Diário da Covid-19: Brasil tem a maior taxa diária de mortalidade do hemisfério Sul

Agravamento da pandemia faz o país ficar mais pobre, mais desigual e ainda mais inseguro

Por José Eustáquio Diniz Alves | ODS 3 • Publicada em 21 de março de 2021 - 11:04 • Atualizada em 26 de maio de 2021 - 10:05

Paciente com covid-19 chega de ambulância a um hospital público em Brasília. Os últimos boletins indicam que quase todos os leitos de UTI da capital estão ocupados. Foto Evaristo Sá/AFP. Março/2021

O pior lugar do mundo (da pandemia) é aqui e agora. O Brasil é destaque no mapa-múndi e teve a terceira semana seguida com mais de 10 mil vítimas fatais da covid-19 em 7 dias. Foram 10,1 mil mortes na 1ª semana de março de 2021, 12,8 mil na 2ª semana e impressionantes 15.650 óbitos na 3ª semana. A situação não está somente dramática, ela está muito ruim e piorando. No dia 16/03, o país registrou o assustador recorde de 2,84 mil vidas perdidas para a covid-19 em 24 horas, o que representa cerca de 2 mortes por minuto. Na semana de 14 a 20 de março o Brasil (com 2,7% da população mundial) registrou 25% dos óbitos globais e teve 3,4 vezes o montante de mortes da China durante toda a pandemia. Com uma situação esdrúxula de ter dois Ministros da Saúde em exercício, fazendo jogral nas entrevistas, o Brasil bateu o recorde da média móvel de infecções, indicando uma pressão contínua sobre o sistema de saúde.

O Observatório Covid-19 da Fiocruz divulgou um Boletim extraordinário, no dia 16/03, alertando para o maior colapso sanitário e hospitalar da história do Brasil. Em meados de março, das 27 unidades federativas, 24 estados e o Distrito Federal estavam com taxas de ocupação de leitos de UTI Covid-19 para adultos no Sistema Único de Saúde (SUS) iguais ou superiores a 80%, sendo 15 com taxas iguais ou superiores a 90%. Em relação às capitais, 25 das 27 estavam com essas taxas iguais ou superiores a 80%, sendo 19 delas superiores a 90%. No dia 18/03, a Fiocruz publicou o Boletim InfoGripe, dizendo que a pandemia ainda deve piorar nas próximas semanas.

O aumento dos casos, a falta de insumos médicos e a crise hospitalar têm tido um efeito devastador no cotidiano das taxas de mortalidade. Nos primeiros 80 dias de 2021 ocorreram a metade das 194,9 mil vidas perdidas do conjunto dos 366 dias de 2020. Entre os dias 21 de fevereiro e 20 de março a média móvel de 7 dias do número de mortes da covid-19 apresentou uma função monotonicamente crescente, isto é, aumentou todos os dias por cerca de um mês, conforme mostra o gráfico abaixo. No dia 21/02 foram 1.037 mortes, em média, e este número mais do que dobrou para 2.236 mortes, em média, no dia 20/03. Este fato inédito, retrata a gravidade do momento atual. O Brasil está no epicentro da pandemia internacional e, além de gerar grande sofrimento interno, no plano externo, virou uma ameaça crescente à saúde global.

Lastimavelmente, o Brasil tem apresentado os mais dramáticos e preocupantes recordes de falecimentos da pandemia no atual mês e caminha para atingir as maiores taxas de mortalidade, não só de toda a América Latina, mas também de todo o hemisfério Sul. Os 6 países com maiores coeficientes (ou taxas) acumulados de mortalidade na América Latina são: México (152 óbitos por 100 mil), Peru (150 óbitos), Panamá (140 óbitos), Brasil (138 óbitos), Colômbia (121 óbitos) e Argentina (120 óbitos), portanto, todos com mais de 120 mortes por 100 mil habitantes (sendo que a média mundial é de 35 óbitos por 100 mil).

