ODS 1
Diário da Covid-19: Números globais da pandemia caem com o avanço da vacinação
Cerca de 125 milhões de doses já foram aplicadas em 65 países, mas o ritmo da imunização no Brasil ainda é muito lento
A melhor notícia das últimas semanas veio com a redução do número global de novos casos da covid-19, especialmente naqueles países que já avançam no processo de imunização. O registro diário de pessoas infectadas pela covid-19 bateu todos os recordes globais na segunda semana de janeiro de 2021, mas começou a cair a partir de meados do mês. Menor número de pessoas infectadas significa menos internações hospitalares nos dias seguintes e implica em menos mortes nas semanas posteriores. Assim, a curva global de casos começou a cair na segunda quinzena de janeiro e a curva de mortes começou a cair em fevereiro.
As quedas foram maiores nas Américas e na Europa. Por exemplo, os Estados Unidos (EUA) apresentavam uma média diária de 250 mil casos em meados de janeiro, passando para 125 mil em 06 de fevereiro e, no mesmo período, o Reino Unido que tinha 60 mil casos passou para 20 mil. A Índia – que tem uma população superior ao conjunto da Europa e da América Latina – apresentou uma média diária de quase 100 mil casos em setembro de 2020 e agora tem uma média pouco acima de 10 mil casos diários. Consequentemente, o número de mortes também está diminuindo nestes 3 países, assim como no restante do mundo.
No Brasil, a média móvel dos casos atingiu o pico de 55 mil pessoas com testes positivos no dia 12/01 e se manteve acima de 50 mil durante todo o mês de janeiro. Mas, felizmente, começou a cair em fevereiro. O número de mortes da covid-19 permaneceu acima de 1.000 óbitos diários, mas já apresenta sinais de queda. Alguns epidemiologistas alertam para a possibilidade de um novo surto pandêmico no Brasil em função da propagação das novas cepas do SARS-CoV-2. Porém, medidas preventivas (como o cancelamento do carnaval) e o avanço do processo de vacinação em massa podem evitar o pior. O mês de fevereiro vai ser decisivo para o controle da doença e o destino da pandemia no restante do ano no Brasil.
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Veja o que já enviamosO número internacional de vacinas aplicadas até o dia 05 de fevereiro chegou ao montante de 125 milhões de doses, o que engloba 1,6% da população mundial. Já são 65 países que iniciaram a imunização, mas a distribuição nacional é muito desigual. O país mais avançado na cobertura populacional é Israel com 62,1% dos habitantes já vacinados. Outros países no topo do ranking estão Emirados Árabes Unidos e Seychelles com 40%, Reino Unido com 17%, EUA com 11% e o Chile com 3%.
O Brasil, que está em 2º lugar no número acumulado de mortes e no número diário de casos da covid-19, tem seguido um ritmo muito lento de imunização, pois, depois de 20 dias da primeira pessoa inoculada em São Paulo, só conseguiu vacinar 1,5% de seus habitantes, metade da taxa do Chile. A dependência externa de insumos – como o ingrediente farmacêutico ativo (IFA) – dificulta uma rápida expansão da imunização. A esperança é que haja incremento da disponibilidade de mais doses com uma maior produção por parte da Fiocruz e do Instituto Butantan, assim como a incorporação de novas vacinas que estão sendo lançadas no cenário internacional.
O panorama nacional: 1,8 milhão de casos e 36 mil mortes da covid-19 em 37 dias de 2021
O Ministério da Saúde contabilizou 9.497.795 pessoas infectadas e 231.012 vidas perdidas no dia 06 de fevereiro de 2021, com uma taxa de letalidade de 2,4%. Nos primeiros 37 dias de 2021, o Brasil somou 1.821.822 casos (média de 50 mil por dia) e 36.063 vítimas fatais (975 óbitos por dia).
O gráfico abaixo mostra o número diário de casos da covid-19 e a média móvel de 7 dias entre 01 de março de 2020 e 06 de fevereiro de 2021. Nota-se que o número de casos aumentou rapidamente no primeiro semestre de 2020, atingiu o pico da 1ª onda em 29 de julho com média móvel de 46 mil diagnósticos positivos, caiu para 16,6 mil casos no dia 06 de novembro e subiu para 48 mil casos no dia 20 de dezembro. Houve redução dos registros no fim do ano e nova elevação em janeiro com o pico da 2ª onda no dia 12 de janeiro e recorde da média de 55 mil casos diários. Os números continuaram acima de 50 mil em janeiro, mas começaram a diminuir em fevereiro e a média móvel caiu para 45,8 mil casos no dia 06/02.
