Na pandemia, alunos de colégio particular levam livros e reforço escolar a favelas

Voluntários do Projeto EducaFunding – iniciativa que consiste na arrecadação de livros e apostilas didáticos / Foto: arquivo pessoal

Em artigo, estudantes falam sobre a iniciativa, que já conta com 20 voluntários: "sair das nossas bolhas sociais é necessário'

Por Felipe Camarão e Manuella Tuffani | ODS 10ODS 4 • Publicada em 12 de novembro de 2020 - 09:00 • Atualizada em 18 de novembro de 2020 - 08:58

Voluntários do Projeto EducaFunding – iniciativa que consiste na arrecadação de livros e apostilas didáticos / Foto: arquivo pessoal

A pandemia e o ensino à distância nos trouxeram um aprendizado que vai além das aulas e dos livros. Foi no início do segundo semestre, quando conversávamos sobre o quanto o EAD vinha sendo complicado para nós – alunos de uma grande e tradicional escola particular do Rio de Janeiro – e como ele nos trazia a sensação de improdutividade, que veio à tona uma questão que muito nos incomodava: se o isolamento social imposto pelo novo coronavírus dificultou nossos estudos, imagina o impacto dele naqueles que não estão tendo nenhum tipo de aula online?

Sair de nossas bolhas sociais é necessário e parte de uma sensação de realização. Ajuda a formar laços e conexões com pessoas que, por mais que possam aparentar, não estão tão distantes de nós

Essa inquietação nos fez entrar em contato com moradores de comunidades que já administravam projetos sociais para tentar ajudar. E assim surgiu o Projeto EducaFunding – iniciativa que consiste na arrecadação de livros e apostilas didáticos (através de doações diretas ou comprados com os fundos advindos de uma vaquinha on-line) destinados a alunos do 6º ano do Ensino Fundamental à 3º série do Ensino Médio de escolas públicas. Com dificuldades de acesso à internet e à tecnologia em geral, muitas vezes sem computadores e até mesmo celulares, eles estão tendo sua aprendizagem ainda mais prejudicada nesta pandemia.

Desde então, já arrecadamos cerca de R$ 3.800 e distribuímos mais de 500 livros pela Rocinha e por Rio das Pedras. E, à medida que o projeto foi sendo desenvolvido, expandimos a ação criando um reforço on-line que, a princípio, tem como foco as famílias destas comunidades que já possuíam um pacote de internet. A iniciativa já conta com vinte voluntários que dão aulas semanais de Matemática e Português – através de plataformas como o Zoom e o Google Meet – para os estudantes, como um complemento ao conteúdo presente nos livros doados. Entre esses voluntários estão pessoas das próprias comunidades e outros alunos do nosso colégio. Só na Rocinha até agora são onze jovens beneficiados.

Mas o EducaFunding vem representando muito mais que esses números e conquistas para a gente. Graças às atividades voluntárias a que temos acesso por iniciativa da nossa escola, a vontade de ajudar ao próximo despertou-se espontaneamente em nós, que sempre procuramos entrar em contato com realidades diferentes das nossas. E ver o sorriso no rosto de quem ajudamos sempre era o ponto alto de nossos dias de voluntariado, trazendo um sentimento terapêutico que, na verdade, beneficia tanto o próximo quanto a nós mesmos.

E essa tem sido a importância do Projeto EducaFunding: não apenas promover a importância da educação, mas despertar essa emoção novamente em nós.

Sair de nossas bolhas sociais é necessário e parte de uma sensação de realização. Ajuda a formar laços e conexões com pessoas que, por mais que possam aparentar, não estão tão distantes de nós. Esse sentimento muda como vemos o mundo ao nosso redor e é a melhor forma de autoconhecimento, já que, enquanto nos cura, também nos inquieta. Afinal, a inquietação com nossos privilégios é a motivação do Projeto EducaFunding; que transforma você, o próximo e o mundo.

 

Felipe Camarão e Manuella Tuffani

Felipe Camarão e Manuella Tuffani têm 16 anos e são alunos da 1ª série do Ensino Médio do Colégio Santo Inácio

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