Mas considerando o coeficiente diário de mortalidade, o Brasil assumiu a ponta entre todos os países da América Latina (e os EUA), conforme mostra o gráfico abaixo, do jornal Financial Times, com dados até 19/03. O Brasil já possui o maior coeficiente diário de mortalidade das Américas e do hemisfério Sul. Se o Brasil continuar com valores tão elevados, deve ultrapassar, também em números acumulados, passando o Panamá ainda no mês de março e pode assumir a lamentável liderança latino-americana ainda no mês de abril de 2021. Se o Brasil alcançar o topo do ranking do coeficiente de mortalidade acumulado da América Latina, assumirá também o topo do ranking do hemisfério Sul, pois o país da África com maior mortalidade é a África do Sul com 87 óbitos por 100 mil habitantes e, na Oceania, a Austrália e a Nova Zelândia possuem, respectivamente, coeficientes de 3,5 e 0,5 óbitos por 100 mil de habitantes. Desta forma, permanecendo as tendências atuais, o Brasil terá mortalidade menor apenas em relação a alguns países do Norte, de clima frio e com uma estrutura etária muito envelhecida. Por conseguinte, não é de forma alguma uma “situação confortável”, como afirmou o líder do governo na Câmara e ex-Ministro da Saúde, deputado federal Ricardo Barros (PP-PR).

O Ministério da Saúde, enquanto dirigido pelo inominável general Pazuello, não conseguiu deter o SARS-CoV-2, não foi capaz de organizar um processo de prevenção e distanciamento social e muito menos contratou, de forma tempestiva, vacinas suficientes para imunizar a população brasileira. A gestão da política de saúde variou entre o desmazelo e o pesadelo. Pensando em dar uma satisfação para a opinião pública, o presidente da República (chamado de genocida nas redes sociais) trocou o ministro da saúde – mas manteve a mesma política fracassada – sendo que o médico Marcelo Queiroga prometeu dar continuidade às ações que não conseguiram deter a alta mortandade do país. O Brasil conseguiu vacinar apenas 6% da população em dois meses. Mesmo que este ritmo dobre daqui para a frente, o país só conseguirá vacinar toda a população no segundo semestre do ano que vem, talvez até o dia 7 de setembro (nos 200 anos da Independência) ou, quiçá, antes das eleições gerais de 2022.

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Mas a vacinação, embora absolutamente essencial, não é uma bala de prata. Por exemplo, Israel que já conseguiu aplicar a 1ª dose, praticamente, a 100% da população, reduziu os volumes de casos e mortes, mas não conseguiu erradicar o vírus e eliminar as mortes. Os Emirados Árabes Unidos, que já vacinaram cerca de dois terços da população, reduziram somente pela metade o montante de casos e óbitos. O Chile já vacinou mais de 40% da população e tem assistido ao aumento de casos e de mortes. Mas há esperança. O caso de maior sucesso até agora ocorreu em Gibraltar – um pequeno território britânico na entrada do mar Mediterrâneo – que tinha o maior coeficiente de mortalidade do mundo, mas fez um lockdown rigoroso, vacinou 100% dos habitantes e zerou a média de mortes no mês de março de 2021.

Uma inusitada imagem da praia de Ipanema, no Rio, completamente vazia, num sábado de sol, por conta da covid-19. Foto Fabio Teixeira/Anadolu Agency/AFP. Março/2021
Uma inusitada imagem da praia de Ipanema, no Rio, completamente vazia, num sábado de sol, por conta da covid-19. Foto Fabio Teixeira/Anadolu Agency/AFP. Março/2021

O panorama nacional

Segundo o Ministério da Saúde, o Brasil registrou 11.950.459 pessoas infectadas e 292.752 vidas perdidas em 20 de março de 2021, com taxa de letalidade de 2,4%.  A média móvel de 7 dias chegou a 72.986 casos e 2.236 óbitos no dia 20/03. O gráfico abaixo mostra a distribuição do número diário de casos da covid-19 desde 07/03/2020 até 20/03/2021 e a média móvel de 14 dias. O pico da 1ª onda ocorreu em julho de 2020 com média acima de 40 mil casos diários. A segunda onda está em pleno avanço e a média móvel do dia 20/03 ficou acima de 70 mil casos em 24 horas.

O gráfico abaixo mostra a distribuição do número diário de óbitos da covid-19 desde 21/03/2020 até 20/03/2021 e a média móvel de 14 dias. Nota-se que o cume da média na 1ª onda ficou em torno de 1.000 óbitos, mas a 2ª onda ainda está em ascensão, mas o pico já ultrapassou a casa de 2.000 óbitos diários. O mês de março, até 20/03, já é o mais letal de toda a pandemia. Existe uma possibilidade de colapso do sistema hospitalar e funerário. O Brasil deve atingir 300 mil mortes até o dia 24 ou 25/03 e pode alcançar 500 mil mortes acumuladas até o final de julho de 2021.

