Pesquisadores desenvolvem linha de costura com função antibacteriana

Material criado pela Univasf a partir de um fio de algodão é capaz de armazenar energia e elimina bactérias causadoras de infecções na pele

Por Amanda Palma | ODS 3ODS 4 • Publicada em 13 de agosto de 2019 - 09:30 • Atualizada em 13 de agosto de 2019 - 16:04

Grupo do Laboratório de Espectroscopia de Impedância e Materiais Orgânicos da Universidade Federal do Vale do São Francisco: linha de costura que armazena energia (Foto: Divulgação)
Grupo do Laboratório de Espectroscopia de Impedância e Materiais Orgânicos da Universidade Federal do Vale do São Francisco: linha de costura que armazena energia já testada em luvas (Foto: Divulgação)

Uma linha que prega botões e sela uma barra de bainha deixou de ter apenas a sua função de costura. Agora, ela pode ser uma condutora de eletricidade e ainda ser bactericida. Pode parecer estranho, mas a linha de costura tornou-se um dispositivo vestível – tecnologia que pode ser usada como uma roupa como os relógios com computadores ou as pulseiras que controlam exercícios físicos – a partir de uma pesquisa desenvolvida no campus de Juazeiro (BA), da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf).

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“Com a crescente produção dos dispositivos vestíveis em todo mundo, pensamos em apostar em um material que, além de vestível, tivesse diversas aplicações. O material que desenvolvemos a partir de um fio de algodão possui a capacidade de armazenar energia, funciona como um aquecedor elétrico e elimina bactérias causadoras de infecções na pele”, explica o professor Helinando Oliveira, coordenador do Laboratório de Espectroscopia de Impedância e Materiais Orgânicos (Leimo), onde foi desenvolvida a pesquisa.

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Cinco pesquisadores participaram do estudo, que desenvolveu fibras de algodão modificadas com nanotubos de carbono e polímeros condutores. Assim, o tecido inteligente pode controlar a temperatura de partes do corpo humano, armazenar energia e inibir o crescimento e propagação de bactérias. As pesquisas sobre as fibras de algodão começaram em 2017, através do trabalho de mestrado de um dos membros do grupo de pesquisa sobre eletrônicos e dispositivos flexíveis.

Aquecimento local (em graus centígrados) proporcionado pela linha condutora costurada ao dedo indicador da luva (Divulgação)
Aquecimento local (em graus centígrados) proporcionado pela linha condutora costurada ao dedo indicador da luva (Divulgação)

A inovação foi tanta que o artigo produzido a partir da pesquisa teve destaque internacional e foi publicado pela revista americana ACS Applied Materials & Interfaces. O trabalho também foi reconhecido pela Sociedade Brasileira de Pesquisa em Materiais (SBPMat).

De acordo com o professor Helinando, por enquanto, os fios de algodão foram testados apenas em pequenos protótipos, como luvas, mas o material pode ser usado em qualquer tipo de roupa, sem restrições. Ela também é resistente a lavagens e não tem suas propriedades alteradas.

As fibras de algodão se enquadram no que se chama de dispositivo vestível, ou seja, dispositivos que são iguais a peça de roupas, mas que têm outras funções além da vestimenta. No caso, os pesquisadores transformaram a simples fibra de algodão em um dispositivo tecnológico.

Supercapacitor baseado nas linhas de costura de algodão que servem como condutoras de energia (Foto: Divulgação)
Supercapacitor baseado nas linhas de costura de algodão que servem como condutoras de energia (Foto: Divulgação)

Com as linhas, os tecidos podem ter função terapêutica, visto que se tornam aquecidas e podem ser utilizadas em tratamentos que envolvem a aplicação de temperatura, como a termoterapia no caso das luvas. Além disso, o dispositivo se torna antibacteriano, evitando a proliferação de doenças, principalmente as de pele.

Processo

As fibras de algodão foram revestidas com nanotubos de carbono e polipirrol, a partir de duas etapas: na primeira, pedaços da linha são submergidos em uma tinta de nanotubos de carbono para aumentar sua interação com o algodão. Na segunda etapa, o tecido é revestido de polipirrol. Foram realizados alguns testes até chegar no melhor modelo de fibra condutora.

A partir dessa pesquisa, o grupo agora trabalha para aperfeiçoar a função de supercapacidade da fibra. “Supercapacitores são dispositivos que têm uma enorme capacidade de armazenar energia, podendo em um futuro próximo substituir inclusive as baterias convencionais. O intuito é de melhorar o seu desempenho no armazenamento de energia”, explica o professor Helinando. O próximo passo é melhorar a ação antibacteriana do dispositivo no qual a linha é usada.

Ao, todo foram investidos cerca de R$ 1,5 milhão nos equipamentos utilizados na pesquisa, a partir de recursos Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia do Estado de Pernambuco (Facepe), Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e CNPq, além da Capes, que disponibilizou as bolsas dos estudantes.

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