Carnaval 2023: Porto da Pedra é campeã com desfile pela preservação da Amazônia

Escola de samba de São Gonçalo, que buscou compensar a emissão de carbono, conquistou título da Série Ouro e vai desfilar no Grupo Especial em 2024

Por Ana Carolina Aguiar | ODS 15 • