Fumar e amamentar: combinação para filho obeso

Mãe fumando com bebê no colo: pesquisa indica que tabagismo materno leva à obesidade do filho quando adulto (Foto: MAY/BSIP/AFP)

Pesquisa da Uerj mostra que tabagismo materno no período de amamentação aumenta probabilidade do bebê se tornar um adulto obeso

Por Oscar Valporto | ODS 3ODS 4 • Publicada em 8 de dezembro de 2019 - 10:46 • Atualizada em 14 de maio de 2020 - 12:19

Mãe fumando com bebê no colo: pesquisa indica que tabagismo materno leva à obesidade do filho quando adulto (Foto: MAY/BSIP/AFP)
Mãe fumando com bebê no colo: pesquisa indica que tabagismo materno leva à obesidade do filho quando adulto (Foto: MAY/BSIP/AFP)
Mãe fumando com bebê no colo: pesquisa indica que tabagismo materno leva à obesidade do filho quando adulto (Foto: MAY/BSIP/AFP)

Tabagismo das mães durante o período da amamentação, após o término da gravidez, aumenta a probabilidade da criança apresentar obesidade na vida adulta, de acordo com pesquisa desenvolvida na Universidade do Estado do Rio Janeiro (Uerj), pela nutricionista Thamara Cherem Peixoto, que cursa o doutorado no Programa de Pós-Graduação em Biociências, com apoio da Faperj. Alterações nutricionais e ambientais, como o uso de cigarro durante a amamentação, podem levar a obesidade em função da disfunção do tecido adiposo marrom.

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Como muitas mães param de fumar durante a gestação, mas retornam durante a lactação acreditando que não vão prejudicar seus filhos utilizamos os modelos experimentais de tabagismo materno durante a lactação para entender melhor os malefícios que o cigarro pode acarretar a longo tempo para esses descendentes, mesmo após a retirada da exposição

A pesquisadora explica que este tecido nos mamíferos está relacionado à termogênese- mecanismo que permite dispersar energia sobre forma de calor – e à regulação do gasto energético. “O tabagismo durante a lactação reduz a capacidade termogênica desse tecido, ou seja, o indivíduo gasta menos energia, o que favorece o acúmulo de peso e gordura corporal”, explica Thamara.

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A pesquisa começou em 2018, através de experimentos em ratos do tipo Wistar, incluindo mães e filhotes. “Como muitas mães param de fumar durante a gestação, mas retornam durante a lactação acreditando que não vão prejudicar seus filhos utilizamos os modelos experimentais de tabagismo materno durante a lactação para entender melhor os malefícios que o cigarro pode acarretar a longo tempo para esses descendentes, mesmo após a retirada da exposição”, explicou a nutricionista.

De acordo com o estudo, a obesidade desenvolvida pode ser explicada pela a redução da capacidade termogênica do tecido adiposo marrom dos filhotes. “Vimos que uma disfunção no tecido adiposo marrom dos filhotes, relacionada à redução da atividade simpática do nervo que vai para esse tecido, compromete a atividade termogênica, favorecendo o acúmulo de gordura corporal”, explicou Thamara.

No modelo aplicado, a pesquisa foi desenvolvida com ratos Wistar e, principalmente, com tecido adiposo marrom, tecido adiposo branco e hipotálamo. O estudo foi desenhado com três diferentes desenhos experimentais (modelos fumaça, nicotina e desmame precoce). Cada experimento durou em torno de oito meses e envolveu etapas de acasalamento, gestação (3 semanas), lactação (3 semanas), programação (26 semanas), além do período dedicado as análises (6 meses por modelo).

Já foi demonstrado em animais experimentais que o desmame precoce (retirada da amamentação exclusiva antes dos 6 meses) também é um fator de programação metabólica, uma vez que favorecem o aumento de peso e gordura corporal, alterações hormonais, resistência a leptina e redução da termogênese na idade adulta. Então a única opção seria o abandono do vício

Os experimentos demonstraram que os filhotes desenvolvem obesidade, resistência à insulina e à leptina. Foi constatado ainda que também existe uma disfunção do tecido adiposo marrom que compromete a atividade termogênica, favorecendo o acúmulo de gordura. Os resultados deste estudo foram publicados recentemente em periódicos científico, o mais recente na revista Neuroscience, da International Brain Research Organization (IBRO).

Para a pesquisadora, o trabalho desenvolvido na Uerj vai ajudar a entender melhor doenças dos seres humanos e servir de base para políticas de saúde. “Esses conhecimentos permitem que as autoridades públicas criem políticas para alertar as mulheres fumantes sobre os riscos impostos às crianças durante a amamentação, mesmo que as mães fumem longe de seus filhos, ajudar entender melhor quais mecanismos estão envolvidos na obesidade, e prevenir ou tratar adequadamente os distúrbios tardios.”, argumentou Thamara.

A nutricionista refutou enfaticamente a possibilidade de as mães fumantes deixaram de amamentar para evitar os prejuízos futuros aos bebês.   “Já foi demonstrado em animais experimentais que o desmame precoce (retirada da amamentação exclusiva antes dos 6 meses) também é um fator de programação metabólica, uma vez que favorecem o aumento de peso e gordura corporal, alterações hormonais, resistência a leptina e redução da termogênese na idade adulta. Então a única opção seria o abandono do vício, pois a retirada do leite materno antes do tempo recomendado pela Organização Mundial de Saúde (6 meses) também é prejudicial à saúde”, destacou.

A série #100diasdebalbúrdiafederal terminou, mas o #Colabora vai continuar publicando reportagens para deixar sempre bem claro que pesquisa não é balbúrdia.

Oscar Valporto

Oscar Valporto é carioca e jornalista – carioca de mar e bar, de samba e futebol; jornalista, desde 1981, no Jornal do Brasil, O Globo, O Dia, no Governo do Rio, no Viva Rio, no Comitê Olímpico Brasileiro. Voltou ao Rio, em 2016, após oito anos no Correio* (Salvador, Bahia), onde foi editor executivo e editor-chefe. Contribui com o #Colabora desde sua fundação e, desde 2019, é um dos editores do site onde também pública as crônicas #RioéRua, sobre suas andanças pela cidade

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