Caminhada que não dói no bolso

Marcial, 80 anos, em Agés

O custo médio de um dia no Caminho de Santiago é 30 euros

Por Giovanni Faria | ODS 15Vida Sustentável • Publicada em 26 de julho de 2016 - 08:00 • Atualizada em 2 de setembro de 2017 - 23:46

Marcial, 80 anos, em Agés
Marcial, 80 anos, em Agés
Marcial, 80 anos, morador de Agés: “Somos apenas 40 pessoas. Não temos jovens, nem crianças. Todos foram embora para as grandes cidades”

O Caminho de Santiago é uma viagem barata. O bolso não dói tanto quanto os pés. E ainda há grandes chances de você economizar mais ainda ao compartilhar custos com os amigos que fará – e não serão poucos! O caminho mais curto para chegar a Santiago é voar para Madri, com passagem em torno de R$ 2.500, em prestações sem juros. Da capital espanhola, o deslocamento de trem para Pamplona custa em torno de 50 euros.

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Todos os dias saio de casa para ver a alegria dos peregrinos. É nossa única distração

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Sobre os trilhos, já é possível dar os primeiros passos econômicos: encontrar  no trem peregrinos e sugerir a eles a divisão de um táxi de Pamplona a San Jean Pie de Port, cidade que é o ponto de partida do chamado Caminho Francês, o mais tradicional. Há carros que levam 4 pessoas, ao custo total de 100 euros, cabendo a cada um o valor de 25 euros. Outra opção é pegar o ônibus dos peregrinos (22 euros). A viagem dura uma hora e 45 minutos.  Da janela, já é possível se impressionar com a paisagem e as montanhas que serão enfrentadas no dia seguinte. San Jean, que não é barata, tem boas opções de pratos combinados a 12 euros. Há albergues a 25 euros.

Albergue: botas dos peregrinos do lado de fora

O custo médio dos dias de caminhada é bem em conta: 30 euros. Se percorrer os cerca de 900 quilômetros em 30 dias, período bem razoável, não baterás a cifra de 1 mil euros. Isso é nada em se tratando de Europa. Na maioria das cidades que passa o peregrino tem duas boas opções de alimentação. A primeira delas é comer o menú peregrino oferecido por restaurantes e até alguns albergues. Preços: entre 8 e 10 euros. Um prato de entrada (salada, sopa ou macarrão), um principal (porco, frango, cervo ou peixe, sempre com batatas), sobremesa (frutas, doces típicos ou sorvete) e, por fim, uma garrafa de vinho tinto (ou água). Bem em conta.

A segunda opção, ainda mais barata, é reunir os amigos, fazer compras nos mercados ou “tiendas” e ir para a cozinha. Os orientais são os maiores adeptos desse estilo. Os italianos também aproveitam para produzir variadas pastas, sempre em quantidades generosas, de tal forma que oferecem a todos os peregrinos do albergue. Custo: no raratá, não passa de 3 euros para casa um, incluindo, claro, muito vinho. Nos mercados, a garrafa de um Rioja, vejam só, não passa de 2 ou 3 euros.
Outro custo são os albergues. A maioria procura os municipais, que funcionam com donativos – a maioria das pessoas contribui com 5 euros. Mas, mesmo os mais sofisticados – com piscina e tudo – nunca passam de 10 euros. “Não tenho muito dinheiro, mas o pouco que trouxe é bastante para eu comer, beber e dormir sem apertos”, conta o japonês Kinno, que vai para a cozinha todos os dias.
Já a italiana Sabrina prefere o menu peregrino como única grande refeição do dia.
“O esforço da caminhada diária tira um pouco o apetite. Por isso só como às 19h, pouco antes de dormir. A comida é bem saborosa”, -conta ela, sempre elogiando a qualidade do vinho.
Os demais gastos ficam por conta do café da manhã (café, leite e pão ou bolo a 2 euros) e pequenos lanches ou sanduíches no meio da jornada, além de sucos – água há gratuita nas muitas fontes do Caminho. Um sanduíche de pão (tipo) francês com “jamón” e um suco saem por 3 euros. As despesas extras têm endereço certo: a farmácia. O “santo remédio” mais vendido, a vaselina – usada diariamente, antes da caminhada -, custa 2 euros o tubo. E não dá para economizar, diz Aline, brasileira de Goiânia que mora na Suíça.

São os peregrinos que dão vida e levam dinheiro a dezenas de cidades que vivem única e exclusivamente em razão do Caminho. “Todos os dias saio de casa para ver a alegria dos peregrinos. É nossa única distração”, conta Alfredina, na minúscula Terradillo de los Templários, com uma imensa igreja e cerca de cem habitantes – menos do que o número de peregrinos nos dois albergues.
Aos 80 anos, Marcial lembra de quando sua cidade, Agés, era grande e populosa. Hoje, o silêncio e a extrema monotonia só são quebrados pelo som de botas e cajados. “Somos apenas 40 pessoas. Não temos jovens, nem crianças. Todos foram embora para as grandes cidades”, diz ele, emocionado, pouco antes de se lembrar que, com a perda recente de dois amigos, Agés tem agora, na realidade, 38 moradores.
O Caminho passa do meio, na cidade de Sahagún. Todos praticamente se conhecem e já são “amigos de infância”. A proximidade de Santiago aflora os sentimentos. Bom tema para sexta-feira. Até lá. Buen Camino!

Giovanni Faria

É jornalista e trabalhou por 33 anos no jornal O Globo e nas rádios CBN e Globo. É professor da PUC-Rio e da Facha. Também é formado em Direito. Desde que levou um "susto" no coração há quatro anos, adotou a caminhada como atividade diária. Nasceu em Friburgo, mora em Niterói, vive em Búzios, mas desde 2014 não tira o Caminho de Santiago de Compostela da cabeça nem dos pés. A mulher, Christiane, e o filho Thomás já cruzaram a Espanha a pé também - agora só faltam as filhas Victória e Catarina.

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