UFMT desenvolve larvicida contra mosquito da dengue

A pesquisadora Janaína Rosa de Souza: composto a base de molécula de vegetal para matar larva do mosquito transmissor da dengue (Foto; Arquivo Pessoal)

Produto foi feito por meio da síntese de molécula encontrada em vegetais, testes demonstraram que a substância não afeta outros organismos vivos

Por Carolina Moura | ODS 3 • Publicada em 22 de junho de 2019 - 08:00 • Atualizada em 10 de fevereiro de 2022 - 18:34

A pesquisadora Janaína Rosa de Souza: composto a base de molécula de vegetal para matar larva do mosquito transmissor da dengue (Foto; Arquivo Pessoal)

Para reduzir o número de casos de dengue, chikungunya e zika, um grupo de pesquisadores da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT) desenvolveu um projeto científico para criar compostos com o objetivo de conter a transmissão das doenças.  “A pesquisa faz parte do meu projeto de doutorado iniciado em 2017. A ideia era estudar e criar compostos eficazes como mais uma alternativa no combate ao mosquito Aedes aegypt que transmite dengue e a chikungunya, entre outras doenças”, explicou Janaína Rosa de Souza.

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O produto foi feito através da síntese de quatro compostos derivados do indol, um núcleo presente em moléculas de vegetais que apresentam diferentes atividades biológicas e exercem uma variedade de efeitos. São importantes porque, por exemplo, servem como sinalizadoras em vegetais durante o ataque de herbívoros. “A gente teve a ideia de desenvolver compostos que fossem eficientes na fase inicial do inseto, ou seja, na fase mais sensível do vetor e que tivesse impacto para o organismo alvo, que é o mosquito”, acrescenta.

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O produto líquido desenvolvido pelos pesquisadores não polui o meio ambiente e combate ao mosquito logo na sua primeira fase, enquanto ainda é larva. “Nós testamos esses compostos nas larvas dos Aedes e verificamos que houve uma atividade larvicida. Testamos em organismos modelos também, que não são larvas, para saber se iria afetar. E não afetou, então seguimos em frente”, acrescentou a pesquisadora, formada em Ciências Biológicas pela UFMT. “Esses modelos de organismos são usados em pesquisas para avaliar a toxicidade de um composto ou produto. Servem para verificar se aquele produto que estamos propondo vai provocar algum dano a organismos que não sejam nosso foco”, explicou Janaína.

Teste do composto no laboratório da UFMT: produto patenteado (Foto: Arquivo Pessoal)
Teste do composto no laboratório da UFMT: produto patenteado (Foto: Arquivo Pessoal)

Diante do resultado do produto, o grupo de pesquisa da UFMT solicitou ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) o registro de patente desses compostos.  Uma patente, segundo a pesquisadora, é um tipo de propriedade temporária e oficial, dado por lei à pessoa física ou jurídica e dá direitos exclusivos sobre esse produto.

Janaína Rosa de Souza é orientada pelo professor e pesquisador Marcos Antônio Soares, do Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conservação da Biodiversidade. De acordo com Marcos Soares, com a pesquisa, a UFMT tem uma ferramenta importante para combater ao Aedes aegypti. “Com este produto, é possível eliminar a fase larval de um inseto causador de diferentes doenças”, afirmou.

Até o fim de maio, o Brasil registrou quase 1 milhão de casos de dengue – cinco vezes mais do que no mesmo período do ano passado. O número de mortes por dengue no país também aumentou: é quase três vezes maior neste ano em relação ao mesmo momento de 2018. De acordo com último boletim do Ministério da Saúde, divulgado no início de junho, eram 295 as mortes por dengue; no mesmo momento do ano passado, o Brasil tinha registrado 99 mortes pela doença transmitida pelo aedes.

No caso da chikungunya, foram 12 mortes registradas até o início de junho (uma na Bahia, 10 no Rio de Janeiro e uma no Distrito Federal). Há outras 42 mortes ainda em investigação em Pernambuco. Já são mais de 53 mil casos prováveis da doença, abaixo dos 57 mil registrados no mesmo período do ano passado. O Rio de Janeiro é o estado com maior número de casos: quase 36 mil.

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Carolina Moura

Jornalista com interesse em Direitos Humanos, Segurança Pública e Cultura. Já passou pela Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), Jornal O DIA e TV Bandeirantes. Como freelancer já colaborou com reportagens para Folha de São Paulo, Al Jazeera, Ponte Jornalismo, Agência Pública e The Intercept Brasil.

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