Conta de luz em tempo real

Tecnologia de transmissão de dados via rede elétrica é a base para vários protótipos desenvolvidos por pesquisadores da UFJF

Por Fernanda Baldioti | ODS 4ODS 9 • Publicada em 4 de julho de 2019 - 08:00 • Atualizada em 5 de julho de 2019 - 14:09

Professor Moisés no laboratório da UFJF (Foto: Revista A3)

Imagine poder controlar em tempo real o consumo da sua conta de luz. Sem dúvida, seria a solução para não levar sustos na hora de abrir a conta, especialmente nos meses do verão, quando os aparelhos de ar-condicionado costumam fazer uma grande diferença no custo dessa despesa. Graças a uma pesquisa de ponta realizada por um grupo de cerca de 70 pesquisadores do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Elétrica da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) isso já é possível. Eles conseguiram desenvolver uma tecnologia eficiente de transmissão de dados que utiliza como meio de transporte a rede elétrica, possibilitando, por exemplo, essa medição eletrônica do consumo de energia de todas as residências, sem necessidade de leiturista. Essa, no entanto, é apenas umas das aplicabilidades da tecnologia que eles utilizam como base para desenvolver vários protótipos e que é conhecida como Powerline Communication (PLC).

Leia mais reportagens da série #100diasdebalbúrdiafederal

“Essa  tecnologia começou a ser desenvolvida no fim do século XIX, andou um pouco no início do século XX e voltou com força a partir da década de 1980. Hoje, além de nós, EUA, Alemanha e Espanha têm estudos nessas áreas. O que fizemos aqui foi desenvolver equipamentos que utilizam como base essa tecnologia”, explica o professor Moisés Vidal Ribeiro, que lidera o grupo de pesquisa considerado hoje a maior referência em estudos de transmissão de dados via rede elétrica na América Latina.

Gostando do conteúdo? Nossas notícias também podem chegar no seu e-mail.

Veja o que já enviamos
[g1_quote author_name=”Moisés Vidal Ribeiro” author_description=”Professor da UFJF” author_description_format=”%link%” align=”left” size=”s” style=”simple” template=”01″]

As bolsas de pesquisas, especialmente as de mestrado e doutorado, deveriam estar associadas a solução de problemas existentes no mercado

[/g1_quote]

O sistema desenvolvido pela equipe da UFJF consiste em modems instalados na entrada do medidor de consumo de energia elétrica do cliente e concentradores PLC, que são fixados no poste de distribuição de energia elétrica. O sistema tem o potencial de viabilizar a comunicação de dados também nas redes de água e gás.

LEIA MAIS: Universidade tira sua energia do sol

LEIA MAIS: Unila usa maconha para tratar Alzheimer e Parkinson

“Essa tecnologia PLC pode ser usada em aviões e também para resolver problemas de wifi em ambientes que não pegam bem, como uma cobertura, ou inóspitos, permitindo um alcance muito extenso dos sinais de internet. Agora, estamos trabalhando em um projeto para detectar cabos rompidos da rede elétrica. Parece algo simples, mas até hoje não há tecnologia para detectar isso em redes de distribuição”, diz ele, contando que, além do aumento na praticidade e velocidade da comunicação, a invenção também permite uma economia incalculável de fios e cabeamentos.

Professor Moisés em seu laboratório na UFJF (Foto: Gabriela Maciel/UFJF)

Moisés explica que hoje o acesso em tempo real à conta de luz já é possível também por meio de outras tecnologias. Ele acredita que talvez nos próximos três anos já tenhamos um medidor de consumo inteligente em nossas casas. “Atualmente estamos estudando como interligar esse medidor de consumo a todos os equipamentos da sua casa. O foco é internet das coisas, conectar tudo”.

Segundo Moisés, um dos grandes entraves para a comercialização dos protótipos é a necessidade de investimento elevado para ter um produto de baixo custo no mercado internacional. Isso significa concorrer com outros países, tais como China e Coreia do Sul, que estão na frente do Brasil em termos custo de produção e capacidade de investimento.

“Muito se fala em falta de verbas para as universidades. Por outro lado, há necessidade de alocar os recursos nos grupos de pesquisa que são produtivos. Como vi em muitas universidades no exterior, as bolsas de pesquisas, especialmente as de mestrado e doutorado, deveriam estar associadas a solução de problemas existentes no mercado”, defende Moisés.

Ele mesmo reconhece que só com verbas da universidade não teria conseguido equipar o laboratório e desenvolver sua pesquisa e revela que chegou a usar dinheiro do próprio bolso para viajar e correr atrás das empresas para patrocinar a pesquisa. A Cemig foi uma das que apostou nas ideias de Moisés. Também foi feito um projeto de modem PLC para a Embraer.

A utilização dessa tecnologia pode ser ampliada para setores como o naval, automotivo, petrolífero e de mineração, já que outra possibilidade de aplicação é na comunicação de dados feita internamente nesses meios de transporte.

Atualmente, a equipe de Moisés, formada por 7 alunos de mestrado e doutorado, está trabalhando em pesquisas relacionadas à transmissão de dados para detecção de cabos rompidos em sistemas de distribuição de energia elétrica. Ao longo dos anos, eles já publicaram 170 artigos em conferências e revistas cientificas, o que demonstra o grau de inovação e o valor científico do projeto. Além disso, cerca de 38 mestres e doutores foram formados nessa área. Cinco patentes foram depositadas e outras duas estão em processo de depósito.

“Uma das principais conquistas foi a formação de recursos humanos. Capacitamos profissionais numa área carente no Brasil que é a de desenvolvimento de tecnologias avançadas de telecomunicações”, diz Moisés.

A expertise desenvolvida pelo grupo em sistemas PLC deu origem a duas Spin-off Smarti9 e Wari. A empresa Smarti9, incubada no Centro Regional de Inovação e Transferência de Tecnologia (Critt) da UFJF, desenvolveu um tecnologia híbrida de telecomunicações, na qual os dados são transmitidos pelo ar e pela rede de energia elétrica. A Smarti9 atua na área de IoT para redução de custos. A Wari atua no setor de controle de acesso e consumação baseada em tecnologias RFID.

[g1_quote author_description_format=”%link%” align=”none” size=”s” style=”solid” template=”01″]

48/100 A série #100diasdebalbúrdiafederal pretende mostrar, durante esse período, a importância  das instituições federais e de sua produção acadêmica para o desenvolvimento do Brasil

[/g1_quote]

Fernanda Baldioti

Jornalista, com mestrado em Comunicação pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), trabalhou nos jornais O Globo e Extra e foi estagiária da rádio CBN. Há mais de dez anos trabalha com foco em internet. Foi editora-assistente do site da Revista Ela, d'O Globo, onde se especializou nas áreas de moda, beleza, gastronomia, decoração e comportamento. Também atuou em outras editorias do jornal cobrindo política, economia, esportes e cidade.

Newsletter do #Colabora

A ansiedade climática e a busca por informação te fizeram chegar até aqui? Receba nossa newsletter e siga por dentro de tudo sobre sustentabilidade e direitos humanos. É de graça.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *