Marcha das Margaridas: mulheres pedem mais diálogo

Marcha das Margaridas: manifestação é um marco nas lutas sociais (Foto: Téo Miranda)

Entre as bandeiras levantadas estão preocupações com a violência, saúde, meio ambiente, educação

Por Naine Terena | ODS 16 • Publicada em 15 de agosto de 2019 - 14:32 • Atualizada em 13 de agosto de 2020 - 10:52

Marcha das Margaridas: manifestação é um marco nas lutas sociais (Foto: Téo Miranda)

Uma plataforma política constituída a partir de diálogos entre organizações sociais e o ideal de uma sociedade com relações mais justas foram questões norteadoras da 6ª Marcha das Margaridas, que aconteceu nesta quarta-feira (14/08) em Brasília. De acordo com a organização,  cerca de cem mil mulheres marcharam 6km do Parque da Cidade até a Esplanada dos Ministérios, com a presença de representantes de todos os estados brasileiros e de delegações de 27 países.  Alinhado aos objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) e a Década da Agricultura Familiar – aprovada pela Organização das Nações Unidas – o documento apresentado pelas Margaridas traz, além das preocupações com a violência, saúde, meio ambiente, educação, a proposição de soluções para cada um desses temas.

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Mais de 100 mil mulheres estiveram presentes na Marcha das Margaridas de 2019, segundo os organizadores (Foto: Téo Miranda)

A marcha, que levou o nome: “Margaridas na Luta por um Brasil com Soberania Popular, Democracia, Justiça, Igualdade e Livre de Violência”, não buscou a entrega direta do documento para representantes do Governo Federal, como explicou Mazé Morais, da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), entidade organizadora do evento. Mas, os organizadores acreditam que o documento chegará às mãos das autoridades de diferentes instâncias, por meio dos deputados que acompanharam a mobilização e também, pelo livre acesso na internet.

Olinda Alves, do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Mato Grosso, explica que, no estado, foram problematizados os eixos trabalho, renda e autonomia, Previdência e o SUS. “Faz um ano que estamos trabalhando nas bases, conversando com as mulheres, visto que nas outras marchas, já tivemos outras conquistas”. Já Agar Pereira, da Universidade Federal de Pernambuco e da direção nacional da Federação de Sindicatos de Trabalhadores Técnico administrativos (Fasubra), explica que as pessoas ligadas à federação se incorporaram à marcha para levantar pautas como a Reforma da Previdência e o Future-se. Agar acredita que o Future-se é uma proposta que destruirá as universidades públicas, deixando-as na mão do mercado.

Sara Aquino, de Belo Horizonte, que já esteve na organização das Marchas anteriores, faz uma retrospectiva sobre as conquistas das outras cinco edições. “As Margaridas conseguiram desde a primeira gestão Lula negociar várias políticas públicas para as trabalhadoras rurais”. Ela explica, ainda, que a grande preocupação é que nos últimos anos, essas conquistas estão sendo desarticuladas pelo Governo Federal. Maria Aparecida viajou 1.822km, de Juína até Brasília, para lutar contra a Reforma da Previdência. “A gente está atrás dos nossos direitos, nós que moramos no sítio teremos problema para aposentar”, explica ela.

Mulheres marcham em Brasília (Foto: EVARISTO SA / AFP)

Objetivos das Margaridas

  • Aprovar legislação que puna as empresas que cometam discriminação contra a população de lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais, pessoas trans e intersex, no mercado de trabalho;
  • Estimular grupos de comercialização e feiras da economia solidária e feminista, de base agroecológica, para que as mulheres possam comercializar seus produtos, através de cadeias curtas de produção e consumo e a descentralização do abastecimento nas cidades;
  • Manter, terminantemente, a proibição do uso da tecnologia “terminator” em sementes transgênicas, que tem por único interesse tornar as sementes estéreis para promover maior lucro às transnacionais.
  • Manutenção e ampliação das verbas do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb), garantindo o repasse de recursos para as Escolas Famílias Agrícolas e Casas Familiares Rurais;
  • Efetivação de medidas que aumentem e reforcem a oferta de médicos, a exemplo do Programa Mais Médicos, para ampliar a atenção primária em saúde, especialmente nas regiões mais longínquas do país e de maior vulnerabilidade social, garantindo a presença de profissionais da saúde nas comunidades rurais, indígenas, quilombolas, ribeirinhas e extrativistas;
  • Reconhecer a autonomia da mulher de decidir sobre os rumos de sua própria vida e corpo.

Naine Terena

Naine Terena é natural de Cuiabá/MT e formada em Comunicação Social pela UFMT. Doutora em Educação, é docente na Faculdade Católica de Mato Grosso. Foi assessora de imprensa na Secretaria de Estado de Comunicação de Mato Grosso e na Secretaria de Estado de Cultura e também professora substituta no Curso de de Rádio e TV da UFMT. Atualmente é pesquisadora do Grupo de Pesquisa Multimundos Brasil e produz trabalhos jornalísticos para projetos/veículos ambientais e culturais, através da Oráculo Comunicação, educação e cultura. É uma das organizadoras do livro "Povos Indígenas no Brasil: Perspectivas no fortalecimento de lutas e combate ao preconceito por meio do audiovisual"

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