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O que a plataforma Retrato das Desigualdades de Gênero e Raça nos conta de novo (e o que já sabemos)

Dados do projeto apontam que 21,2% das mulheres negras ocupadas não conseguem contribuir para a Previdência Social

ODS 10ODS 5 • Publicada em 29 de agosto de 2024 - 12:02 • Atualizada em 30 de agosto de 2024 - 16:24

Amo o jornalismo de dados. Sem dúvidas, ele é um nicho crucial para quem está comprometido com fontes e a veracidade dos fatos, sobretudo, em tempos de defesa da interseccionalidade. Já há alguns anos, acompanho o projeto Retrato das Desigualdades de Gênero e Raça – uma parceria entre o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), a Entidade das Nações Unidas para a Igualdade de Gênero e o Empoderamento das Mulheres (ONU Mulheres) e o Ministério das Mulheres. Com 20 anos de existência,  ele apresenta uma gama de informações sobre as desigualdades da agenda pública de gênero e raça que ainda atravessam (e atrapalham) nosso país. 

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Pesquisar é um ato político. São mais de 300 indicadores produzidos e analisados e mais de dois mil gráficos disponíveis para download. Embora reconheça que o jornalismo de dados seja crucial no combate à desinformação, ainda nos falta maestria para contrapor, problematizar e relacionar com múltiplas realidades. Pessoalmente, gosto de acompanhar o desenvolvimento de estatísticas, mas sei que isso não basta. Por isso, ferramentas como o Mapa da Desigualdade 2023, da Casa Fluminense, e o portal Política por Inteiro, do Instituto Talanoa, são tão disruptivas. 

Retrato das Desigualdades de Gênero e Raça: 21,2% das mulheres negras ocupadas não conseguem contribuir para a Previdência Social (Foto: Agência Brasil)
Retrato das Desigualdades de Gênero e Raça: 21,2% das mulheres negras ocupadas não conseguem contribuir para a Previdência Social (Foto: Agência Brasil)

Voltando ao estudo, vale lembrar que as informações coletadas nas pesquisas são do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).  A primeira rodada foi datada entre o período de 1995 a 2015.  A segunda rodada, lançada em agosto, marca o período de 2016 a 2022  com base nos dados coletados pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC).

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O que já sabemos é o de sempre: no Brasil, temos 56% da população que são parte-ônus da história do retrato de gênero e raça. As desigualdades tão entranhadas na sociedade nos colocam de frente ao racismo e sexismo na sociedade cotidianamente. Quem são as pessoas que servem e que são servidas, quem são pessoas que sobrevivem e perdem sua vida, quem são as pessoas que representam vozes de autoridade no país?

Conhecimento é poder! As respostas só existem porque lutamos para produzir e disseminar dados desagregados para a construção de políticas públicas baseadas em evidências. Nas dimensões da agenda transversal, os principais temas de análise são: 1) população; 2) famílias; 3) educação; 4) tempo total de trabalho; 5) trabalho doméstico e de cuidados não remunerados; 6) trabalho para o consumo não voluntário; 7) mercado de trabalho; 8) renda, pobreza e desigualdade; 9) previdência; 10) acesso a bens duráveis e tecnologia de implementação. 

Para pessoas racializadas, há um compromisso político pela sobrevivência. Entre as categorias mencionadas, um dos dados que me atravessou profundamente foi o seguinte: 21,2% das mulheres negras ocupadas não conseguem contribuir para a Previdência Social. Além disso, em 2022, apenas 52% das mulheres negras e 54% das mulheres brancas participavam do mercado de trabalho remunerado – contra 75% dos homens negros e 74% dos homens brancos. 

Me deparar com esses dados me levou a um surto. Fiquei desesperada pensando nas presentes e futuras gerações. Não existe outro caminho de enfrentamento à inovação em políticas públicas senão a informação. Por isso, a partir de então, minhas próximas colunas no #Colabora serão baseadas nos temas de análise da plataforma Retrato das Desigualdades de Gênero e Raça. Afinal, são muitos dados relevantes para ficarem limitados em planilhas e números de um portal que ainda peca na divulgação e parceria com veículos e mídias alternativas. As desigualdades de gênero e raça nos níveis municipal, estadual e federal são graves e o único caminho possível que vejo, hoje, é o compromisso com o jornalismo de dados traduzido com didática e narrativa acessível. 

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