O panorama global da pandemia

No dia 20 de março de 2021, o mundo atingiu 122,8 milhões de pessoas infectadas e 2,7 milhões de vidas perdidas pela covid-19, com taxa de letalidade de 2,2%, segundo o site Our World in Data, com base nos dados da Universidade Johns Hopkins. O gráfico abaixo, mostra o número diário de casos da covid-19 e a média móvel de 14 dias entre 08 de fevereiro de 2020 e 20 de março de 2021. Nota-se que o crescimento foi contínuo durante o ano passado, com uma aceleração em outubro até o pico da média acima de 700 mil casos diários em meados de janeiro de 2021. No restante de janeiro e em fevereiro os números caíram, mas voltaram a subir ligeiramente no mês de março de 2021.

O gráfico abaixo, mostra o número diário de óbitos da covid-19 e a média móvel de 14 dias entre 08 de fevereiro de 2020 e 20 de março de 2021. Nota-se que a média móvel apresentou um pico de cerca de 7 mil óbitos diários no dia 15/04, uma queda nos meses seguintes até o valor perto de 5 mil óbitos em 15/10 e uma nova subida até o pico de quase 12 mil óbitos diários na véspera do Natal. Os valores caíram no final de dezembro e voltaram a subir em janeiro, quando marcou um novo pico de mais de 14 mil óbitos diários. Nos meses de fevereiro e março os números caíram e atingiram uma média abaixo de 9 mil óbitos diários. A média global de vidas perdidas só não caiu em ritmo mais acelerado por conta da explosão de óbitos no Brasil, que se contrapôs à tendência global.

O impacto da covid-19 em termos regionais, de gênero, raça/cor e classe social

O SARS-CoV-2 surgiu na Ásia em 2019 e se espalhou pelo mundo em 2020 e continua causando muitos estragos em 2021. Os países com os maiores coeficientes acumulados de incidência e de mortalidade estão na Europa e nas Américas (hemisfério ocidental) e os países menos impactos estão na Oceania, África e Ásia (grosso modo, hemisfério oriental), conforme a tabela abaixo com dados do Our World in Data e Johns Hopkins University.

A Ásia tem 60% da população mundial e uma proporção muito menor de casos e mortes. A África tem 17% da população mundial e cerca de 4% dos casos e das mortes. Já a Europa com 10% da população mundial e a América do Norte com 8%, possuem, separadamente, quase 30% dos casos e das mortes. A América do Sul (puxada pelo Brasil) tem 5,5% da população mundial e 16% dos casos e 19% das mortes acumuladas. Esta desproporção fica claro nos coeficientes da tabela abaixo, pois enquanto o mundo tem, em termos acumulados, 15,8 mil casos por milhão, o hemisfério ocidental tem valores 3 a 4 vezes maior e o hemisfério “oriental” tem valores muito menores. Da mesma forma, enquanto o mundo tem um coeficiente de mortalidade de 348 óbitos por milhão, os ocidentais possuem valores 3 ou 4 vezes maior e os “orientais” possuem valores muito menores.

O gráfico abaixo mostra a média móvel de 7 dias do número diário de óbitos no Brasil, no mundo e nos continentes, confirmando que a Europa e as Américas possuem os maiores valores (o Brasil na liderança isolada), enquanto os demais continentes apresentam coeficientes bem mais baixos.

O mapa abaixo, do site Our World in Data, mostra que o Brasil está entre os poucos países do mundo com coeficiente de mortalidade diário acima de 10 óbitos por milhão. Acima do Brasil estão apenas República Tcheca (10,7 milhões de habitantes), Hungria (9,6 milhões), Bulgária (6,9 milhões), Eslováquia (5,5 milhões), Bósnia e Herzegovina (3,3 milhões) e Moldova (4,1 milhões). Em conjunto, estes 6 países europeus possuem 40 milhões de habitantes. Portanto, são países pequenos, de clima frio e com alta proporção de habitantes idosos. Portanto, o Brasil possui o maior coeficiente diário de mortalidade do hemisfério Sul e só está atrás dos 6 países citados e que estão no hemisfério Norte. Dado ao seu tamanho geográfico e demográfico o Brasil é destaque do mapa mundial de mortalidade.