O gráfico abaixo, mostra o número diário de óbitos da covid-19 e a média móvel de 7 dias entre 17 de março de 2020 e 06 de fevereiro de 2021. O número de vítimas fatais subiu rapidamente até uma média acima de 1 mil mortes no início de junho e atingiu o pico da 1ª onda no dia 29 de julho com uma média móvel de 1.097 óbitos. Nos meses de agosto a outubro os números diários caíram e atingiram uma média móvel mínima de 329 óbitos no dia 11 de novembro. A partir daí o número de mortes voltou a apresentar tendência de alta, teve ligeira baixa no final do ano e atingiu o valor médio máximo do ano de 1.071 óbitos em 30/01. Em fevereiro houve nova baixa e a média móvel ficou em 1.010 óbitos no dia 06/02 (mas com viés de baixa).
A pandemia cresceu em todo o território nacional, mas atingiu de maneira diferenciada as 5 grandes regiões brasileiras. Os maiores números absolutos estão, evidentemente, na região Sudeste, pois é a região com 42% da população nacional. Mas o Sudeste possui o menor coeficiente de incidência (3.878 casos por 100 mil habitantes) e o terceiro coeficiente de mortalidade (120,1 óbitos por 100 mil). A região Sul tem o terceiro maior coeficiente de incidência (5.714 casos por 100 mil) e o segundo menor coeficiente de mortalidade (92,3 óbitos por 100 mil). A região Centro-Oeste apresenta o maior coeficiente de incidência (6.252 casos por 100 mil) e, empatado com a região Norte, o maior coeficiente de mortalidade (124 óbitos por 100 mil habitantes).
O Brasil apresenta coeficiente de incidência de 4.485 casos por 100 mil habitantes, bem acima do coeficiente global (1.356 casos por 100 mil) e apresenta coeficiente de mortalidade de 109,1 óbitos por 100 mil, quase quatro vezes o coeficiente global (29,6 óbitos por 100 mil habitantes).
As diferenças regionais se reproduzem nas Unidades da Federação. Os três estados com maiores coeficientes de incidência são Roraima, Distrito Federal e Amapá e com os menores coeficientes Pernambuco, Maranhão e Rio de Janeiro. Os maiores coeficientes de mortalidade estão no Amazonas, Rio de Janeiro e Distrito Federal e os menores no Maranhão, Bahia e Minas Gerais.
As diferenças nas capitais também são acentuadas. O maior coeficiente de incidência está em Boa Vista (RR) e os menores em São Luís (MA), Rio de Janeiro (RJ) e Belo Horizonte (MG).
Os maiores coeficientes de mortalidade estão em Manaus (AM) e no Rio de Janeiro (RJ) e os menores em Palmas (TO), Florianópolis (SC), e Belo Horizonte (MG).
Com 12,3 milhões de habitantes, São Paulo é a cidade mais populosa do Brasil e tinha o maior registro de óbitos da covid-19 entre as capitais do país. Contudo, com 17,5 mil óbitos, São Paulo foi ultrapassada pela cidade do Rio de Janeiro que apresentou 17,6 mil óbitos no dia 05 de fevereiro. A capital fluminense concentra atualmente o maior número acumulado de mortes da covid-19. Belo Horizonte com uma população de 2,5 milhões de habitantes registrou 2,3 mil óbitos no dia 05/02 número acumulado bem menor do que os 6,1 mil óbitos de Manaus (com população de 2,2 milhões de habitantes), conforme mostra o gráfico abaixo.
O gráfico abaixo mostra que o coeficiente de incidência de Manaus era o mais alto em meados do ano passado, foi ultrapassado pela cidade de São Paulo e voltou a apresentar valores mais elevados, especialmente nos primeiros 37 dias de 2021. Belo Horizonte tinha um menor coeficiente de incidência, mas ultrapassou a cidade do Rio de Janeiro em 2021. Na verdade, tudo indica que o registro de casos na Cidade Maravilhosa esteja bastante subestimado.
O gráfico abaixo mostra que o coeficiente de mortalidade para as mesmas capitais e o Brasil. Nota-se que a cidade do Rio de Janeiro havia ultrapassado Manaus em meados do ano passado e agora foi ultrapassado pela capital do Amazonas. No dia 05/02/2021, Manaus tinha um coeficiente de mortalidade de 280 óbitos por 100 mil habitantes, Rio de Janeiro 262 óbitos por 100 mil, São Paulo 144 óbitos por 100 mil, o Brasil 110 óbitos por 100 mil e Belo Horizonte 94 óbitos por 100 mil habitantes.
O panorama global
No dia 06 de fevereiro de 2021, o mundo chegou a 105,8 milhões de pessoas infectadas e a 2,3 milhões de vidas perdidas pela covid-19, com taxa de letalidade de 2,2%, segundo o site Our World in Data, com base nos dados da Universidade Johns Hopkins. Nos primeiros 37 dias de 2021 o mundo registrou 22,3 milhões de casos (média diária de 603 mil casos) e 490 mil vidas perdidas (média diária de 13,3 mil óbitos).
