Diário da Covid-19: Mais de 400 mil pessoas recuperadas da doença no mundo

Soldado das forças armadas eslovacas faz testes para a covid-19 na vila cigana de Janovce. Foto Joe Klamar/AFP

Esforço do isolamento começa a fazer efeito, ritmo de crescimento dos casos diminui no Brasil e no mundo, mas ainda é cedo para comemorar

Por José Eustáquio Diniz Alves | ODS 3 • Publicada em 12 de abril de 2020 - 08:05

Soldado das forças armadas eslovacas faz testes para a covid-19 na vila cigana de Janovce. Foto Joe Klamar/AFP

Neste domingo de Páscoa, os dados mostram que o ritmo de avanço da pandemia está se reduzindo no Brasil e no mundo. As maiores taxas de crescimento ocorreram na terceira semana de março e as taxas da Semana Santa foram as mais baixas em um mês. O número global de recuperados ultrapassou 400 mil pessoas no sábado de Aleluia. O esforço de prevenção feito no mundo inteiro está começando a surtir efeito. Evidentemente, ainda falta muito a ser realizado. E as adversidades podem ser momentos de profunda aprendizagem.  E como disse Platão: “A necessidade é a mãe da invenção”.

O panorama nacional

O Ministério da Saúde atualizou, na tarde do dia 10/04, os números da covid-19:  20.727 casos e 1.124 mortes. A taxa de letalidade permaneceu em 5,4% em relação ao dia anterior. Isto quer dizer que 94,6% das pessoas que tiveram contato com o vírus estão sendo tratadas ou já se recuperaram. Ou seja, com uma taxa de letalidade abaixo de 10%, tanto no Brasil como no mundo, mais de 90% das pessoas infectadas vão sobreviver.

No dia 01 de março, o Brasil tinha apenas 2 casos confirmados de covid-19. Mas os números cresceram aceleradamente nas semanas seguintes. O gráfico abaixo mostra que, na primeira semana de março, o número de pessoas infectadas cresceu 37,9% ao dia, na segunda semana cresceu 30,1%, na terceira semana bateu o recorde de aumento com 37,6% ao dia e na quarta semana houve uma redução para 19,4% ao dia. Na semana de 29/03 a 04/04 a taxa de crescimento diária do número de casos caiu ainda mais, para 15% ao dia, e na semana de 5 a 11 de abril a variação diária foi de 10,5% ao dia, a menor taxa da série até aqui. Ou seja, o surto vai continuar avançando em abril no Brasil, mas com uma velocidade mais reduzida.

O crescimento médio do número de casos durante todo o mês de março (de 2 casos para 5.717) foi de impressionantes 30,4% ao dia. Do dia 01 de abril a 11 de abril o número de casos subiu de 6.836 para 20.727, uma variação de 12,4% ao dia. É uma taxa elevada, mas bem inferior ao que aconteceu em março.

O gráfico abaixo mostra o crescimento do número de mortes. O primeira óbito pela Covid-19 ocorreu no dia 17 de março no Brasil e o ritmo de crescimento foi muito acelerado, com o impressionante aumento diário de 78,3% na semana de 17 a 23 de março, de 29,7% na semana seguinte, de 21,4% na semana de 29 de março a 04 de abril e de 14,7% na semana de 5 a 11 de abril. Mesmo diminuindo, o ritmo do número de mortes no Brasil continua elevado e o número de pessoas recuperadas da doença ainda é baixo no país.

Toda a análise dos números da covid-19 no Brasil precisa levar em consideração que é muito elevado o número de subnotificações e que o país realizou apenas 63 mil testes, o que significa 296 testes por 1 milhão de habitantes, enquanto a Islândia realizou 101,5 mil testes por 1 milhão.

 O panorama global

O dia 10 de abril encerrou com 1,78 milhão de casos e 108,8 mil mortes registradas no mundo, com uma taxa de letalidade de 6,1%.

Na série histórica, a maior variação diária absoluta global do número de casos ocorreu no dia 03 de abril, com 101,6 mil casos, sendo que no Sábado de Aleluia ocorreram 81 mil casos. E a maior variação diária absoluta do número de mortes ocorreu dia 07 de abril, com 7,4 mil mortes, sendo que no Sábado de Aleluia ocorreram 6,1 mil mortes.

O mês de março foi marcado por uma aceleração da curva de pessoas infectadas no mundo e o começo de abril por uma desaceleração. O gráfico abaixo mostra que, na primeira semana de março, o número de pessoas infectadas cresceu 2,9% ao dia, na segunda semana cresceu 5,7%, na terceira semana o aumento foi de 10% e na quarta semana bateu o recorde de crescimento, com uma taxa de 11,7% ao dia. Mas na semana de 29/03 a 04/04 a taxa de crescimento diária do número de casos caiu para 8,9% ao dia. Na semana de 5 a 11 de abril a diminuição do ritmo foi ainda maior, 5,8% ao dia, indicando que o ponto de inflexão da curva logística parece que foi atingido. Ou seja, o surto vai continuar avançando no restante do mês de abril, mas com uma velocidade mais reduzida em relação à quarta semana de março.

