ODS 1
Software ajuda a agilizar coleta de sangue no Rio Grande do Norte
Desenvolvido por pesquisadores da Ufersa, ‘Doar’ funciona em Mossoró, mas objetivo é integrá-lo a unidades de todo o estado
Um software desenvolvido por pesquisadores da Universidade Federal Rural do Semi-Árido (Ufersa), no Rio Grande do Norte, está ajudando a organizar e otimizar o estoque de sangue no interior do estado. Desde maio, está em funcionamento um projeto piloto no Hemocentro de Mossoró. O objetivo é integrá-lo a outras unidades.
Chamado de “Doar”, o sistema é composto por dois módulos: gestão de inventário e gestão de doadores. O primeiro permite estabelecer níveis de estoque de cada componente do sangue. Isso possibilita criar uma meta de coleta semanal para cada tipo de sangue e definir quais derivados (hemácias, plasma, plaquetas) devem ser produzidos a partir das bolsas coletadas.
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Veja o que já enviamosJá a partir da gestão de doadores é possível identificar automaticamente a baixa de um tipo específico de sangue no hemocentro e, dessa forma, agilizar o pedido de novas doações. Antes do software, esse tipo de informação, na unidade de Mossoró, era processada manualmente pelo setor de distribuição até chegar à assistência social, o que poderia demorar alguns dias.
Agora, a quantidade de bolsas de cada tipo sanguíneo fica disponível no sistema e é possível agilizar a captação de novas coletas com mais antecedência, evitando que o estoque chegue a um ponto crítico. O sistema também é capaz de relacionar os doadores aptos e disponibilizar às assistentes sociais a funcionalidade de agendamento de doação por dia e horário.
“Com base na informação sobre o número de bolsas, conseguimos ligar para os doadores ou fazer campanhas nas redes sociais para conseguir coletas, principalmente para os tipos sanguíneos mais raros como A e O negativos”, conta Francisca Alda Sales Barbosa, assistente social do Hemocentro de Mossoró.
Alda explica que a unidade atende a hospitais de 27 municípios da Região Oeste do Rio Grande do Norte e que recebe, em média, 700 bolsas de sangue por mês, com validade de até 40 dias. É bem menos que o necessário: o ideal é ter algo em torno de 1200 unidades.
Excelência e baixo custo
O software foi desenvolvido em 11 meses pelos alunos dos cursos de Engenharia de Produção e Ciência da Computação da Ufersa. Um dos envolvidos no projeto, Paulo Gabriel Gadelha Queiroz, professor de Ciência da Computação, explica que o aplicativo foi criado em uma plataforma web e pode ser acessado por qualquer computador que esteja na rede do hemocentro em que foi instalado.
“O objetivo do ‘Doar’ é melhorar o dimensionamento dos níveis de inventário dos hemocomponentes, considerando o histórico de saídas, por meio dos modelos de gerenciamento de estoque adaptados para a realidade dos hemocentros brasileiros”, diz Queiroz. “A proposta é oferecer apoio ao gerenciamento de captação de bolsas de sangue, por meio de um sistema de interface simples e objetiva.”
A universidade viabilizou a primeira fase do software. Agora, em uma segunda etapa, de acordo com Queiroz, os pesquisadores buscam novas parcerias para adicionar algumas funcionalidades ao sistema, como a integração com outros hemocentros.
O professor destaca que a Ufersa foi imprescindível para viabilizar o projeto, pois forneceu a mão de obra qualificada e ainda cobriu os gastos. “Além disso, somente por meio da universidade pública seria possível realizar um projeto de tão grande importância e impacto para a sociedade com custo tão baixo.”
Sobre a universidade e os cortes
A Ufersa possui 11.400 alunos matriculados em 42 cursos de graduação nos campi de Mossoró, Angicos, Caraúbas e Pau dos Ferros, no interior do Rio Grande do Norte. Segundo a instituição, 51% dos alunos vêm de famílias cuja renda não atinge dois salários mínimos. O quadro de servidores é formado por 1.258 pessoas, sendo 702 professores (184 mestres e 489 doutores) e 556 técnicos.
De acordo com a instituição, para este ano havia um orçamento aprovado de R$ 290 milhões. Desse montante, quase 240 milhões são destinados à folha de pagamento. Para o custeio da universidade estavam previstos R$ 43 milhões em material de consumo, terceirizados e serviços; outros R$ 8 milhões eram destinados a obras e equipamentos. Segundo a Ufersa, se os valores bloqueados não forem revertidos, serão cortados da universidade mais de R$ 12 milhões do custeio, o equivalente a 30% do orçado, e R$ 3,6 milhões de capital, ou seja, 45% do planejado.
Sendo assim, a universidade teria de empenhar um recurso superior a 21 milhões de reais, mas só tem disponíveis R$ 12 milhões. A estimativa é que se efetivado o bloqueio, considerando os gastos essenciais para o funcionamento acadêmico e administrativo, os recursos da universidade são suficientes para manter as despesas somente até o mês de agosto.
[g1_quote author_description_format=”%link%” align=”center” size=”s” style=”solid” template=”01″]24/100 A série #100diasdebalbúrdiafederal pretende mostrar, durante esse período, a importância das instituições federais e de sua produção acadêmica para o desenvolvimento do Brasil.
[/g1_quote]Jornalista, trabalha com temas principalmente ligados à educação. Já passou pelas redações do G1 e dos jornais Agora São Paulo e Diário do Grande ABC. Atua como colaboradora de BBC Brasil, Folha de S.Paulo, Porvir, Universa e Revista GOL.