Que tal ser um produtor de energia?

No Brasil, o investimento médio num equipamento de energia fotovoltaica gira em torno de R$ 10 mil a R$ 15 mil

Decisão da Aneel deve alavancar o mercado de painéis solares para residências

Por Agostinho Vieira | ODS 7 • Publicada em 11 de fevereiro de 2016 - 08:41 • Atualizada em 11 de fevereiro de 2016 - 12:01

No Brasil, o investimento médio num equipamento de energia fotovoltaica gira em torno de R$ 10 mil a R$ 15 mil
No Brasil, o investimento médio num equipamento de energia fotovoltaica gira em torno de R$ 10 mil a R$ 15 mil
No Brasil, o investimento médio num equipamento de energia fotovoltaica gira em torno de R$ 10 mil a R$ 15 mil

Em países como Alemanha, Japão, Espanha e Estados Unidos, onde o sistema já funciona há muito tempo, ele representa mais 10% da matriz energética, podendo chegar a 30% em algumas regiões.  No Brasil, apesar da abundância de sol e de vento, o mercado de mini ou microgeração de energia, como é chamada, ainda não conseguiu decolar. Com uma dose generosa de boa vontade, é possível dizer ela representa cerca de 0,01% da nossa produção energética. Fechamos 2015 com 1.200 painéis solares instalados, enquanto nos EUA, com muito menos sol, eles chegam a 400 mil.

As nossas dificuldades são várias e variadas. Vão desde o custo elevado dos equipamentos até a falta de financiamento e de incentivos. Mas essa situação pode começar a mudar em março, quando uma nova resolução da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) entra em vigor. Na verdade, são duas decisões simples que devem mexer muito com esse mercado. A primeira prevê que residências, indústrias e comércios vão poder transferir créditos de energia gerada para outras pessoas. A segunda, igualmente importante, é que essa energia não precisa ser produzida exatamente na casa ou na loja do consumidor.

Pelas contas da Aneel, essas mudanças devem fazer com que os investimentos em microgeração no Brasil alcancem a marca de R$ 30 bilhões até 2024. Mais ou menos o tamanho de tudo que foi gasto com a Usina de Belo Monte.

Entendeu? Não. Então vamos voltar duas casas. Como funciona o sistema? Imagine que você tem uma residência com uma boa incidência de sol. Essa parte é fácil. Em tese, tudo pode ser feito também com energia eólica ou biomassa. Mas vamos seguir com o exemplo da fonte solar que é a mais usada no mundo. O primeiro passo é investir num equipamento, que vai custar alguma coisa entre R$ 10 mil e R$ 15 mil. O preço vem caindo, mas ainda é caro. Vários estados, inclusive o Rio, decidiram deixar de cobrar ICMS sobre esses produtos, o que vai ajudar muito nessa conta. Na Europa, é possível encontrar vários desses itens numa prateleira da Ikea, por exemplo. Aqui é um pouco mais complicado.

Vamos em frente. Comprado o equipamento é preciso ter um projeto de instalação, pois ninguém quer que a sua casa pegue fogo. Esse projeto será submetido e aprovado pela concessionária de luz da sua região, uma Light ou Eletropaulo da vida. Passada essa etapa, que é chata, porém importante, você passa a ser um feliz produtor de energia. Funciona como uma espécie de conta corrente. Durante o dia, as pessoas saem de casa e deixam os seus painéis solares trabalhando por elas, gerando energia e fornecendo para a concessionária de luz. À noite, elas consomem a energia disponibilizada pelas empresas. No final do mês é feito um balanço. Se o usuário forneceu mais do que consumiu ele fica com um crédito, que deve ser utilizado em até 36 meses.

O que muda, a partir de março, é que esse crédito de energia pode ser compartilhado. Os consumidores podem se organizar em cooperativas, dividindo os custos de instalação do painel. E esses painéis solares podem ficar em outros terrenos e não apenas na sua casa. Imagine os moradores de um condomínio, por exemplo, que têm um terreno livre? Ou uma fábrica com área ociosa? Pelas contas da Aneel, essas mudanças devem fazer com que os investimentos em microgeração no Brasil alcancem a marca de R$ 30 bilhões até 2024. Mais ou menos o tamanho de tudo que foi gasto com a Usina de Belo Monte.

Em 2009, um movimento semelhante foi feito na Austrália e a produção dessa energia doméstica saltou de 29 megawatts por ano para 3.800. O suficiente para abastecer 8 milhões de pessoas. No Brasil, poderíamos passar de 0,01% da matriz energética para cerca de 2%, o que é bastante relevante.

As novas regras e a isenção do ICMS deixaram o mercado animado e algumas empresas chinesas e alemães já falam em novos investimentos. Talvez isso provoque um aumento e uma melhora nas condições de financiamento, tanto públicas quanto privadas, o que facilitaria a vida dos consumidores/empreendedores. Quem tiver R$ 15 mil para investir em painéis fotovoltaicos pode recuperar esse investimento em 8 ou 10 anos. Considerando que o equipamento tem uma vida útil de 25 anos, significa passar mais de 15 anos lucrando com energia limpa. Pode ser um bom negócio. Que tal?

Agostinho Vieira

Formado em Jornalismo pela Escola de Comunicação da UFRJ. Foi repórter de Cidade e de Política, editor, editor-executivo e diretor executivo do jornal O Globo. Também foi diretor do Sistema Globo de Rádio e da Rádio CBN. Ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo, em 1994, e dois prêmios da Society of Newspaper Design, em 1998 e 1999. Tem pós-graduação em Gestão de Negócios pelo Insead (Instituto Europeu de Administração de Negócios) e em Gestão Ambiental pela Coppe/UFRJ. É um dos criadores do Projeto #Colabora.

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