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Lady Gaga no Rio: o ativismo e a filantropia da cantora pop

Cantora que se apresenta em Copacabana neste sábado, 3, já usou sua visibilidade e fortuna para assistir à comunidade LGBT+, pessoas vivendo com HIV/Aids, vítimas de abuso sexual e de tragédias naturais.

Lady Gaga no Rio: o que faz um artista da indústria musical ser considerado “imortal” ou então uma “lenda viva”? Os números de vendas conquistados ao longo da carreira, a legião de fãs ao redor do mundo ou exatamente o que esse ídolo faz longe dos holofotes do show business, usando seu alcance e visibilidade para apoiar causas humanitárias? Considerando apenas uma ou conjunto das três respostas, Lady Gaga já tem todos os requisitos para ser considerada como tal. Prestes a se apresentar no Rio de Janeiro, na praia de Copacabana, no dia 3 de maio, a norte-americana vem deixando uma marca que, sem dúvidas, será lembrada por décadas.
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Para os fãs – os Little Monsters -, o suporte da cantora diante de diferentes causas não é novidade. Mas para boa parte da população, que acompanha a carreira da disruptiva cantora pelos clipes excêntricos ou pelos tabloides de entretenimento, o lado filantrópico de Lady Gaga pode ser, sim, uma novidade. O #Colabora lista a seguir algumas situações em que a estrela se colocou na linha de frente de assuntos que carecem de debate globalmente, seja usando sua voz e seus milhões de seguidores ou parte da sua fortuna na luta por um mundo mais tolerante e justo.
Pandemia e doações milionárias
Lady Gaga atuou fortemente para ajudar os profissionais de saúde e as comunidades mais vulneráveis em relação aos impactos da pandemia do coronavírus. Em abril de 2020, a estrela batizada como Stefani Germanotta foi o grande nome por trás do festival “One World: Together at Home”, da Organização Mundial da Saúde em parceria com a ONG Global Citize. O evento uniu artistas de peso em uma live de oito horas para reunir as pessoas e celebrar as doações feitas para o Fundo de Resposta à Solidariedade, criado pela Fundação das Nações Unidas, junto à OMS.
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Veja o que já enviamosA artista também concentrou esforços para conseguir doações milionárias em prol da causa. Durante uma participação no “The Tonight Show”, Lady Gaga ligou para Tim Cook, CEO da Apple, e o questionou sobre a doação que ele havia combinado de fazer. Ao vivo, o empresário confirmou o gesto e doou US$ 10 milhões (mais de R$ 50 milhões) para o fundo da OMS. Ao todo, segundo anunciado pela cantora na coletiva de lançamento do festival, mais de US$ 35 milhões (R$ 183 milhões) já foram arrecadados pela indústria do entretenimento com sua influência.

Fundação contra o bullying
Lady Gaga nunca escondeu em suas entrevistas o bullying sofrido durante a adolescência. Certo dia, por exemplo, três garotos a jogaram dentro de uma lata de lixo enquanto outras meninas riam. “Quando eu passava nos corredores eles me beliscavam e me chamavam de vagabunda”, relatou. Consciente dos traumas gerados por essa violência, a norte-americana usou da sua visibilidade e fortuna conquistadas com seu trabalho para criar, em 2011, a Fundação Born This Way.
A ONG, voltada para jovens, tem como missão construir um mundo mais gentil e corajoso, formando comunidades que compreendam e valorizem a saúde mental. Um dos grandes feitos é a parceria com o Conselho de Saúde Comportamental dos EUA para levar os primeiros socorros em saúde mental para adolescentes do país. “É uma fundação para dar poder à juventude. Trata-se de modificar o clima do ambiente escolar”, declarou Gaga.

Aporte na educação pública dos EUA
Em agosto do ano passado, Lady Gaga anunciou que financiaria totalmente 162 projetos educacionais de escolas públicas de três cidades dos EUA, vítimas de recentes tiroteios em massa. O aporte foi direcionado à ONG Donors Choose e realizado por meio da Fundação Born This Way para atender as necessidades dos alunos em El Paso, no Texas; Dayton, em Ohio; e Gilroy, na Califórnia. “Neste momento, quero canalizar minha confusão, frustração e fúria em esperança. Espero que estejamos juntos, uns para com os outros”, disse a cantora em suas redes sociais na ocasião.
Tragédias naturais
Em 2017, Gaga literalmente colocou a mão na massa para ajudar a reconstruir casas destruídas pelo Furacão Harvey, no Texas. “Queremos ajudar a fazer Houston forte outra vez. Estamos fazendo algumas demolições e melhorando a casa da Pamela após a passagem do Furacão Harvey”, detalhou a artista, que contratou uma equipe de profissionais para a reforma das habitações de diversas famílias. Cinco anos antes, Lady Gaga também anunciou que doaria à Cruz Vermelha US$ 1 milhão (R$ 5 milhões) para vítimas de outro fenômeno natural, a supertempestade Sandy, que atingiu Nova York, sua cidade natal, em 2012.

