A poluição e a morte das crianças

A contaminação da água é uma das principais causas da mortalidade infantil no mundo. Foto de Mehedi Nasan/NurPhoto

Contaminação da água, do ar e a falta de higiene matam 25% dos meninos e meninas do planeta

Por José Eduardo Mendonça | ODS 6 • Publicada em 22 de março de 2017 - 09:00 • Atualizada em 5 de junho de 2019 - 03:26

A contaminação da água é uma das principais causas da mortalidade infantil no mundo. Foto de Mehedi Nasan/NurPhoto
A contaminação da água é uma das principais causas da mortalidade infantil no mundo. Foto de Mehedi Nasan/NurPhoto
A contaminação da água é uma das principais causas da mortalidade infantil no mundo. Foto de Mehedi Nasan/NurPhoto

A Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou no início do mês dois relatórios sobre os efeitos da poluição em crianças. Os números são estarrecedores. Um quarto de todas as mortes globais delas se devem a ambientes insalubres, criados por poluição da água e do ar, fumo passivo e falta de higiene adequada.

Tais condições podem levar a casos fatais de diarréia, malária e pneumonia, e matar 1.7 milhão de crianças anualmente.

Um ambiente poluído resulta em uma pesada carga para a saúde de nossas crianças. Investimentos na remoção destes riscos resultaria em benefícios enormes para a saúde

“Um ambiente poluído é letal, particularmente para pessoas nesta faixa de idade”, disse a diretora-geral da organização, Margaret Chan.  “Seus órgãos e sistemas imunológicos, em desenvolvimento, as tornam especialmente vulneráveis a água e ar sujos”.

No relatório, intitulado “Herdando um mundo sustentável: atlas da saúde infantil e ambiente”, a OMS afirma que a exposição nociva pode começar no útero, e depois continuar em bebês e crianças.  O trabalho que o acompanha leva o nome de “Não polua meu futuro”.

Esta exposição aumenta o risco de pneumonia, assim como de doenças do coração, derrames e câncer, pelo resto da vida. O relatório também nota que crianças têm chance maior de sofrer de diarréia e pneumonia em lares sem acesso a higiene e com fumaça poluída de combustíveis sujos como carvão e estrume, para a cozinha e o aquecimento.

A mudança do clima, ou variações em temperatura, precipitação e outros fenômenos medidos globalmente ao longo do tempo em relação a médias históricas, contribui também com riscos ambientais potenciais, por aumentar a exposição ao pólen e alergênicos. Em 14 por cento das crianças de 5 anos ou mais, com sintomas de asma, 44 por cento dos casos estão relacionados ao ambiente poluído.

“Ninguém está imune a isso, e o relatório faz um trabalho excelente de ligar tudo, porque geralmente pensamos que o ambiente não nos impacta, o que não é verdade”, afirma Laura Anderko, da Faculdade de Enfermagem e Estudos da Saúde da Universidade de Georgetown.

O perigo pode estar também em substâncias químicas incorporadas à rede alimentar através de fertilizantes. Há também os riscos de tratamento inadequado de , que coloca crianças em contato com elementos tóxicos que eventualmente aumentam as probabilidades de câncer e males do pulmão.

Cerca de 35 milhões de brasileiros continuam sem ter acesso a água tratada. Foto de Custódio Coimbra
Cerca de 35 milhões de brasileiros continuam sem ter acesso a água tratada. Foto de Custódio Coimbra

A OMS detalha o quadro sombrio. Do total de crianças mortas anualmente pela poluição, 570.000 delas perecem por infecções pulmonares, tais como pneumonia, atribuível à poluição dentro e fora de casa e à fumaça dos cigarros. Trezentas e sessenta mil delas morrem de diarreia, por falta de acesso à água limpa, saneamento e higiene. Outras 270.000 têm suas vidas ceifadas no primeiro mês, devido a condições que poderiam ser evitadas, como o acesso a água limpa e saneamento. Ainda, 200.000 casos fatais de malária seriam evitáveis, assim como o mesmo número atribuído a fatores como envenenamento.

“Um ambiente poluído resulta em uma pesada carga para a saúde de nossas crianças”, diz Maria Neira, diretora do Departamento de Saúde Pública, Ambiente e Determinantes Sociais de Saúde da OMS. “Investimentos na remoção destes riscos resultaria em benefícios enormes para a saúde”.

A OMS faz uma série de recomendações aos governos de ações que diminuiriam substancialmente os riscos da poluição. As moradias devem ter combustíveis limpos para cozinha e aquecimento e estar livres de mofo ou pestes, assim como não devem levar materiais de construção e pintura inseguros. As escolas têm de fornecer saneamento e higiene adequados, e promover a boa nutrição. O planejamento urbano deve criar mais espaços verdes, além de ciclovias e trilhas para caminhadas. E o transporte precisa reduzir suas emissões de gases de efeito estufa e poluentes locais. O trabalho faz ainda sugestões para agricultura, indústria e o setor de saúde.

Joy Lawn, professor de epidemiologia infantil da Faculdade de Higiene e Medicina Tropical de Londres faz um adendo: “Também temos de ser cuidadosos em atribuir mortes apenas a água e ar poluído. Precisamos de vacinas e antibióticos e redes de mosquitos no caso da malária. Não se trata apenas de poluição”.

 “Todos temos responsabilidade na redução da poluição ambiental. Isto vai requerer mudanças na sociedade e cálculos do custo econômico da poluição e quanto custam medidas para evitá-la”, diz John  Holloway, professor de genética respiratória da Universidade de Southampton.

José Eduardo Mendonça

Jornalista com passagens por publicações como Exame, Gazeta Mercantil, Folha de S. Paulo. Criador da revista Bizz e do suplemento Folha Informática. Foi pioneiro ao fazer, para o Jornal da Tarde, em 1976, uma série de reportagens sobre energia limpa. Nos últimos anos vem se dedicando aos temas ligados à sustentabilidade.

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