Um oceano de plástico

Micropartículas de garrafa PET formam lixeira a céu aberto em alto mar

Por Liana Melo | ODS 11ODS 12ODS 6 • Publicada em 20 de novembro de 2015 - 08:34 • Atualizada em 3 de fevereiro de 2017 - 19:37

Mar de lixo/ Foto de Custodio Coimbra

É uma longa viagem até chegar em alto mar. Pode levar até cinco anos e vem de lugares distantes, inclusive do Brasil. No percurso, vai se partindo em pequenos pedaços até se transformar em micropartículas de plástico. O que um dia pode ter sido uma garrafa PET vira lixo em um piscar de olhos. Da geladeira à lixeira, o lixo doméstico vai parar em algum lugar que ninguém sabe… ninguém viu. E se ninguém vê, ele deixa de ser um problema – é como se deixasse de existir. Só que o plástico é resistente e, como não se decompõe, vai seguindo seu caminho natural pela vida e, muitas vezes, empurrado pelas  correntes marítimas para o alto mar.

O primeiro mapeamento global sobre poluição nos mares constatou que o Brasil é o único país da América Latina a figurar entre os 20 maiores poluidores de lixo plástico nos oceanos. O ranking é encabeçado majoritariamente por países asiáticos e pelos Estados Unidos. China é líder absoluto, seguido da Indonésia e das Filipinas. A pesquisa foi bancada pelo governo suíço em parceria com a Fundação Race for Water, a escola técnica da Suíça, a EPFL, e universidades francesas e americanas. O estudo redundou na campanha mundial batizada de ‘Mar sem lixo. Mar da Gente’.

Infografia sobre lixo nos oceanos/ Fernando Alvarus
Infografia sobre lixo nos oceanos/ Fernando Alvarus

A viagem da expedição científica Race for water (Corrida pela água, na tradução livre) começou em março, em Bordeaux, na França, e os pesquisadores ficaram 240 dias no mar. Visitaram quatro das cinco grandes ilhas de lixo dos oceanos – conhecidas no jargão científico como vórtices. Os redemoinhos formados pela circulação oceânica acabam recebendo o material que vem de milhões de quilômetros de distância e o lixo circula, sem ter como sair. A quinta ilha será visitada ainda este mês.

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[g1_quote author_name=”Marco Simeoni” author_description=”chefe da pesquisa ‘Race for water'” author_description_format=”%link%” align=”left” size=”s” style=”simple” template=”01″]

O plástico está em toda parte. Visitamos ilhas remotas, inabitadas, e encontramos garrafas plásticas, chinelos, isqueiros, bitucas de cigarro. São materiais que as correntes marítimas levaram a esses locais, muitas vezes até distantes da origem desse plástico

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Os resíduos se acumulam até em regiões de água transparente e praia limpa. À distância um paraíso; de perto, um lixão no mar. São 15,9 milhões de quilômetros quadrados de sujeira, o equivalente a quase duas vezes o território brasileiro. Além de plástico inteiro, pequenos pedaços deste material misturados à areia. Boiando na água, o microplástico se torna parte do ecossistema. E o pior, vira alimento para peixes e pássaros. Confundidos com crustáceos e plânctons, o ‘alimento industrializado’ é comido por pequenos peixes, que, por sua vez, é engolido pelos grandes peixes, como atum, e acaba chegando à mesa do consumidor.

Cerca de 25 milhões de toneladas de plástico têm como destino o mar anualmente. Com o aumento da população mundial, a estimativa dos pesquisadores é que, em uma década, haverá um quilo de plástico para cada três quilos de peixe nos oceanos. A Baía de Guanabara é um retrato em 3×4 dos vórtices estudados pelos cientistas.

 

Liana Melo

Formada em Jornalismo pela Escola de Comunicação da UFRJ. Especializada em Economia e Meio Ambiente, trabalhou nos jornais “Folha de S.Paulo”, “O Globo”, “Jornal do Brasil”, “O Dia” e na revista “IstoÉ”. Ganhou o 5º Prêmio Imprensa Embratel com a série de reportagens “Máfia dos fiscais”, publicada pela “IstoÉ”. Tem MBA em Responsabilidade Social e Terceiro Setor pela Faculdade de Economia da UFRJ. Foi editora do “Blog Verde”, sobre notícias ambientais no jornal “O Globo”, e da revista “Amanhã”, no mesmo jornal – uma publicação semanal sobre sustentabilidade. Atualmente é repórter e editora do Projeto #Colabora.

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2 comentários “Um oceano de plástico

  1. Mario Lago BR disse:

    Até onde se sabe, os animais não conseguem absorver o plastico. Então, o tal peixe que está na mesa do consumidor não está contaminado. Mesmo que você aprecie comer intestino de peixe com o que está dentro, você também não conseguirá absorver esse plástico.

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