Junho foi o mês em que grande parte do Brasil começou a afrouxar as medidas de isolamento social e outras restrições estabelecidas por estados e municípios para tentar evitar a disseminação da covid-19 – já que o governo federal optou por evitar qualquer providência mais firme contra a doença. Mas junho também foi o mês que o maior registro de casos e de mortes pela covid-19. No último dia do mês (terça-feira, 30), após registrar mais 33.846 casos e 1.208 novas mortes pela covid-19, o Brasil fechou junho com um total de 1.402.041 casos e 59.594 óbitos.
No último dia de maio, o número de casos do Brasil era de 514.200: o aumento em um mês foi de 172,6%. O registro de mortes também passou de 100%: de 29.314 para 59.594 (+103,3%). Junho também foi o mês com o maior número de óbitos desde o começo da pandemia: 30.280 morreram nos 30 dias de junho; foram 23.308 em 31 dias de maio. Apesar das medidas de flexibilização em quase todo o país, levantamento feito em duas semanas de junho – de 13/06 a 23/07 – pela TV Globo mostrou que o número de casos aumentou em todas as unidades da federação. A boa notícia é que, em alguns estados, a situação já foi pior, com índices de crescimento mais acentuado: Amazonas, com crescimento de 22% em duas semanas, Pernambuco (26%) e Maranhão (30%) são exemplos de estados que já tiveram períodos com maior índice de novos contágios.
Clique para acompanhar a cobertura completa do #Colabora sobre a pandemia do coronavírus
Na outra ponta deste ranking, estão os três estados da Região Oeste, que registraram um salto no registro de contaminados e de mortes durante o mês de junho. No último dia de maio, as secretarias estaduais de Saúde de Mato Grosso, Goiás e Mato Grosso do Sul registravam um total de 205 óbitos de covid-19 e 7.620 casos. Os três estados estavam entre os últimos no ranking de contaminação entre as unidades da federação: Goiás (24%), Mato Grosso (26%) e Mato Grosso do Sul (27%). Foi esta comparação confortável que levou governadores e prefeitos do Centro-Oeste a começarem a afrouxar as medidas restritivas, apesar do alerta dos especialistas. Um mês depois, no último dia de junho, os três estados contavam 1.187 mortes: um aumento de 479%. O número de casos saltou 533,4%: foram quase 41 mil casos em junho, chegando a 48.267 casos.
Gostando do conteúdo? Nossas notícias também podem chegar no seu e-mail.
Veja o que já enviamosMarcha para o Oeste
Nos três estados da Região Centro-Oeste, o alarme soou nos últimos dias de junho. Em Goiás, o registro de casos – que era de 3702 no último dia de maio – subiu 566% em junho: o estado terminou o mês com 24.666. O número de mortes mais do que triplicou: de 127 para 475 – crescimento de 274%. Nesta terça (30), último dia de junho, o estado atingiu recorde no número de óbitos pela covid-19 registradas no período de 24 horas: 38 pessoas morreram. Goiás registrou ainda mais 1.474 novos casos confirmados de pessoas infectadas pelo novo vírus.
Dos 246 municípios goianos, 213 registram casos confirmados de coronavírus. De acordo com o levantamento da TV Globo em duas semanas de junho (do dia 13 ao dia 27), entre as 10 cidades com mais de 100 mil habitantes que mais sofreram com o aumento de casos, três ficam no estado de Goiás. As duas primeiras colocadas no ranking da doença – disparadas na liderança – são Rio Verde (850% de aumento em 14 dias) e Itumbiara (595%). Formosa, em nono lugar, registrou um crescimento de 228,4%.
A disparada de casos levou o governador Ronaldo Caiado a decretar novamente o fechamento do comércio, com exceção dos serviços essenciais, como farmácias e supermercados vão funcionar. O governo prevê uma quarentena alternada. A partir desta terça-feira (30), o comércio fica fechado por 14 dias consecutivos; depois, será reaberto por outros 14 dias. A decisão foi tomada depois de divulgação de estudo da Universidade Federal de Goiás, que projeta 18 mil mortes pela covid-19 no estado, até setembro, caso não sejam adotadas medidas restritivas para para evitar a disseminação do novo coronavírus. Segundo os pesquisadores, a demanda por leitos hospitalares pode chegar a 2 mil, em apenas 15 dias.
