Diário da Covid-19: Brasil registra as menores médias de casos e mortes do ano

Em Brasília, segurando uma bandeira manchada de vermelho, manifestante protesta contra o descaso do governo e lembra as quase 600 mil vidas perdidas para covid-19 no Brasil (Foto: Sérgio Lima/AFP. Outubro/2021)

Avanço da vacinação vem garantindo o controle da doença, mas país deve atingir a triste marca de 600 mil mortos nos próximos dias

Por José Eustáquio Diniz Alves | ODS 3 • Publicada em 3 de outubro de 2021 - 08:34 • Atualizada em 27 de outubro de 2021 - 08:31

Em Brasília, segurando uma bandeira manchada de vermelho, manifestante protesta contra o descaso do governo e lembra as quase 600 mil vidas perdidas para covid-19 no Brasil (Foto: Sérgio Lima/AFP. Outubro/2021)

O Brasil registrou, em setembro, os menores números mensais de casos e de mortes do ano de 2021 e menores também do que os valores apresentados em vários meses de 2020. Assim, as curvas epidemiológicas brasileiras apresentam tendência de queda, enquanto o programa de vacinação avança, com quase 100 milhões de pessoas com esquema vacinal completo e quase 150 milhões de pessoas com a primeira dose.

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Segundo o Ministério da Saúde, no dia 02 de outubro, o Brasil atingiu 21.459.117 pessoas infectadas (mais de 10% da população nacional) e 597.723 mortes pela covid-19, com uma taxa de letalidade de 2,8%. A média semanal indica 16,5 mil casos diários e 503 óbitos diários. Desta forma, o Brasil continua entre os 7 países com maiores números diários da covid-19. Na 40ª semana epidemiológica (03-09/10) o país deve registrar a triste marca histórica de 600 mil vidas perdidas em toda a pandemia.

O gráfico abaixo mostra a média mensal de casos da covid-19 no Brasil, de março de 2020 a setembro de 2021. O pico da 1ª onda aconteceu em julho de 2020 com 40,7 mil pessoas infectadas. O pico da 2ª onda ocorreu em março de 2021 com 70,9 mil casos. Entre abril e junho os números ficaram acima de 60 mil pessoas infectadas. Nos últimos 3 meses os números caíram significativamente e, em setembro de 2021, a média de infectados ficou em 21,7 mil casos diários, o menor nível do corrente ano e o quarto menor de toda a pandemia.

O gráfico abaixo mostra a média mensal de vidas perdidas para a covid-19 de março de 2020 a setembro de 2021. O pico da 1ª onda aconteceu em julho de 2020 com 1.061 óbitos diários. O pico da 2ª onda ocorreu em abril de 2021 com 2.742 óbitos. Até julho de 2021 o número de vítimas fatais ficou acima de 1 mil óbitos. Em setembro, a média caiu para 545 óbitos diários, o quinto menor valor de toda a série. No ano de 2021 já ocorreram 402,8 mil, com média de 1.464 óbitos diários, o que representa 1,02 óbitos por minuto em 9 meses, de 01/01 a 02/10/2021.

O gráfico abaixo mostra o número de mortes da covid-19 no mês de setembro de 2021, distribuído por sexo e idade. Observa-se que 55% dos óbitos são masculinos e 45% são femininos. Em termos etários, 25% dos óbitos foram de pessoas abaixo de 60 anos e 75% de idosos de 60 anos e mais de idade. No mês de junho de 2021 houve mais mortes de não idosos, mas no mês de setembro a maior parte dos óbitos da covid-19 voltou a se deslocar para grande proporção do grupo de idosos.

O panorama global da covid-19

O planeta ultrapassou 233 milhões de pessoas infectadas e chegou a 4,8 milhões de vidas perdidas para a covid-19 no dia 30 de setembro. A taxa de letalidade ficou em 2,1% e as médias móveis de 7 dias ficaram em 448 mil casos diários e 7,7 mil óbitos diários, segundo o site Our World in Data, com base nos dados da Universidade Johns Hopkins.

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O gráfico abaixo mostra a média diária do número de casos da covid-19 para os meses de janeiro de 2020 a setembro de 2021. Nota-se que o número de casos estava abaixo de 100 mil até maio de 2020, ultrapassou 391 mil casos em outubro de 2020 e atingiu o pico de 628 mil casos em janeiro de 2020. Os números caíram em fevereiro e março e bateram todos os recordes de 750 mil infectados por dia no mês de abril de 2021 (isto ocorreu devido ao tsunami de casos da Índia que ultrapassou 400 mil infectados no dia 30 de abril). Em junho o número médio de casos caiu para 382 mil casos. Subiu para 644 mil casos em agosto e caiu para 530 mil casos em setembro de 2021. Não existe uma tendência clara na dinâmica global da pandemia.

