Geração renovável supera eletricidade a carvão no mundo pela primeira vez

Demanda global por energia elétrica cresceu 2,6% mas foi compensada pelos aumentos nas fontes renováveis, lideradas pela energia solar

Por Oscar Valporto | ODS 7
Publicada em 8 de outubro de 2025 - 11:32  -  Atualizada em 8 de outubro de 2025 - 11:33
Tempo de leitura: 7 min

Usina solar em Minas Gerais: geração renovável supera eletricidade a carvão pela primeira vez (Foto: MME)

A energia renovável ultrapassou o carvão como principal fonte de eletricidade do mundo no primeiro semestre deste ano, de acordo com estudo da Ember, uma think tank global de energia. De acordo com o levantamento divulgado nesta terça (07/10), a demanda por eletricidade está crescendo em todo o mundo, mas o crescimento da energia solar e eólica foi tão forte que atendeu a 100% da demanda extra de eletricidade, ajudando até mesmo a impulsionar um ligeiro declínio no uso de carvão e gás.

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Os países em desenvolvimento, especialmente a China, lideraram o avanço da energia limpa, mas as nações mais ricas, incluindo os EUA e a União Europeia, dependeram mais do que antes dos combustíveis fósseis, vilões do aquecimento global e da crise climática, para a geração de eletricidade. “Estamos presenciando os primeiros sinais de uma reviravolta crucial. A energia solar e eólica estão crescendo rápido o suficiente para atender ao crescente apetite mundial por eletricidade. Isso marca o início de uma mudança em que a energia limpa acompanha o crescimento da demanda. Com a queda constante dos custos das tecnologias, este é o momento perfeito para aproveitar os benefícios econômicos, sociais e de saúde proporcionados pelo aumento da energia solar, eólica e de baterias”, afirmou Malgorzata Wiatros-Motyka, analista sênior de energia da Ember e uma das autoras do estudo.

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De acordo com o levantamento, com dados mensais de 88 países (Brasil inclusive), a demanda global por eletricidade cresceu 2,6% no primeiro semestre de 2025. Esse aumento foi mais do que compensado pelos aumentos na geração solar (+31%) e eólica (+7,7%), com a energia solar sozinha respondendo por 83% desse aumento. “A energia hidrelétrica caiu significativamente, enquanto a produção de bioenergia caiu ligeiramente, e a energia nuclear cresceu modestamente, enquanto a geração fóssil geral caiu marginalmente (-0,3%)”, aponta a Ember.

A energia solar cresceu um recorde de 31% no primeiro semestre de 2025, aumentando a participação da energia solar na matriz elétrica global de 6,9% para 8,8%. A China foi responsável por 55% do crescimento global da geração solar, seguida por EUA (14%), UE (12%), Índia (5,6%) e Brasil (3,2%), enquanto o restante do mundo contribuiu com apenas 9%. Quatro países geraram mais de 25% de sua eletricidade a partir da energia solar, e pelo menos 29 países ultrapassaram 10%, acima dos 22 países no mesmo período do ano passado e de apenas 11 países no primeiro semestre de 2021.

Foi este forte aumento da energia solar e, em menor grau, da eólica, que levou as energias renováveis ​​a ultrapassar a geração a carvão pela primeira vez na história no primeiro semestre de 2025. No total, as energias renováveis ​​cresceram 363 TWh (tera-watt/hora, medida de energia), um aumento de 7,7%, atingindo 5.072 TWh, enquanto a geração a carvão caiu 31 TWh, para 4.896 TWh. Como resultado, a Ember destaca que a participação das energias renováveis ​​na eletricidade global aumentou para 34,3% (de 32,7%), enquanto a participação do carvão caiu para 33,1% (de 34,2%).

O estudo aponta ainda que, embora a China ainda esteja expandindo sua frota de usinas termelétricas a carvão, o país também permanece muito à frente no crescimento de energia limpa, adicionando mais capacidade solar e eólica do que o resto do mundo combinado. Isso permitiu que o crescimento da geração renovável na China superasse o aumento da demanda por eletricidade e ajudou a reduzir sua geração de combustíveis fósseis em 2%. A Índia apresentou um crescimento mais lento na demanda por eletricidade e também adicionou nova capacidade solar e eólica significativa, o que significa que também reduziu o uso de carvão e gás.

A Ember destaca ainda que países desenvolvidos, Estados Unidos à frente, e também a União Europeia registraram tendência oposta. Nos EUA, a demanda por eletricidade cresceu mais rapidamente do que a produção de energia limpa, aumentando a dependência de combustíveis fósseis, enquanto na UE, meses de fraco desempenho eólico e hidrelétrico levaram a um aumento na geração de carvão e gás.

Apesar dessas diferenças regionais, a Ember enfatiza a marca histórica pela energia limpa estar acompanhando o crescimento da demanda. A energia solar – responsável pela maior parte do crescimento, atendendo a 83% do aumento na demanda por eletricidade – consolidou-se como a maior fonte de eletricidade nova no mundo pelo terceiro ano consecutivo. A maior parte da geração solar (58%) está atualmente em países de baixa renda, muitos dos quais têm apresentado um crescimento explosivo nos últimos anos.

Isso se deve a reduções- classificadas como “espetaculares” pelo estudo – nos custos de geração. “Os preços da energia solar caíram impressionantes 99,9% desde 1975 e agora estão tão baratos que grandes mercados para energia solar podem surgir em um país no espaço de um único ano, especialmente onde a eletricidade da rede é cara e pouco confiável”, afirma a Ember, citando o exemplo do Paquistão, que importou painéis solares capazes de gerar 17 gigawatts (GW) de energia solar em 2024, o dobro do ano anterior e o equivalente a cerca de um terço da capacidade atual de geração de eletricidade do país.

O estudo também destaca que a África também está vivenciando um boom solar, com as importações de painéis aumentando 60% em relação ao ano anterior, no acumulado do ano até junho. A África do Sul, com forte presença de carvão, liderou o caminho, enquanto a Nigéria ultrapassou o Egito e assumiu o segundo lugar, com 1,7 GW de capacidade de geração solar – o suficiente para atender à demanda de eletricidade de aproximadamente 1,8 milhão de residências na Europa. Algumas nações africanas menores tiveram um crescimento ainda mais rápido, com a Argélia multiplicando suas importações por 33, a Zâmbia por oito e o Botsuana por sete.

Oscar Valporto

Oscar Valporto é carioca e jornalista – carioca de mar e bar, de samba e futebol; jornalista, desde 1981, no Jornal do Brasil, O Globo, O Dia, no Governo do Rio, no Viva Rio, no Comitê Olímpico Brasileiro. Voltou ao Rio, em 2016, após oito anos no Correio* (Salvador, Bahia), onde foi editor executivo e editor-chefe. Contribui com o #Colabora desde sua fundação e, desde 2019, é um dos editores do site onde também pública as crônicas #RioéRua, sobre suas andanças pela cidade

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