O gráfico abaixo, mostra o número diário de casos da covid-19 e a média móvel de 7 dias entre 01 de fevereiro de 2020 e 06 de fevereiro de 2021. Nota-se que o crescimento foi contínuo durante o ano passado, com uma aceleração em outubro até o pico de cerca de 650 mil casos em média no dia 22 de dezembro. Houve uma pequena redução no final de dezembro e uma nova subida em janeiro de 2021 com o recorde de quase 750 mil casos em média no dia 11 de janeiro. Mas a partir de meados de janeiro a média móvel caiu rapidamente e chegou a 450 mil casos no dia 06/02. Portanto, ocorreu uma redução de quase 300 mil casos diários.
O gráfico abaixo, mostra o número diário de óbitos da covid-19 e a média móvel de 7 dias entre 01 de fevereiro de 2020 e 06 de fevereiro de 2021. Nota-se que a média móvel apresentou um pico de cerca de 7 mil óbitos diários no dia 15/04, uma queda nos meses seguintes até o valor perto de 5 mil óbitos em 15/10 e uma nova subida até o pico de quase 12 mil óbitos diários na véspera do Natal. Os valores caíram no final de dezembro e voltaram a subir em janeiro, quando marcou um novo pico no dia 26/01 com uma média de cerca de 14,7 mil óbitos diários. Mas em fevereiro os números, embora ainda em alto patamar, caíram para uma média de 12,6 mil óbitos no dia 06/02/2021.
O ano de 2021 começou com números assustadores da covid-19. O pico mais elevado do número de casos de toda a pandemia aconteceu na semana de 03 a 09 de janeiro de 2021 e o zênite do número de óbitos aconteceu na semana de 24 a 30 de janeiro. Venturosamente, o número de casos começou a cair a partir de meados de janeiro e o número de mortes começou a cair em fevereiro. A perspectiva é que os números diários da pandemia continuem diminuindo à medida em que, por um lado, o Poder Público e a sociedade civil se engajem efetivamente em medidas preventivas consistentes (inclusive combatendo o poder destruidor das fake news e do negacionismo) e, por outro lado, o processo de vacinação se expanda entre os países e dentre os territórios nacionais de todo o mundo.
Mas o vírus SARS-CoV-2 (em todas as suas mutações) não vai desaparecer de uma hora para outra. A expectativa é que os números de casos e de mortes diminua progressivamente ao longo dos próximos meses e que a doença perca a sua forma pandêmica, mas, provavelmente, assuma a forma endêmica. Os impactos ocorridos em 2020 já foram extraordinários, mas não vão ficar localizados no passado. A crise da covid-19 e suas consequências permanecerão entre nós (toda a humanidade) por muitos anos. Isto trará implicações para a macroeconomia, a geopolítica, o sistema financeiro, a indústria, os serviços, a agricultura, o mercado de trabalho, o meio ambiente, a ciência e a tecnologia, as áreas de saúde, educação e lazer e para as relações de gênero, raça e justiça social.
A prestigiosa revista acadêmica, Population and Development Review, da área de demografia, publicou uma edição especial, agora em fevereiro de 2021, buscando discutir como a covid-19 vai afetar a dinâmica e a pesquisa demográfica nos próximos cinco a dez anos. São 16 ensaios (de livre acesso) com reflexões sobre a realidade demográfica global com destaque para as questões de desigualdade e governança. O fato é que a covid-19 afeta não somente a economia, mas os eventos essenciais da vida, como natalidade, mortalidade, nupcialidade, migração, arranjos familiares, relações intergeracionais etc. Se não houver um contraponto aos efeitos negativos da enfermidade, a pandemia pode desfazer décadas de progresso e colocar em dúvida os sonhos iluministas sobre a capacidade da inteligência de vencer a pobreza, o preconceito, o fatalismo, as crendices e as superstições. Sem embargo, é cada vez mais certo que somente a racionalidade – sustentada na liberdade de pensar e agir – será capaz de construir as bases de um mundo mais justo, feliz, saudável e próspero.
Frase do dia 07 de fevereiro de 2021
“O conhecimento é a saída do ser humano de sua menoridade, da qual é o próprio culpado. A menoridade é a incapacidade de se servir de seu entendimento sem a direção de outrem. O ser humano é culpado por essa menoridade quando sua causa não reside numa deficiência intelectual, mas na falta de decisão e de coragem de usar a razão sem a tutela alheia. Sapere aude! Ousa servir-te de tua razão! Eis a divisa do Iluminismo” .
Immanuel Kant (1724 – 1804), filósofo alemão
Referência:
Landis MacKellar, Rachel Friedman (Editors), Covid-19 and the Global Demographic Research Agenda. Population and Development Review, Essays (February 2021)
José Eustáquio Diniz Alves é sociólogo, mestre em economia, doutor em Demografia pelo Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (Cedeplar/UFMG), pesquisador aposentado do IBGE, colaborador do Projeto #Colabora e autor do livro "ALVES, JED. Demografia e Economia nos 200 anos da Independência do Brasil e cenários para o século" (com a colaboração de F. Galiza), editado pela Escola de Negócios e Seguro, Rio de Janeiro, 2022.