O Brasil também é destaque na comparação dos 10 países mais populosos do mundo, considerando a média móvel de 7 dias, dos óbitos ocorridos na semana de 14 a 20 de março de 2021. O Brasil – com 2,7% da população mundial – atingiu a média de 2.236 vidas perdidas, representando 25% dos óbitos globais. Os EUA – com 4,3% da população global – teve 1.125 mortes (13% do total). O México – com 1,7% dos habitantes do globo – teve média de 495 óbitos (5,6% do total). Já a Índia – com 18% da população global – teve média de 162 óbitos na semana e a China com 19% da população global teve zero mortes na semana.

O Brasil é um dos países do mundo mais impactados pela covid-19, como evidenciado na tabela acima, no gráfico e no mapa. Embora a pandemia tenha afetado toda a população brasileira, a mortalidade tem sido maior entre os homens, os idosos, os indígenas, os negros e a população em situação de pobreza. No Diário da Covid-19, do dia 11 de junho, aqui no # Colabora, mostramos que a pandemia atingia com mais intensidade a população de baixa renda e as comunidades com menor infraestrutura urbana. No Diário do dia 15 de julho, indicamos que as parcelas da população brasileira mais vulneráveis ao novo coronavírus eram as populações indígena e negra (pretos + pardos). No Diário do dia 07 de março de 2021, apontamos que os maiores riscos de mortalidade estavam entre os homens e idosos, mas as mulheres foram mais afetadas em termos de perda de renda e emprego, além de assumirem uma maior carga das atividades de cuidado. Por conseguinte, fica claro que a pandemia atingiu, em maior proporção, as parcelas mais desfavorecidas da pirâmide social brasileira.

A pandemia da covid-19 é democrática no sentido de ameaçar igualmente a totalidade da população. A morte de diversos empresários ricos e o falecimento recente do senador Major Olímpio (58 anos) são evidências de que as vítimas fatais do SARS-CoV-2 ocorrem mesmo para quem tem os maiores e melhores recursos médicos e financeiros disponíveis. Todavia, infelizmente, as respostas no sentido de mitigar os efeitos da covid-19 não são democráticas, pois a população mais carente de recursos e direitos fica bem mais exposta ao contágio, às complicações da morbidade e às maiores taxas de letalidade. Ou seja, os efeitos da pandemia são diferenciados quando se considera a heterogeneidade social.

O artigo acadêmico “Social inequalities and covid-19 mortality in the city of São Paulo”, de Karina Ribeiro e colegas, publicado na revista Pubmed da Universidade de Oxford (28/02/2021), mostra que todos os indicadores socioeconômicos referentes a menor renda, menores níveis educacionais, maior concentração em áreas geográficas subnormais (favelas) e maior densidade demográfica familiar estão associados às maiores taxas de mortalidade pela covid-19. O estudo calculou que os homens possuem risco de morte 84% superior em comparação com as mulheres, as pessoas que se autodeclaram pretas possuem risco de 77% maior quando comparadas com os brancos e os autodeclarados pardos um risco 42% maior. Mas as pessoas autodeclaradas amarelas (de origem asiática) possuem um risco 37% menor quando comparadas com os indivíduos brancos. Cabe comentar que a menor mortalidade da população de origem asiática indica a importância de fatores culturais no combate à pandemia, como o efeito da “ética confucionista”, que valoriza as ações coletivas e minimiza a ideologia individualista própria da cultura ocidental. Por fim, as autoras consideram que “sem uma resposta justa, a covid-19 irá exacerbar ainda mais as atuais desigualdades sociais na cidade de São Paulo”.

