Diário da Covid-19: Pandemia deu trégua em novembro, mas sem festas em dezembro

Manifestação em memória das vítimas da Covid-19 no Rio de Janeiro. Foto Fabio Teixeira/NurPhoto via AFP. Novembro/2021

Não podemos esquecer jamais que tivemos 194,9 mil mortes em 2020 e 420,6 mil vidas perdidas em 2021

Por José Eustáquio Diniz Alves | ODS 3 • Publicada em 5 de dezembro de 2021 - 12:01 • Atualizada em 10 de dezembro de 2021 - 09:25

Manifestação em memória das vítimas da Covid-19 no Rio de Janeiro. Foto Fabio Teixeira/NurPhoto via AFP. Novembro/2021

As médias de casos e de mortes da covid-19 no Brasil caíram em novembro de 2021 e já estão no patamar de abril do ano passado. O número de internações hospitalares também caiu e o sistema de saúde tem trabalhado com certa folga. Mas o futuro é incerto e o surgimento de novas variantes do coronavírus já está inviabilizando as festas natalinas e as grandes aglomerações públicas na passagem do ano. São Paulo, a maior cidade do país, anunciou o cancelamento do réveillon e manteve o uso obrigatório de máscaras em ambientes abertos e fechados. Logo em seguida, no sábado (04/12), o prefeito do Rio de Janeiro também anunciou o cancelamento do réveillon carioca, o maior e mais tradicional do país. Há muita incerteza no ar quanto ao futuro imediato.

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Embora tenha sido um dos países mais impactados pela covid-19, o Brasil deixou para trás as elevadas taxas de casos e mortes que prevaleceram no 1º semestre do corrente ano. A pandemia está mais controlada em dezembro de 2021 do que em dezembro de 2020. Apesar dos percalços, a sociedade brasileira tem conseguido vencer algumas batalhas contra o vírus, porém, ainda não ganhou a guerra. Portanto, ainda não é o momento de baixar a guarda contra o coronavírus.

O gráfico abaixo mostra a evolução da média diária de casos da covid-19 nos meses de março de 2020 a novembro de 2021. O pico da 1ª onda aconteceu em julho de 2020 com 40,7 mil pessoas infectadas. O pico da 2ª onda ocorreu em março de 2021 com 70,9 mil casos. Nos três meses seguintes os números ficaram acima de 60 mil indivíduos infectados. Mas, a partir de junho, a média diária de casos caiu de maneira continuada e ficou abaixo de 10 mil casos em novembro, o menor valor desde abril de 2020. Portanto, a 3ª onda foi evitada, embora o constante perigo de contágio esteja à espreita, em função das novas variantes do SARS-CoV-2.

O gráfico abaixo mostra a média mensal de vidas perdidas para a covid-19 no Brasil de março de 2020 a novembro de 2021. O pico da 1ª onda aconteceu em julho de 2020 com 1.061 óbitos diários. O pico da 2ª onda ocorreu em abril de 2021 com 2.742 óbitos diários. Mas desde abril o número de vítimas fatais da pandemia tem caído continuamente, chegando na média de 229 óbitos diários em novembro, o menor valor desde maio de 2020.

Segundo o Ministério da Saúde, o Brasil atingiu 21,1 milhões de pessoas infectadas (cerca de 10% da população nacional) e 615.570 mortes pela covid-19, com uma taxa de letalidade de 2,8%, no dia 04 de dezembro de 2021. Foram 194,9 mil mortes em 2020 e 420,6 mil mortes em 2021. Mas na primeira semana de dezembro de 2021, a média móvel de infectados ficou abaixo de 9 mil casos diários e a média móvel de mortes ficou abaixo de 200 óbitos diários, valores mais baixos do que os apresentados em novembro.

Portanto, o último mês de 2021 começou com números da pandemia em queda no Brasil. Mas a situação internacional inspira cuidados. A 4ª onda pandêmica que atinge a Europa e a difusão da variante Ômicron são sinais de alerta que, no mínimo, justificam o cancelamento de grandes aglomerações públicas durante o réveillon.

O Brasil e o panorama global da covid-19

Nestes quase 2 anos de pandemia, o Brasil apresentou média de casos e mortes acima da média mundial na maior parte do período. Todavia, no mês de novembro o coeficiente de incidência brasileiro (casos por milhão de habitantes) ficou abaixo do coeficiente global. Já Portugal – que parecia caminhar para a erradicação da pandemia – voltou a sofrer com a propagação do novo coronavírus.

No dia 03 de dezembro de 2021, o Brasil teve um coeficiente de 41 casos por milhão, o mundo teve 78 casos por milhão e Portugal registrou 294 casos por milhão. Em termos de coeficiente de mortalidade (óbitos por milhão de habitantes), o Brasil conseguiu atingir a média mundial com cerca de 1 óbito por milhão, enquanto Portugal registrou 1,4 óbito por milhão, conforme mostram os gráficos abaixo.

 

O que surpreende e preocupa no aumento do número de casos e mortes em Portugal é que o país já tem 88% da população plenamente vacinada e 89% da população com uma dose até o dia 03/12. O Brasil tem 64% da população com vacinação completa e 77% da população com a primeira dose. No mundo os números são, respectivamente, 44% e 55%. Sem dúvida as vacinas são fundamentais para evitar a transmissão e os falecimentos da covid-19, mas a vacina não é bala de prata e não possui proteção de 100%. O caso de Portugal deve servir de alerta. Assim, corretamente, pelo menos 19 capitais brasileiras já anunciaram o cancelamento total ou parcial das festas de réveillon por conta dos perigos da covid-19.