O crescimento médio durante todo o mês de março foi de 7,7% ao dia. No dia 01 de abril havia 935 mil casos notificados no mundo e passou para 1,78 milhão em 11 de abril, o que significou um crescimento do número de casos de 6,9% ao dia no período.  Provavelmente, o ritmo de crescimento do número de pessoas infectadas no mundo vai continuar desacelerando, especialmente porque países no topo do ranking, como Itália e Espanha já apresentam variações diárias abaixo de 4%.

O ritmo de aumento das mortes pela Covid-19 é mais acelerado do que o ritmo do aumento dos casos. O gráfico abaixo mostra que, na primeira semana de março, o número de mortes cresceu 2,8% ao dia, na segunda semana cresceu 7,1%, na terceira semana o aumento diário foi para 12,2% e na quarta semana bateu o recorde de crescimento, com uma taxa de 13,1% ao dia. Mas na semana de 29/03 a 04/04 a taxa de crescimento diário do número de mortes caiu para 11,1% ao dia, indicando que, também neste aspecto, o ponto de inflexão da curva logística parece que foi atingido. Na semana de 5 a 11 de abril o crescimento diário do número de mortes caiu ainda mais, para 7,7% ao dia. Ou seja, o surto de mortes vai continuar aumentando no restante do mês de abril, mas com uma velocidade mais reduzida em relação à quarta semana de março.

A pandemia da covid-19 e a redução das emissões globais de CO2

O Antropoceno é a Era da dominação humana sobre a natureza, do desequilíbrio da estabilidade climática e da degradação e dos ecossistemas. O crescimento das atividades antrópicas ocorreu de maneira tão acelerada que rompeu com o equilíbrio climático existente por mais de 12 mil anos. As emissões anuais globais de CO2 que estavam em 2 bilhões de toneladas em 1900, passaram para 6 bilhões de toneladas em 1950 e chegaram a 37 bilhões de toneladas em 2019. Em consequência, a concentração de CO2 que estava abaixo de 280 partes por milhão (ppm) antes da Revolução Industrial e Energética, iniciou uma trajetória de aumento ininterrupto. A concentração de CO2 na atmosfera chegou a 300 ppm em 1920, atingiu 310 ppm em 1950 e atingiu 411,4 ppm em 2019. Consequentemente, a temperatura da atmosfera está subindo e pode tornar inabitável diversas partes da Terra. O gráfico abaixo mostra como estão correlacionados o aumento das emissões de CO2 e o aumento da temperatura. Como ficará em 2020?

O Instituto Carbon Brief – que é uma instituição britânica que acompanha os mais recentes desenvolvimentos em ciência do clima, política climática e política energética – considera que a crise do coronavírus pode desencadear a maior queda anual de emissões de CO2 de sempre, no ano de 2020. Mais do que durante qualquer crise econômica ou período de guerra anterior. Mesmo assim, toda esta queda não chegaria perto de alcançar o limite necessário para manter a temperatura global abaixo de 1,5º C., conforme estabelecido no Acordo de Paris.

Ou seja, não podemos esperar que uma pandemia resolva o problema das mudanças climáticas. Artigo de Martine e Alves – “Desordem na governança global e o caos nas mudanças climáticas” – publicado na Revista Brasileira de Estudos Populacionais (REBEP, 2019), argumenta que o enfraquecimento do multilateralismo, o negacionismo, a insistência em manter um modelo de crescimento econômico insustentável e a crise da governança global dificultam o equacionamento da questão ecológica. Mas talvez o esforço para solucionar a emergência da saúde pública para enfrentar a pandemia da covid-19 nos sirva de exemplo de esforço e solidariedade para lidar com a emergência climática e ambiental.

A pandemia do novo coronavírus pode ter um efeito não antecipado de ensinar a humanidade a ser mais humilde e buscar uma relação mais harmoniosa com a natureza.

José Eustáquio Diniz Alves

José Eustáquio Diniz Alves é sociólogo, mestre em economia, doutor em Demografia pelo Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (Cedeplar/UFMG), pesquisador aposentado do IBGE, colaborador do Projeto #Colabora e autor do livro "ALVES, JED. Demografia e Economia nos 200 anos da Independência do Brasil e cenários para o século" (com a colaboração de F. Galiza), editado pela Escola de Negócios e Seguro, Rio de Janeiro, 2022.

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