Vítimas de abusos sexuais
Ao lançar “Til It Happens To You”, em 2015, Gaga não só levantou globalmente a discussão sobre a violência sexual como também doou parte da receita da venda da música para organizações em prol de vítimas de estupro. O trabalho, indicado como Melhor Canção Original no Oscar de 2016, fez a cantora subir ao palco com dezenas de vítimas de estupro para aquela que se tornaria uma apresentação épica – anunciada pelo então vice-presidente dos Estados Unidos, Joe Biden. Na pele das garotas, frases como: “A culpa não é sua” e “Sobreviventes”. Lady Gaga, que revelou ter sido abusada sexualmente aos 19 anos, tatuou juntamente com as convidadas um mesmo desenho sobre solidariedade.
Luta contra a Aids
Após receber de Yoko Ono o troféu “LennonOno Grant For Peace”, em 2012, em reconhecimento ao seu ativismo social, a cantora garantiu que iria doar os US$ 50 mil (R$ 250 mil) recebidos para instituições assistidas pela ‘Elton John Aids Foundation’. “Vou trabalhar perto deles para garantir que o dinheiro vá especificamente para os órfãos e jovens carentes que nasceram com HIV ou Aids na América”, disse a cantora em discurso após receber o prêmio.
Incêndio em Malibu
Durante o Dia Mundial da Bondade, em novembro de 2018, Gaga fez jus à data e visitou a Cruz Vermelha de Los Angeles, na Califórnia, para oferecer ajuda às milhares de pessoas desabrigadas em razão de um incêndio florestal que afetou, principalmente, a cidade de Malibu, onde a cantora tem residência. Ela, que também foi obrigada a deixar sua casa, cantou, distribuiu pizzas e presentes para a população local. “Eu sei que não nos conhecemos, mas eu os amo, isso é uma emergência, mas vocês não estão sozinhos, nós temos um ao outro”, falou durante o encontro, sem noticiar o quanto doaria para as famílias.

Diretos Humanos e política
A protagonista da mais nova versão do longa “A Star is Born” também não deixa de se posicionar politicamente sobre assuntos importantes relacionados aos direitos humanos, sobretudo LGBTI+. Em 2010, ela organizou uma grande manifestação a favor da revogação do “Don’t Ask, Don’t Tell”, política que proibia homossexuais declarados no Exército norte-americano. Em dezembro do mesmo ano, Barack Obama pôs fim à restrição.
Após a vitória de Donald Trump na eleição presidencial dos EUA em 2016, Lady Gaga, que á abertamente seguidora do Partido Democrata americano, protestou em frente a Trump Tower, em Nova York. Em cima de um caminhão, ela expressou sua indignação em um cartaz: “Love trumps hate” ou “O amor supera o ódio”, em alusão ao verbo em inglês que se assemelha ao sobrenome do presidente.
Em 2018, Gaga criticou fortemente o governo de Trump por pretender eliminar o reconhecimento da comunidade trans no país por meio de uma revisão na lei federal para definir gênero apenas como sexo biológico. “O governo pode estar vivendo em um universo alternativo, mas nós, como sociedade e cultura, sabemos quem somos e conhecemos a nossa verdade e devemos nos unir e levantar nossas vozes para que possamos educá-los sobre as identidades de gênero”, declarou.

Porta-voz da comunidade LGBT+
Não são as músicas que celebram diversidade e autoaceitação e as manifestações citadas acimas que fazem Lady Gaga ser considerada uma porta-voz para LGBTI+. A cantora, que é bissexual, sempre fez questão de conhecer de perto e assistir à população mais vulnerável da comunidade. São inúmeras visitas à instituições de acolhimento. Em 2016, na Inglaterra, fez uma pesquisa em uma ONG para saber as reais necessidades de crianças e jovens abandonados por suas famílias. No mesmo ano, passou o feriado de Ação de Graças em uma entidade de Nova York. “Eu não estou aqui hoje porque eu precisei tirar dolorosamente algum tempo de minha agenda. Estou aqui porque eu quero estar aqui. E estou aqui porque eu quero que isso afete outras pessoas ao redor do mundo”, disse em entrevista ao iHeartRadio.
Os resultados do apoio de Lady Gaga à comunidade LGBTI+ são visíveis, frequentemente, em comentários e cartas enviadas para a cantora, muitas vezes lidas durantes seus shows. Na maioria, jovens relatam que venceram a depressão ou que desistiram do suicídio por conta das letras e do empoderamento da artista. Will Nascimento, um fã brasileiro que escreveu para Gaga se despedindo, recebeu suporte imediato da estrela: “Toda tristeza pode mudar. Mas você precisa trabalhar para isso. Nós precisamos de você. Eu preciso de você”.

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Yuri Alves Fernandes
Jornalista e roteirista do #Colabora especializado em pautas sobre Diversidade. Autor da série “LGBT+60: Corpos que Resistem”, vencedora do Prêmio Longevidade Bradesco e do Prêmio Cidadania em Respeito à Diversidade LGBT+. Fez parte da equipe ganhadora do Prêmio Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos, com a série “Sem direitos: o rosto da exclusão social no Brasil”. É coordenador de jornalismo do Canal Reload e diretor do podcast "DáUmReload", da Amazon Music. Já passou pelas redações do EGO, Bom Dia Brasil e do Fantástico. Por meio da comunicação humanizada, busca ecoar vozes de minorias sociais, sobretudo, da comunidade LGBT+.