O grau de prevalência da pandemia só aumenta em todo o mundo. A covid-19 já atingiu mais de 220 países e territórios e vem apresentando números crescentes ao longo do tempo. No dia 01 de março de 2020, havia somente 1 país com mais de 10 mil casos confirmados de Covid-19 (a China) e havia 5 países com valores entre 1 mil e 10 mil casos (Irã, Coreia do Sul, França, Espanha, Alemanha e EUA). No dia 01 de abril já havia 50 países com mais de 1 mil casos, sendo 36 países com montantes entre 1 mil e 10 mil casos, 11 países com números entre 10 mil e 100 mil e 3 países com mais de 100 mil casos (nenhum país com mais de 1 milhão de casos).

No primeiro dia de 2021 havia 175 países com mais de 1 mil casos e 18 países com mais de 1 milhão de casos. Os números continuaram aumentando e em 01 de dezembro de 2021 foram contabilizados 207 países com mais de 1 mil casos, sendo 29 entre 1 mil e 10 mil casos, 66 países entre 10 e 100 mil casos, 72 países entre 100 mil e 1 milhão de casos e 40 países com mais de 1 milhão de casos.

A lista dos 40 primeiros colocados do ranking, com a data em que chegaram à marca de 1 milhão, são: EUA (27/04/20), Brasil (19/06), Índia (16/07), Rússia (01/09), Espanha (15/10), Argentina (19/10), França (23/10), Colômbia (24/10), Turquia (28/10), Reino Unido (31/10), Itália (11/11); México (15/11),  Alemanha (26/11), Polônia (02/12), Irã (03/12), Peru (22/12), Ucrânia (24/12), África do Sul (26/12), Indonésia (26/01/21), República Tcheca (01/02), Holanda (06/02), Chile (01/04), Canadá (05/4), Romênia (09/04), Iraque (21/04), Filipinas (26/04), Suécia (05/05), Bélgica (06/05), Bangladesh (10/07), Paquistão (23/07), Malásia (25/07), Japão (07/08), Portugal (15/08), Tailândia (20/08), Israel (24/08), Sérvia (09/10), Vietnã (11/11), Áustria (18/11), Hungria (21/11) e Suíça (30/11).

A pandemia atingiu todos os países e todos os continentes do mundo, se transformando em um acontecimento global sem precedentes. Até países asiáticos que pareciam ter a pandemia sobre controle passaram por um forte surto pandêmico como Malásia, Tailândia, Bangladesh etc. O Vietnã que tinha somente 17 mil casos em 01 de julho de 2021 deu um salto para 1,27 milhão de casos no dia 03 de dezembro de 2021. Também Cuba que tinha somente 12 mil casos, em 01 de janeiro de 2021, está se aproximando de 1 milhão de casos neste início de dezembro. São cada vez mais países com cada vez mais pessoas contaminadas pelo novo coronavírus.

O Peru é o país com o maior coeficiente acumulado de mortalidade com impressionantes 6 mil óbitos por milhão de habitantes em 03 de dezembro de 2021. Bulgária tem coeficiente de 4,2 mil óbitos por milhão. Bósnia e Herzegovina, Macedônia do Norte, Hungria, República Tcheca e Romênia possuem coeficientes entre 3 mil e 4 mil óbitos por milhão. O Brasil registrou coeficiente de 2,9 mil óbitos por milhão de habitantes.

Mas também existem países que podem ser considerados casos de sucesso no controle da doença: Taiwan tem coeficiente acumulado de 36 óbitos por milhão, Nova Zelândia tem 8,6 óbitos por milhão e o Butão registrou somente 3,9 óbitos por milhão de habitantes (750 vezes menos do que o Brasil).

Em dois anos, o mundo já registrou 265 milhões de pessoas infectadas e 5,3 milhões de vidas perdidas. A pandemia tem se mostrado mais resistente do que se imaginava e novas mutações do vírus desafiam as metas de erradicação da doença. A variante Ômicron tem colocado todo o mundo em alerta, mas, por enquanto, ela ainda é um mistério e não se sabe com certeza o seu grau de transmissibilidade, virulência e letalidade.

Mas ainda há esperanças. Se houver determinação e ações de prevenção, as diferentes cepas da covid-19 poderão ser controladas.  Sem dúvida, há um anseio geral pela retomada plena das atividades produtivas e de convívio social ampliado. Se as aglomerações festivas de fim de ano forem canceladas pelo pesadelo da pandemia, o sonho de um mundo mais saudável permanece vivo. Se possível, para quando o carnaval chegar.

Frase do dia 05 de dezembro de 2021

“Pode fazer-se tudo, salvo fazer sofrer os outros: eis a minha moral”

Gustave Flaubert (1821 – 1880)

200 anos do nascimento do escritor francês

José Eustáquio Diniz Alves

José Eustáquio Diniz Alves é sociólogo, mestre em economia, doutor em Demografia pelo Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (Cedeplar/UFMG), pesquisador aposentado do IBGE, colaborador do Projeto #Colabora e autor do livro "ALVES, JED. Demografia e Economia nos 200 anos da Independência do Brasil e cenários para o século" (com a colaboração de F. Galiza), editado pela Escola de Negócios e Seguro, Rio de Janeiro, 2022.

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