ODS 1
Carro usado no atentado ao Porta dos Fundos tem 40 multas
Com registro fraudado e sem nenhum licenciamento anual, veículo chegou a ser parado pela PM, mas não foi apreendido
O carro usado no ataque a bomba à produtora Porta dos Fundos circula com 40 multas não pagas desde 2013 (mais de R$ 6.650,00) sem nunca ter feito os licenciamentos anuais. Trata-se de um Ford Ecosport FSL 1.6 FLEX, de cor prata. O automóvel foi fabricado em 2011, cinco anos após a morte do proprietário, cujo nome consta no Certificado de Registro e Licenciamento de Veículos (CRLV). O Projeto #Colabora teve acesso à placa e ao Renavam, mas optou por não divulgá-los para não atrapalhar as investigações. A Polícia Civil ainda tenta rastrear o automóvel e descobrir quem são os outros quatro participantes do crime, que completa 1 mês nesta sexta-feira. Até o momento, só foi identificado Eduardo Fauzi, que confessou sua participação em entrevista ao #Colabora. Ele está foragido na Rússia e só deve voltar ao Brasil se sua defesa conseguir um habeas corpus.
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Veja o que já enviamosA maioria das 40 multas se deram por excesso de velocidade e foram registradas apenas por radares, o que dificulta obter informações sobre o condutor. Em 2019, foram duas, a última delas no dia 2 de outubro, às 21h22, na altura do Km 66,8 da RJ 106 (Sentido Macaé-Saquarema). Duas outras infrações de 2015 dão algumas pistas sobre quem estava dirigindo o carro na ocasião. Na madrugada de 19 de outubro, a Polícia Militar (PM) autuou o motorista na Avenida Brasil por estar com a Carteira Nacional de Habilitação vencida há mais de 30 dias e por dirigir o veículo que não estava registrado e devidamente licenciado. De acordo com o Código de Trânsito Brasileiro, ambas infrações são gravíssimas, e a segunda prevê apreensão e remoção do veículo.
Detran dá explicações
Em nota enviada pela assessoria de imprensa, o Detran-RJ informou que o veículo não foi apreendido após a abordagem da PM por haver uma criança envolvida na situação, com base numa deliberação do Conselho Estadual de Trânsito do Estado Rio de Janeiro (Cetran-RJ). “O condutor, que estava com a CNH vencida há mais de 30 dias, apresentou outro motorista, e o veículo foi liberado”, diz a nota. No entanto, o órgão não respondeu os questionamentos do #Colabora sobre como foi possível alguém fazer o primeiro e único licenciamento do carro em 2011 em nome de uma pessoa morta cinco anos antes. Limitou-se a informar que a Corregedoria irá apurar o caso imediatamente.
No CRLV, constam as observações “restrição judicial” e “alienação fiduciária”. Fontes da Procuradoria da Fazenda e das polícias Civil e Rodoviária Federal disseram que, provavelmente, trata-se de um carro que foi alienado em financiamento e não foi pago. “Então, o vendedor do carro (credor da dívida referente ao valor do carro) entra na Justiça e consegue, em regra, ordem de busca e apreensão do veículo, que fica com restrição judicial. Ou seja, em tese, o Poder Judiciário emanou uma ordem de apreensão do carro, a ser cumprida por oficial de Justiça”, explicou um delegado que pediu anonimato.
De acordo com trechos do inquérito aos quais a reportagem teve acesso, Fauzi era quem dirigia o carro na madrugada do ataque ao Porta dos Fundos. Segundo o inquérito, um vídeo “com cenas gravadas do atentado pelo motorista do Ford/Ecosport mostrando um indivíduo com o artefato em chamas em sua mão” foi publicado no YouTube, mas já removido. Segundo a dinâmica narrada com a ajuda de imagens de câmeras de segurança, uma das pessoas envolvidas no crime “corre para o lado do carona do automóvel” após arremessar o coquetel molotov. Em seguida, “rapidamente, o carro parte em fuga em disparada na direção da Rua Voluntários da Pátria”. Procurada, a defesa de Fauzi disse que só vai se manifestar nos autos do inquérito.
A produtora foi atacada na madrugada do dia 24 de dezembro em protesto contra o Especial de Natal que retrata Jesus como homossexual. Um segurança conseguiu apagar as chamas provocadas pela explosão, mas quase foi atingido.
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Carioca, mas cidadão do mundo. De carona na boleia de um caminhão ou na classe executiva de um voo rumo ao Qatar, sempre de malas prontas. Na cobertura de um tiroteio na cracolândia do Jacarezinho ou entrevistando Scarlett Johansson num hotel 5 estrelas em Los Angeles, a mesma dedicação. Curioso por natureza, sempre atrás de uma boa história para contar. Jornalista formado na UFRJ e no Colégio Santo Inácio. Em 11 anos de jornal O Globo, colaborou com quase todas as editorias. Destaque para a área de educação, em que ganhou o Prêmio Estácio em 2013 e 2015. Foi colunista do Panorama Esportivo e cobriu a Copa de 2014 e a Olimpíada de 2016.