O gráfico abaixo mostra a média diária de óbitos da covid-19 para os meses de janeiro de 2020 a setembro de 2021. Nota-se que o primeiro pico aconteceu em abril de 2020 com 6,6 mil óbitos diários. Os números ficaram abaixo deste patamar até outubro de 2020, mas voltaram a subir em novembro e atingiram o pico geral em janeiro de 2021, com 13,5 mil vidas perdidas diariamente. O volume de vítimas fatais caiu em fevereiro e março, mas voltou a subir em abril e maio, ficando acima de 12 mil óbitos diários. De junho a setembro os números ficaram abaixo de 10 mil óbitos diários, sendo que em setembro de 2021 a média global ficou em 8,75 mil óbitos diários, embora ainda em alto patamar, representou a menor média do ano de 2021.

A covid-19 já atingiu mais de 220 países e territórios. No dia 01 de março de 2020, havia somente 1 país com mais de 10 mil casos confirmados de Covid-19 (a China) e havia 5 países com valores entre 1 mil e 10 mil casos (Irã, Coreia do Sul, França, Espanha, Alemanha e Estados Unidos). Em 01 de abril já havia 50 países com mais de 1 mil casos, sendo 36 países com montantes entre 1 mil e 10 mil casos, 11 países com números entre 10 mil e 100 mil e 3 países com mais de 100 mil casos (nenhum país com mais de 1 milhão de casos).

No primeiro dia de 2021 havia 175 países com mais de 1 mil casos e 18 países com mais de 1 milhão de casos. Os números continuaram aumentando e em 01 de outubro de 2021 foram contabilizados 204 países com mais de 1 mil casos, sendo 32 entre 1 mil e 10 mil casos, 62 países entre 10 e 100 mil casos, 75 países entre 100 mil e 1 milhão de casos e 35 países com mais de 1 milhão de casos.

A lista dos 35 primeiros colocados do ranking, com a data em que chegaram à marca de 1 milhão, são: EUA (27/04/20), Brasil (19/06), Índia (16/07), Rússia (01/09), Espanha (15/10), Argentina (19/10), França (23/10), Colômbia (24/10), Turquia (28/10), Reino Unido (31/10), Itália (11/11); México (15/11),  Alemanha (26/11), Polônia (02/12), Irã (03/12), Peru (22/12), Ucrânia (24/12), África do Sul (26/12), Indonésia (26/01/21), República Tcheca (01/02), Holanda (06/02), Chile (01/04), Canadá (05/4), Romênia (09/04), Iraque (21/04), Filipinas (26/04), Suécia (05/05), Bélgica (06/05), Bangladesh (10/07), Paquistão (23/07), Malásia (25/07), Japão (07/08), Portugal (15/08), Tailândia (20/08) e Israel (24/08).

A pandemia atingiu todos os países e todos os continentes do mundo, se transformando em um acontecimento global sem precedentes. Até países asiáticos que pareciam ter a pandemia sobre controle passaram por um forte surto pandêmico como Malásia, Tailândia, Bangladesh etc. O Vietnã que tinha somente 17 mil casos em 01 de julho de 2021 deu um salto para 800 mil casos no dia 01 de outubro de 2021. Também Cuba que tinha somente 12 mil casos em 01 de janeiro de 2021 e passou para 880 mil casos em 01 de outubro. São cada vez mais países com cada vez mais pessoas contaminadas pelo novo coronavírus.

Todos os dados acima mostram que a pandemia está em retração no Brasil, mas a quantidade de casos e de mortes diários não é desprezível, ainda mais quando os números globais ainda são elevados. As praias e os bares brasileiros estão cheios de gente e as torcidas voltaram aos campos de futebol. Até as manifestações do dia 02 de outubro não tiveram como foco central a crítica às políticas públicas do Governo Federal de contenção da pandemia e os persistentes e inquestionáveis erros do Ministério da Saúde.

Na verdade, os problemas do desemprego, da pobreza, da inflação e da fome já começam a sobrepujar as preocupações atuais com os impactos imediatos da covid-19.  A insatisfação é muito maior do que parece e o Brasil fica a cada dia mais parecido com um paiol de pólvora, prestes a explodir e a liberar a energia capaz de transformar as estruturas das iniquidades. Mas continua o sonho da construção de uma nova ordem mais justa e mais próspera para toda a população humana e não humana.

Frase do dia 03 de outubro de 2021

“Às vezes nos esquecemos de que os abusos podem permanecer desconhecidos por longo tempo, até serem publicamente revelados, e que as pessoas podem ver a miséria e não percebê-la, até a própria miséria se rebelar”

Edward Palmer Thompson (1924-1993)

José Eustáquio Diniz Alves

José Eustáquio Diniz Alves é sociólogo, mestre em economia, doutor em Demografia pelo Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (Cedeplar/UFMG), pesquisador aposentado do IBGE, colaborador do Projeto #Colabora e autor do livro "ALVES, JED. Demografia e Economia nos 200 anos da Independência do Brasil e cenários para o século" (com a colaboração de F. Galiza), editado pela Escola de Negócios e Seguro, Rio de Janeiro, 2022.

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