Outra grande ameaça aos setores da população do “andar de baixo” é a inflação e a insegurança alimentar. De acordo com o IBGE, o índice geral de preços subiu 5,2% entre março de 2020 e março de 2021, enquanto o preço dos alimentos subiu 15% no mesmo período. Isto fez o Banco Central do Brasil subir a taxa de juros básica da economia, no dia 17/03, fato que não ocorria nos últimos 6 anos. O dinheiro mais raro e mais caro é uma centelha para a insatisfação popular. Mas é o aumento do preço dos alimentos que ameaça explodir o barril de pólvora do descontentamento latente na sociedade brasileira. A carestia aumenta em todo o mundo e o Índice de Preços de Alimentos (FFPI) da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) atingiu 116 pontos, valor inferior apenas àqueles prevalecentes no auge do super ciclo das commodities e que serviram de detonador para as grandes mobilizações da Primavera Árabe no início da década passada. Desde os tempos bíblicos a fome tem causado revoltas. Foi assim no Egito, na Grécia e em Roma. Na Revolução Francesa o povo disse que não tinha pão e a Rainha Maria Antonieta (1755-1793) sugeriu comer brioche. No dia 18 de março de 1871 – exatos 150 anos atrás – a fome desencadeou a insurreição da Comuna de Paris, quando um de seus membros, Eugène Pottier (1816-1887), compôs a letra do hino “A Internacional” cujos primeiros versos dizem: “De pé ó vítimas da fome; De pé famélicos da terra”. Na China, depois da grande fome ocorrida entre 1958 e 1960, aconteceu a Revolução Cultural, uma revolução dentro da revolução chinesa. São inúmeros os casos de revoltas geradas pela fome, com mostram os estudos do New England Complex Systems Institute (NECSI).

Tudo indica que poderá haver uma revolta no Brasil em 2021, pois os preços dos alimentos estão subindo em todo o território nacional devido a 5 fatores: aumento dos custos de produção e transporte; desorganização da cadeia produtiva global (gerando gargalos na produção e distribuição); aumento do preço do petróleo; danos causados pela crise ambiental; e desvalorização cambial. Assim, cresce a insegurança alimentar no instante mais grave da pandemia, em meio ao enorme desemprego e desalento e diante de um auxílio emergencial de curto prazo e curto valor. E, por incrível que pareça, o presidente do Brasil, contrariando todas as regras de convívio democrático e de sinergia republicana, vai ao STF para derrubar decretos de governadores e prefeitos que tentam impor restrições à circulação de pessoas e garantir o distanciamento social para evitar a transmissão exponencial e descontrolada do SARS-CoV-2. No dia 19/03, o presidente Jair Bolsonaro reconheceu a gravidade da situação e disse: “O caos vem aí, a fome vai tirar o pessoal de casa”. Mas ao invés de buscar soluções, o mandatário máximo do país busca o confronto e atribui a escassez de comida àqueles governantes e cientistas que defendem um lockdown, como se a busca pela disponibilidade de alimentos justificasse a incúria presidencial que levou ao impressionante montante de quase 300 mil mortes da covid-19 no país. Parece que Bolsonaro quer se antecipar à crise alimentar pondo a culpa no lockdown.

A pandemia fez o Brasil ficar mais pobre, mais desigual e mais inseguro. Uma Pesquisa Fórum acaba de constatar que aumenta o número de brasileiros que associam a alta dos alimentos aos erros do presidente da República. Parcelas crescentes da população têm engrossado o coro: “Tá muito caro. Essa conta não é nossa. O Brasil não merece isso”. Também tem viralizado nas redes sociais a campanha “BOLSOCARO”, que tem o potencial de ser um tsunami político. A desesperança cresce diante de um futuro incerto, porém, existe uma verdade inconteste: o povo brasileiro quer mais alimentos e menos falecimentos.

Frase do dia 21 de março de 2020

“Todos os caminham levam à morte. Perca-se.”

Jorge Luiz Borges (1899-1986)

 

Referências:

ALVES, JED. Diário da Covid-19: coronavírus já matou mais cariocas do que chineses, # Colabora, 11/06/2020

https://projetocolabora.com.br/ods3/coronavirus-ja-matou-mais-cariocas-do-que-chineses/

ALVES, JED. Diário da Covid-19: cem dias de dor e sofrimento por trás dos números, # Colabora, 15/07/2020

https://projetocolabora.com.br/ods3/cem-dias-de-dor-e-sofrimento-por-tras-dos-numeros/

ALVES, JED. Diário da Covid-19: O 8 de março mais sofrido para as mulheres brasileiras, # Colabora, 07/03/2021 https://projetocolabora.com.br/ods3/o-8-de-marco-mais-sofrido-para-as-mulheres-brasileiras/

FIOCRUZ. Boletim Extraordinário do Observatório Covid-19, RJ, 16/03/2021

https://portal.fiocruz.br/sites/portal.fiocruz.br/files/documentos/boletim_extraordinario_2021-marco-16-red-red-red.pdf

