Coronavírus: 500 brasileiros retidos na África do Sul por voos cancelados

Parte do grupo de brasileiros retidos na África do Sul, com Ricardo Souto à frente (Reprodução/Instagram)

Grupo de cariocas, que inclui vários idosos, sofre com racionamento de comida e água em hotel na cidade de Joanesburgo

Por Lauro Neto | ODS 16 • Publicada em 28 de março de 2020 - 10:47 • Atualizada em 19 de setembro de 2020 - 12:22

Parte do grupo de brasileiros retidos na África do Sul, com Ricardo Souto à frente (Reprodução/Instagram)

Mais de 500 brasileiros não-residentes estão retidos na África do Sul sem conseguir voltar ao Brasil por conta de voos cancelados em decorrência da pandemia do coronavírus. De acordo com a Embaixada do Brasil em Pretória, há 253 em Joanesburgo e mais de 100 na Cidade do Cabo e arredores. Na última quinta-feira (26), o governo sul-africano decretou um confinamento de 21 dias, com medidas que incluem restrições no espaço aéreo. O país, que já contabilizou mais de mil casos de Covid-19, registrou as duas primeiras mortes em função da doença, nesta sexta, na província de Cabo Ocidental.

O que era uma viagem planejada e de sonhos para viver dias felizes com a família foi transformado nesses dias de súplica e desconforto

O advogado carioca Wagner Bernardes, de 42 anos, está hospedado no Birchwood Hotel, em Joanesburgo, onde há mais de 100 brasileiros que não conseguiram embarcar esta semana. Bernardes estava de férias num grupo de 11 pessoas, entre familiares e amigos, que tiveram um voo cancelado pela Latam no último domingo (22). Depois, havia conseguido remarcar para o dia 30 de março, mas a companhia cancelou novamente. Ele conta que na sua família há idosos e pessoas no grupo de risco.

“A maior parte é de alto risco, como uma hipertensa de 84 anos e uma paciente oncológica, de 71. Dentre os brasileiros que estão no hotel, temos pessoas portadoras de doenças autoimunes, que usam remédios controlados que estão no fim. O que era uma viagem planejada e de sonhos para viver dias felizes com a família foi transformado nesses dias de súplica e desconforto”, lamenta Bernardes. “Por favor, clamo por ajuda para podermos voltar o mais rápido possível a nossas casas, principalmente para esse grupo de risco”.

Bernardes relata ainda dificuldades de comunicação, pois grande parte não fala inglês, e financeiras, já o grupo havia se planejado para ficar viajar 10 dias, mas já está há mais de duas semanas. Com o lockdown, ele explica que alguns serviços do hotel também fram encerrados, como o translado e a limpeza.

“A refeição que está sendo servida está senda racionada a cada dia, e já diminuíram a entrega de água. Eu, por exemplo, não almoço há dois dias. Tomo um café reforçado e preciso comprar algo à noite para comer, porém nossas reservas se esgotaram. Há pessoas aqui que estão sem nada.Não há mais serviço de quarto, ou seja, cada um faz a limpeza do seu quarto. Precisamos pagar para utilizar a máquina de lavar roupa e comprar nosso sabão em pó”.

Latam diz que há 1 voo programado para 1º de abril

Ele diz que o grupo está em contato com as autoridades consulares locais, que estariam em negociação para que sejam cumpridas as exigências de segurança e vigilância sanitária a fim de que o voo ocorra, mas a Latam ainda não havia se pronunciado. Procurada pelo Projeto #Colabora, a Latam informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que “tem um voo programado a partir de Joanesburgo para o dia 1º de abril”, mas que não havia outros detalhes sobre o voo, como o número de brasileiros que serão repatriados.

“A LATAM vem trabalhando fortemente junto às autoridades dos diversos países onde opera para trazer seus clientes de volta para casa, em função das restrições de entrada/ saída e fronteiras fechadas. A companhia reforça que está em contato com seus clientes para prestar as informações necessárias”, diz a nota enviada pela empresa.

Ricardo Souto está no mesmo hotel de Bernardes e publicou um vídeo em seu Instagram em que aparecem vários brasileiros, alguns idosos, como forma de pressionar a companhia aérea a realocá-los em voos de volta ao Brasil. “Estamos num momento de muita incerteza do que vai acontecer conosco, quando e se vamos conseguir voltar pro Brasil. Tínhamos voos confirmados e estávamos prontos a voltar. A Latam cancelou e não nos recoloca em nenhum voo. Precisamos de um posicionamento da empresa com a realocação desses 150 brasileiros para eles poderem retornar ao Brasil”, diz Souto no vídeo.

 

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Itamaraty: “dificuldades impostas pelo isolamento desaconselham qualquer previsão”

Já o Ministério das Relações Exteriores disse não ser possível confirmar ainda uma data para o retorno dos brasileiros retidos na África do Sul. Em nota enviada ao #Colabora, o Itamaraty informou que a Embaixada do Brasil em Pretória e o Consulado-Geral na Cidade do Cabo têm conhecimento da situação dos brasileiros retidos, em decorrência das medidas de isolamento decretadas pelo governo sul-africano.

“Negociações com o governo e com as companhias aéreas estão em andamento para viabilizar solução que permita a todos os nacionais não-residentes retidos na África do Sul o mais rápido retorno possível ao Brasil. A excepcionalidade da situação e as dificuldades impostas pelo isolamento imposto pelas autoridades no país desaconselham qualquer previsão, mas o Itamaraty está trabalhando, ininterruptamente, para lograr o retorno de nossos compatriotas. Recomenda-se aos brasileiros na Cidade do Cabo, que ainda não o tiverem feito, contatar o Consulado o mais rapidamente possível para informá-los da situação”, diz a nota.

Lauro Neto

Carioca, mas cidadão do mundo. De carona na boleia de um caminhão ou na classe executiva de um voo rumo ao Qatar, sempre de malas prontas. Na cobertura de um tiroteio na cracolândia do Jacarezinho ou entrevistando Scarlett Johansson num hotel 5 estrelas em Los Angeles, a mesma dedicação. Curioso por natureza, sempre atrás de uma boa história para contar. Jornalista formado na UFRJ e no Colégio Santo Inácio. Em 11 anos de jornal O Globo, colaborou com quase todas as editorias. Destaque para a área de educação, em que ganhou o Prêmio Estácio em 2013 e 2015. Foi colunista do Panorama Esportivo e cobriu a Copa de 2014 e a Olimpíada de 2016.

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