ODS 1
LGBT+: o problema não é ter dúvidas sobre qual sigla usar, é achar que é um alfabeto e debochar

LGBT+, LGBTQIA+, LGBTI+ ou LGBTQIAP+? As dúvidas sobre qual usar surgem ainda mais no mês do Orgulho. Mais do que achar a resposta certa, é essencial interromper as piadas, entender que cada letra é uma vivência e que muitas pessoas só conseguem existir por causa da sigla

A dúvida sobre qual sigla usar para melhor definir os membros da comunidade LGBT+ torna-se bastante comum sobretudo nas semanas que antecedem o Dia do Orgulho LGBT+, comemorado em 28 de junho em razão da revolta de Stonewall – primeiro protesto de grande repercussão pelos direitos da população LGBT+, em 1969, nos EUA. Todo ano, a data é relembrada e celebrada como uma forma de autoafirmação do orgulho.
Definir a nomenclatura a ser utilizada pode ser mais simples do que muitos imaginam. O que já adianto: só não pode debochar, achar que a nossa sigla é um alfabeto sem sentido, como muitos dizem por aí: LGBTQRSWYZ ou LGDBTYH, como ironizou em rede nacional a apresentadora Patrícia Abravanel, do SBT. Isso não é legal. Antes de tudo, é importante lembrar: não se trata apenas de uma sigla qualquer, é por causa dela que muitas pessoas conseguem existir.
Se você quiser se informar sobre o que significa cada letra, sugiro que clique para ler essa reportagem do #Colabora. Minha ideia aqui é mostrar que, primeiro, se você já está preocupado em usar a sigla correta, isso já diz muito sobre você e sobre a sua intenção em querer respeitar um símbolo do movimento. Nesse sentido, não é vergonha nenhuma não saber a mais usual do momento. Nós, da comunidade, também ficamos confusos em alguns momentos. A principal informação que você precisa saber é que cada letra representa uma orientação sexual ou identidade de gênero. E a sigla vai crescendo à medida que as pessoas passam a reivindicar o direito de se sentirem representadas.
Que tal no lugar de se questionar estranhamente o porquê de tantas letrinhas, passar a admirar o fato da nossa comunidade sempre querer agregar pessoas que se sentem excluídas?
Antes, por exemplo, era comum o uso do termo GLS (gays, lésbicas e simpatizantes). Foi criado em 1994 por Suzy Capó, jornalista, ativista e empresária, durante os preparativos do festival de cinema Mix Brasil. Mas, com o tempo, percebeu-se que muitas identidades ficavam de fora, como as pessoas trans, que com essa exclusão viviam ainda mais à margem da sociedade, sem de fato uma representação social e política. Ficou ultrapassada e, se usada hoje em dia, pode soar até mesmo de forma incômoda.
Assim, chegamos à sigla LGBT, que é o termo oficial aprovado em 2008 na 1ª Conferência Nacional de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais. Uma mudança que veio para se alinhar ao padrão mundial que trás, além da representatividade trans, o L de lésbicas na frente para um maior protagonismo para a luta das mulheres.
Sabendo do contexto e da importância da nomenclatura, agora convido: que tal no lugar de se questionar estranhamente o porquê de tantas letrinhas, passar a admirar o fato da nossa comunidade sempre querer agregar pessoas que se sentem excluídas? É por isso que depois aderiu-se o Q de queer, o A para assexuais, o I para intersexuais e, recentemente, algumas siglas estão usando o P de pansexuais: LGBTQIAP+.
Se até aqui você já entendeu que essas letras são pessoas, são vivências, já estamos no caminho certo. Agora, você pode usar no seu dia a dia a sigla que fique mais fácil para a sua pronúncia ou escrita, desde que tenha respeito.
Para simbolicamente nenhuma minoria ficar excluída, usamos o ‘+’ no final para reforçar que existem outras identidades que não estão destacadas na sigla. O ‘+’ chega então para abraçar todas as minorias, todos aqueles que não se enquadram no modelo de heteronormatividade cisgênero. Ou seja, todos que não são considerados padrões.
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Veja o que já enviamosLGBT+ é considerada por especialistas a nomenclatura mais efetiva. Em uma entrevista ao #Colabora em 2019, Maria Eduarda Aguiar, que luta por políticas públicas que gerem representatividade nacional à população trans, destacou: “Se é uma minoria excluída por razão de sexualidade ou identidade deve estar protegida dentro do nosso movimento. Por isso o LGBT+. Além disso, ter muitas siglas se torna enfadonho e pouco efetivo. O ‘+’ chega para abarcar as outras identidades”.