FIOCRUZ. InfoGripe aponta tendência de crescimento da Covid-19 em todos os estados, 18/03/2021 https://portal.fiocruz.br/noticia/infogripe-aponta-tendencia-de-crescimento-da-covid-19-em-todos-os-estados

Ribeiro KB, Ribeiro AF, de Sousa Mascena Veras MA, de Castro MC. Social inequalities and COVID-19 mortality in the city of São Paulo, Brazil. Int J Epidemiol. 2021 Feb 28

https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/33657223/

Ivan Longo. “Bolsocaro”: dispara o número de brasileiros que associam alta dos alimentos a erros de Bolsonaro, diz Pesquisa Fórum, 18/032021

https://revistaforum.com.br/noticias/bolsocaro-dispara-o-numero-de-brasileiros-que-associam-alta-dos-alimentos-a-erros-de-bolsonaro-diz-pesquisa-forum/

NECSI. New England Complex Systems Institute, Food crisis:  https://necsi.edu/food-crisis

José Eustáquio Diniz Alves

José Eustáquio Diniz Alves é sociólogo, mestre em economia, doutor em Demografia pelo Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (Cedeplar/UFMG), pesquisador aposentado do IBGE, colaborador do Projeto #Colabora e autor do livro "ALVES, JED. Demografia e Economia nos 200 anos da Independência do Brasil e cenários para o século" (com a colaboração de F. Galiza), editado pela Escola de Negócios e Seguro, Rio de Janeiro, 2022.

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Um comentário em “Diário da Covid-19: Brasil tem a maior taxa diária de mortalidade do hemisfério Sul

  1. Martha Hirsch Aulete disse:

    Ao pensar é preciso expressar aquilo que as faculdades não falam. O “lado obscuro da lua”:

    Eis aí a pura e profunda realidade sociológica e filosófica:

    Com a “Copa das Copas®” do PT®, em vez de se construir hospitais, construiu-se prédios inúteis!
    A Copa das Copas®, do PT© e de lula©. Sempre se utiliza de propaganda, narrativas e publicidades sofisticadas e bem feitas para enganar e praticar lavagem-cerebral nos meios de comunicação. Não se desenvolve a imaginação.

    E hoje precisamos muito mais de eventos sérios e artísticos. De um Brasil que se perdeu nessa década de 2010 pra cá. Um mau gosto enorme dos políticos que vieram durante esse período. Sempre com um mau gosto imenso. E o país sem escola para novas gerações. Tudo foi por água abaixo — naturalmente.

    Excelentes escolas precisamos! Educação de 1ª. Necessitamos sim de educação como a de Helsinque, Europa, e da Coreia (do sul, naturalmente).
    Não precisamos de políticos tricksters. Precisamos de educação de qualidade no Brasil. Sobretudo das crianças pequenas.

    O que é trickster? “Trickster” é, na mitologia, e no estudo do folclore e religião, um deus, deusa, espírito, homem, mulher, ou animal antropomórfico que prega peças sem se perceber.

    É uma espécie de Malandro®. Um personagem que usa de astúcia, em vez de força ou autoridade, para realizar seus objetivos (escusos).

    Aí fiquei pensando nos personagens das historinhas que nos são contadas onde há dentro dessas historinhas essas sabedorias. Lembrei da raposa, com sua malandragem suave e dócil (fingida). E me lembrei do Lobo, de Chapeuzinho Vermelho.

    Portanto, deve ser um vigarista, truculento, e picareta. Lembrei imediatamente do Molusco® apedeuta, dos Ministros Petistas sindicalistas e do PT® em geral. Trapaceiros.

    O PT© é barango em educação juvenil. O Kitsch político contemporâneo.

    Precisamos sim de alta cultura. Não de cultura de massas. Indústria cultural (que não é o mesmo que cultura popular). Mire-se em Theodor Adorno.

    O pessoal de nossas escolas precisa de Machado de Assis. Villa-Lobos. Drummond. Kafka. Graça Aranha, Aluísio de Azevedo, do Maranhão. Rachel de Queiroz. E das Sinfonias de Mozart — abstratas e universais instrumentais. Nossas escolas são péssimas.

    As escolas EaD, à distância (atual, devido a pandemia) são péssimas.
    Não se aprende bem. O que mais o Brasil precisa na real e atualmente é de alta literatura. Alta cultura. Nas escolas sobretudo.

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