Monge conta como se mantém zen diante do noticiário

Monge Haemin Sumin em palestra na Casa Firjan, no Rio de Janeiro (Foto: Divulgação)

Sul-coreano Haemin Sumin, famoso nas redes sociais, defende que precisamos aceitar as imperfeições para termos um mundo mais sustentável

Por Fernanda Baldioti | ODS 16 • Publicada em 24 de dezembro de 2019 - 11:20 • Atualizada em 17 de fevereiro de 2020 - 19:52

Monge Haemin Sumin em palestra na Casa Firjan, no Rio de Janeiro (Foto: Divulgação)
Monge Haemin Sumin em palestra na Casa Firjan, no Rio de Janeiro (Foto: Divulgação)

Antes de responder a cada pergunta que faço, o monge sul-coreano Haemin Sunim para por alguns segundos, olha para cima parecendo escolher a mensagem que deseja passar, e só então começa a falar. Autor de “As Coisas Que Você Só Vê Quando Desacelera” e “Amor Pelas Coisas Imperfeitas” (ambos da Sextante), Haemin se tornou um pop star. Suas obras venderam mais de 3 milhões de exemplares, e ele conquistou a fama também nas redes sociais, com mais de um milhão de seguidores no Twitter e 113 mil no Instagram. “Isso vai para o YouTube? Meu Deus, meu inglês estava bom?”, preocupa-se após uma entrevista pouco antes de conversar com o #Colabora e de falar para uma plateia que lotou o auditório da Casa Firjan, no Rio de Janeiro. Na entrevista abaixo, ele fala sobre como lidar com as emoções diante do excesso de informações e de egos exacerbados pelas redes sociais e sobre como podemos, por meio da valorização da imperfeição, caminhar para um mundo mais sustentável.

O estresse acontece quando nós resistimos ao que está acontecendo agora

#COLABORA: Como podemos lidar melhor com a pressão do dia a dia neste mundo que muda rapidamente e nos exige constante adaptação?

Haemin Sunim: Nós vivemos numa sociedade com muita informação disponível em comparação há 30, 40 anos. Depois de ler notícias ou de ver o que nossos amigos estão fazendo nas redes sociais, ficamos tristes, felizes, com ciúmes. Com isso, ficamos sobrecarregados, sem saber o que fazer, muitas vezes nos sentindo vítimas deste mundo, completamente perdidos diante do que acontece lá fora. Mas nós temos o controle, apenas se pergunte: “É o mundo que está assim ou é a sua mente?” Relaxe, respire, tenha mais controle e tome escolhas mais sábias. Nós podemos escolher para onde vai a nossa atenção. Se você está prestando atenção demais em coisas que te deixam depressivo, ciumento ou te trazem emoções negativas então busque mudar o foco para coisas que te permitem sentir melhor.

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Além dos nossos problemas pessoais, nos deparamos todos os dias com notícias sobre violência, problemas políticos ou econômicos, que nos estressam ainda mais. É possível separar nossas emoções?

Haemin tira selfie com fã na Casa Firjan (Foto: Divulgação)

Haemin Sunim: Precisamos cultivar compaixão. Ao vermos outra pessoa sofrendo, nós ficamos preocupados pelo bem-estar dela. Até porque eu tenho uma convicção de como o mundo deveria ser, e o mundo lá fora não corresponde exatamente à maneira como eu penso. Isso cria estresse. Mas se você se apega a seu ponto de vista muito fortemente isso cria sofrimento para você. Não estou sugerindo que você não deva ter suas próprias crenças. O que eu defendo é que a sua crença é muito condicionável já que você nasceu em uma determinada família, em uma sociedade, em uma certa época. Busque enxergar que sua crença não é algo permanente e sim maleável, que você pode mudar. Eu não criei este ponto de vista, eu aprendi quando criança. Se você consegue ver isso, há mais liberdade e fica mais fácil separar as emoções.

O que mais estressa o senhor e o que o senhor faz para relaxar?

Haemin Sunim: Geralmente, o estresse acontece quando nós resistimos ao que está acontecendo agora. Resistir a qualquer situação cria estresse. Para mim, a maior resistência diz respeito a barulho, pois sou muito sensível a sons, especialmente quando estou indo dormir. Eu tento fazer duas coisas: uso tampão de ouvido, e se eu não consigo fazer nada a respeito do barulho, em vez de tentar resistir, tento mudar a minha mente para aceitá-lo. O barulho, como outras coisas, vem e vai. Se não tem nada que possamos fazer sobre algo, só nos resta mudar a nossa mente para evitar resistir a isso.

Não dá para pensar só na minha pequena tribo como a única coisa que eu tenho que proteger

Vivemos uma época em que grupos conservadores usam o discurso religioso como artifício para defender pensamentos fundamentalistas. Para o senhor como a religião deveria ser usada? Em que aspectos da nossa vida ela deveria ter influência?

Haemin Sunim: Há religiões profundas e há religiões superficialmente construídas baseadas em algumas teorias. Essas últimas tendem a ter um entendimento muito em cima do “preto no branco”, tendem a descriminar certos grupos, suprimindo eles. Para as pessoas que se encontram neste ciclo e não sabem como sair, eu recomendaria ir mais a fundo nos mistérios da sua tradição para perceber que há interpretações mais profundas disponíveis sobre as relações humanas. Se você olhar profundamente na natureza do mundo você percebe que somos interconectados a todos os outros seres. Se os outros estão sofrendo, nós sofreremos em consequência com o passar do tempo. Não dá para pensar só na minha pequena tribo como a única coisa que eu tenho que proteger e não me importar com as outras coisas. Se as pessoas não estão felizes, eu vou sofrer depois.

O senhor é autor de “Amor pelas coisas imperfeitas”. O senhor acredita que a busca desenfreada pela perfeição pode ter contribuído para essa crise ambiental que vivemos hoje? Do tipo, só escolhemos as frutas e vegetais perfeitos do supermercado, vivemos em busca da roupa ou da plástica da moda para nos adequarmos aos padrões… Aceitar o imperfeito é um caminho para um mundo mais sustentável?

Haemin Sunim:  Sem dúvida. A natureza não é perfeita. É só olhar em volta, tem sempre algo com algum pequeno “defeito”. Mas precisamos entender que isso é a nossa visão de ideal, de perfeição. Eu acredito que devemos abraçar a imperfeição, inclusive a nossa própria. Tudo o que existe tem o seu próprio valor. Se você tem um filho com alguma “imperfeição”, você não vai jogá-lo fora. Pelo contrário, você terá que dar ainda mais amor para aceitar aquela diferença.

Fernanda Baldioti

Jornalista, com mestrado em Comunicação pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), trabalhou nos jornais O Globo e Extra e foi estagiária da rádio CBN. Há mais de dez anos trabalha com foco em internet. Foi editora-assistente do site da Revista Ela, d'O Globo, onde se especializou nas áreas de moda, beleza, gastronomia, decoração e comportamento. Também atuou em outras editorias do jornal cobrindo política, economia, esportes e cidade.

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