Nessa mesma reportagem, a Ariel, que é assexual, defende que a sigla não é mero detalhe e que se inclui neste ‘+’. “Eu costumo me chatear ao ver pessoas usando apenas LGBT, mas sempre tento explicar o motivo de se usar a sigla mais completa, porque muitas vezes a pessoa não faz por querer, mas, sim, por desconhecimento. Um ‘A’ na sigla ou o símbolo ‘+’ já me satisfaz”.
A sigla é autoafirmação política e ideológica. Vem para mostrar que existe uma força, um movimento, muito grande lutando por cada um de nós, LGBT+. É um ato político. É o que nos faz coexistir e lutar pelos nossos direitos dentro de uma sociedade completamente LGBTfóbica
Então, vamos combinar? Se quiser usar LGBT+, ninguém vai te crucificar por causa disso. Se você se sentir mais à vontade em falar ou escrever LGBTI+, ótimo. Prefere LGBTQIA+? Melhor ainda. Quanto mais letrinhas, mais pessoas e mais minorias representadas e visibilizadas.
É muito melhor que soe natural do que, por exemplo, você ter que se esforçar para falar uma sigla na qual você não está muito acostumado e travar no meio. E, como eu disse no início do texto, o mais importante é não debochar. Algumas pessoas inventam letras; no meio da sigla começam a se embolar propositalmente, e outras acham que é o alfabeto e fazem piadinhas. Aí, sim, perde todo o sentido e gera um desconforto. Não é legal rir de um símbolo do movimento negro nem do movimento feminista. Por que fazer piada do movimento LGBT+?
E se ainda há dúvidas do motivo de todas essas classificações, a resposta é simples: Para existirmos. Mesmo com elas, por exemplo, muita gente ainda não reconhece e não respeita o gênero de pessoas trans. Imagina se não existisse essa representatividade? Seria muito pior.
Quem acha que é mimimi é porque, de fato, nunca precisou fingir ser quem não era só para ser aceito. E quem nunca precisou ter medo de morrer só por simplesmente ser quem é. A sigla é autoafirmação política e ideológica. Vem para mostrar que existe uma força, um movimento, muito grande lutando por cada um de nós, LGBT+. É um ato político. É o que nos faz coexistir e lutar pelos nossos direitos dentro de uma sociedade completamente LGBTfóbica.
É preciso união, dentro e fora da comunidade. Se informar e respeitar já é um grande passo.
Além de diferentes siglas, também temos diferentes bandeiras para representar a luta das distintas identidades de gênero e/ou orientações sexuais, como mostra a imagem abaixo. Clique em cada uma para saber o que significam.
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Yuri Alves FernandesJornalista e roteirista do #Colabora especializado em pautas sobre Diversidade. Autor da série “LGBT+60: Corpos que Resistem”, vencedora do Prêmio Longevidade Bradesco e do Prêmio Cidadania em Respeito à Diversidade LGBT+. Fez parte da equipe ganhadora do Prêmio Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos, com a série “Sem direitos: o rosto da exclusão social no Brasil”. É coordenador de jornalismo do Canal Reload e diretor do podcast "DáUmReload", da Amazon Music. Já passou pelas redações do EGO, Bom Dia Brasil e do Fantástico. Por meio da comunicação humanizada, busca ecoar vozes de minorias sociais, sobretudo, da comunidade LGBT+.
Um comentário em “LGBT+: o problema não é ter dúvidas sobre qual sigla usar, é achar que é um alfabeto e debochar”
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A questão é que muitas vezes as pessoas “se perdem” em se “definir” do que vivenciar! Inclusive há 8 meses, estou num “romance” com um homem coroa feito eu e, ambos cisgeneros e, o fato dele ser marido e pai, eu solteiro e sem filhos, trata-se de mero detalhe. O importante é termos conversado sobre nossa sexualidade e até ele haver dito, que o que atraiu ele foi o conjunto, Não apenas o chamado “feronomio” dele saber que poderia me penetrar e que eu justamente buscava essa iniciativa dele! Já o filho dele, trintão, casado também, indo no esteriótipo, do chamado “homem de academia”, como que acreditando que seja um protocolo para inserir-se na adversidade, como a barba aparada, adotada por outros!