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Veja o que já enviamosOs quatro da Candelária ainda estão aqui
Série recém-lançada pela Netflix revive chacina de crianças e adolescentes ocorrida no Centro do Rio em 1993 e lembra que a legião de moradores em situação de rua continua à mercê da violência
Na contramão do que muitos fariam durante um feriado prolongado, tomei o controle remoto e desviando das obras natalinas já em grande escala no streaming, rumei para uma história menos festiva: a que dá a dimensão, dramaturgicamente, sobre uma chaga brasileira, a Chacina da Candelária.
Em ‘Os quatro da Candelária’, série recém-lançada no Netflix, pude vivenciar um período que ouvi contarem e estudei na escola: meninos como eu – negros e periféricos – foram mortos pela truculência de um Estado preparado pro ataque, pronto para atirar. E que fez da data de 23 de julho de 1993 um símbolo de resistência e luta pelas crianças e jovens em situação de rua: naquela noite, oito pessoas foram assassinadas a tiros enquanto dormiam na calçada, perto de uma das igrejas mais famosas da cidade, por três policiais militares e um ex-PM.
Sentar em frente à tela, 31 anos depois do massacre, na proximidade do Dia da Consciência Negra, me deu a certeza de que não avançamos. No primeiro semestre de 2024, dados do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC) apontaram um aumento de 24% nas suspeitas de violência contra pessoas em situação de rua, sendo São Paulo e Rio de Janeiro os estados líderes do ranking no país. O estado fluminense – local da chacina – está em segundo lugar com 696 suspeitas de violação, seguindo São Paulo, na primeira posição, com 1.964 casos.
Das violações mais denunciadas, violência física – falta de acesso à saúde, maus tratos, abandono e agressão física – e psíquica – a exemplo de tortura e constrangimento.
Isso tudo em um cenário em que também está presente a subnotificação, que mascara a verdadeira realidade de quem sobrevive debaixo das marquises, fazendo de moradas calçadas e também escadarias, praças e túneis, sem saber ao certo se pode fechar os olhos para dormir sem perigo. Como acreditavam Jesus, Douglas, Sete e Pipoca, personagens da série (vividos, respectivamente por Andrei Marques, Samuel Silva, Patrick Congo e Wendy Queiroz)
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Veja o que já enviamosAssistir a obra criada por Luis Lomenha e dirigida por Márcia Faria (produzida pela Kromaki com a Jabuti Filmes), longe do esgarçamento do gênero do true crime, faz quem vê se sentir tocado mesmo não vivendo ‘aquela realidade’. Em ‘Os quatro da Candelária’, há humanidade e leveza, atravessadas por dor e sofrimento. E, mesmo quando não parece, há esperança.
Ali, se fala, sobretudo, de sonhos. De continuidade de vida, com ela sendo digna e possível. Para todos. E para quem mais deveria ser: às crianças.
No dia seguinte ao maratonar dos episódios, voltando pra casa de um trabalho, passei pela locação da série e uma das regiões do Rio. Da janela do ônibus, vi adolescentes e mais ‘pequenos’ perambulando por lá.
Os quatro ainda estão lá, e não só eles, tantos outros.
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