Janelas acanhadas são uma marca das habitações populares no Brasil, um país onde, no verão, em algumas regiões, como o Rio de Janeiro, as temperaturas podem chegar a 40 graus, mas a sensação térmica supera os 50 graus. O calor empurra para cima o consumo de energia, até mesmo em comunidades pobres, onde os aparelhos de ar condicionado são comuns. Mas os custos desse uso intensivo, muitas vezes, são mascarados pelos gatos de luz.
Um cenário que pode ser diferente. Moradores do Morro da Babilônia, no Leme, estão comprovando na prática que janelas mais amplas são, além de mais bonitas, uma solução arquitetônica sustentável. A comunidade da zona Sul carioca foi escolhida para abrigar o projeto “Morar Carioca Verde” – uma iniciativa apresentada pela prefeitura do Rio durante a Rio+20, em 2012.
Alunos do Instituto de Economia do MBE em Economia e Gestão da Sustentabilidade da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) comprovaram que habitações verdes aumentam o conforto térmico e a eficiência energética, gerando assim uma redução significativa no custo da moradia.
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Veja o que já enviamosPara chegar a esta conclusão, os alunos compararam os gastos de 13 famílias do projeto “Morar Carioca Verde” da Babilônia; com 13 apartamentos, do condomínio Jardim Canário, no Morro do Alemão, onde o governo estadual aplicou recursos do programa federal “Minha Casa Minha Vida”. Enquanto no Alemão o custo médio da conta de luz é de R$ 166,34; na Babilônia, o valor médio é de R$ 76,49. Uma economia bem-vinda. A Babilônia que já teve 51% de seu consumo de energia provenientes de gatos, paga hoje, segundo levantamento da Light, por 69% de seus gastos.
Uso de mantas de lã de vidro no miolo das paredes externas, localização dos quartos nas áreas com insolação matinal, janelas com maior abertura e esquadrias que se recolhem totalmente para o interior das paredes, e plantas que buscam aumentar as correntes de vento nos cômodos fazem parte do conjunto de inovações das moradias verdes da Babilônia. O uso da ventilação natural deixou as casas mais frescas – acabando com a necessidade de ar condicionado, o que leva a um encarecimento da conta de luz. Das 13 unidades pesquisadas, 92% dos moradores consideram boa ou muito boa a temperatura de seus apartamentos no verão. No inverno, essa aprovação cai para 77%, mantendo-se, mesmo assim, alta.
Entregues em 2013, as casas foram as primeiras construções públicas a receber o selo Casa Azul da Caixa Econômica Federal, na categoria Ouro, pelas soluções sustentáveis apresentadas. A certificação exige 57 critérios a serem seguidos pelo projeto e pela construção, que incluem até mesmo o descarte do lixo da obra.
O grupo da pesquisa, formado por Daniela Engel Javoski, Henrique Luiz Ahrends, Miriam Gleiztmann, Jussara Coutinho, Ruth Jurberg e Vania Maciel, também avaliou a satisfação em relação ao sistema de aquecimento solar da água do banho e a iluminação natural dos ambientes. A escolha desses itens não foi aleatória. Dados do Sistema de Informações de Posse de Eletrodomésticos e Hábitos de Consumo, da Eletrobras, de 2007, mostram que o chuveiro elétrico é responsável por 24% do consumo de energia de uma residência, enquanto os aparelhos de ar condicionado consomem 20% do total, e as lâmpadas mais 14%.
Outro benefício que o projeto oferece aos moradores são as descargas dual flex, que economizam até 60% da água usada em privadas, o medidor de consumo individual e o reuso das águas de chuva para a rega das plantas na área comum.
Este último faz com que o condomínio não tenha custos e as famílias, que, em sua maioria tem renda entre um e dois salários mínimos, não arquem com mais um gasto. Os pesquisadores constataram, por exemplo, que, no Alemão, os R$ 80 da taxa condominial, somadas às contas de água e luz de cada unidade, estão fazendo com que alguns moradores do Jardim Canário abandonem seus apartamentos e voltem a morar em barracos.
Esses dados levaram os pesquisadores a concluir que soluções de arquitetura sustentável em imóveis populares garantem não apenas o aproveitamento racional dos recursos naturais, como aumentam o conforto dos moradores e a viabilidade econômica de pessoas de baixa renda se manterem em moradias formais.