Avanço acelerado
A situação é ainda mais alarmante em Mato Grosso, estado da Região Centro-Oeste com mais mortes registradas pela covid-19 neste mês, conforme dados das secretarias estaduais de Saúde. Com uma população estimada em 3,4 milhões, encerrou junho com 15.636 casos confirmados da doença – um crescimento de 543,7% em relação a 31 de maio – e 629 óbitos, aumento de 931,1% em um mês. Em 30 de junho, Mato Grosso registrou 39 novas mortes, um recorde em 24h no estado.
Com o avanço da pandemia, apenas quatro dos 141 municípios de Mato Grosso não têm registro da doença; há duas semanas, não havia casos de covid-19 em 27 cidades mato grossenses. Como na maioria dos estados brasileiros, a covid-19 vem crescendo mais no interior: a capital, Cuiabá, contabiliza 3.964 casos, 25% dos registrados em Mato Grosso, com 186 mortes. Importantes cidades do interior como Várzea Grande (1.322 casos e 127 mortos), na Região Metropolitana, e Rondonópolis (1.215 casos e 53 mortes), no sudoeste do estado também estão assistindo a uma disparada de contágios. Nas três cidades, as autoridades decretaram fechamento do comércio não essencial e outras medidas restritivas após decisão da Justiça de Mato Grosso.
Em Sorriso, quarta cidade do estado em número de casos (698) a prefeitura decretou quarentena obrigatória domiciliar para pessoas com mais de 60 anos e também para aquelas que estão com suspeita ou confirmação de contaminação pela Covid-19. Também foi estabelecido o toque de recolher das 22h às 5h, de 30 de junho a 13 de julho, com o objetivo de reduzir a disseminação do coronavírus em toda área urbana de Sorriso. Os três senadores do estado por Mato Grosso já testaram por coronavírus. Jayme Campos (DEM) está em quarentena, assintomático, e sua esposa Lucimar, prefeita de Várzea Grande, passou por exames e também está contaminada pelo vírus; Nelsinho Trad, que acompanhou o presidente Bolsonaro em viagem oficial aos EUA em março, testou positivo logo depois de voltar; o senador Carlos Fávaro chegou a ser internado na UTI de um hospital particular mas já se recuperou.
Mesmo em Mato Grosso do Sul, apesar do número de casos e de vítimas fatais ser menor do que a dos vizinhos do Centro-Oeste e o menor do país, a escalada da covid-19 também assusta especialistas e moradores. De maio para junho, o número de casos subiu 434%: de 1489 para os 7.965 registrados nesta terça. O registro de óbitos também cresceu: eram apenas 10 em 31 de maio e chegou a 83 no último dia de junho – aumento de 730%. Dourados, município no oeste do estado onde fica reserva indígena com 12 mil cidadãos de três etnias, tem o maior número de mortes: 24. Há 151 casos de covid-19 entre indígenas no estado e pelo menos duas mortes.
Capital do estado, Campo Grande iniciou o mês de junho com 312 casos positivos do novo coronavírus. Nesta terça-feira, dia 30, o número é de 2.168, um aumento de 594% em 30 dias. Durante o mês, a prefeitura flexibilizou a maioria das medidas restritivas: já é permitido viajar em pé no transporte público e o funcionamento de restaurantes self-service.
O programa Prosseguir, lançado nesta terça pelo governo estadual, aponta 37 municípios com alto risco para a covid-19. Nestas cidades, o governo do Mato Grosso do Sul recomenda apenas o funcionamento de serviços essenciais e de baixo potencial de perigo. Esses municípios – entre eles, Dourados – respondem por pelo menos 54 das 83 mortes registrados no Estado, desde o início da pandemia -outros 42 com risco moderado. Os outros 42 municípios do estado, incluindo Campo Grande, apresentam risco moderado para a covid-19: para estes, o governo estadual orienta q reabertura de serviços essenciais, de baixo e médio riscos.
Frase do dia 1º de Julho
“Houve no mundo tantas pestes como guerras. E, contudo, as pestes, como as guerras, encontram sempre as pessoas igualmente desprevenidas”
Albert Camus (1913 – 1960)
Escritor francês