o recebe: “O cara que montou toda estrutura de som para a gente é daqui. Água, gelo, frutas, tudo que a gente tem que comprar é aqui. Essa também é uma forma de ajudarmos quem está nos acolhendo tão bem”.
Também em Bombinhas, quase 100% dos chamados estafes são locais. A prova de Santa Catarina é realizada em agosto, mês de baixíssima temporada para uma cidade praiana no Sul do país. “Quem já foi para Bombinhas sabe que no verão ela transborda de gente. Só que no resto do ano vira uma cidade fantasma. E isso começou a mudar. Não só no fim de semana da prova. Outros já começam a encher pelo fato de já existir a Indomit há tantos anos. A gente está na oitava edição”, acrescenta ele.
Em todas as etapas da Indomit, vale o mesmo regulamento. E está lá, no item 15.6: “Será penalizado o atleta que jogar resíduos no chão durante o percurso. (…) Será causa de desclassificação o corredor que for flagrado jogando lixo fora dos locais habilitados para tal fim”. E mais: “O participante tem a obrigação de conhecer, defender e respeitar o meio ambiente onde se realiza o evento. O mau trato ou a falta de respeito ao meio pode ser motivo de desclassificação, podendo chegar à expulsão da competição”. Neste sentido, também está lá que “não haverá copos plásticos nos postos de abastecimento, nem garrafinhas descartáveis, devendo cada atleta portar seu próprio recipiente (squeeze, copo, garrafinha, etc). Não por acaso, a organização dá um copo retrátil no kit fornecido aos corredores inscritos. Com ele, é possível se abastecer não só com água pura, mas com água de coco e até açaí, nos pontos de hidratação.
“Algumas provas começaram a fazer igual, por exemplo, no uso de galão de água. Isso é muito bom. A gente adora que outras pessoas façam igual à gente. E, se a gente vir que outros organizadores tiveram uma ideia melhor que a nossa em prol do meio ambiente, a gente vai copiar também “, diz Gustavo, acrescentando que, este ano, a edição de São Bento do Sapucaí foi a primeira em que foi adotado um chip (que marca os horários de largada e chegada dos atletas) feito numa impressora 3D com material reciclável. Os atletas poderiam descartá-lo ou devolvê-lo à organização para reciclagem. Para incentivar a devolução, foi oferecida a possibilidade de trocá-lo por uma camiseta finisher, geralmente entregue aos atletas que terminam a prova.
“Se não cuidarmos de questões como a da limpeza, a gente pode até acabar com nosso negócio, que é realizar eventos no meio da mata”, finaliza Gustavo.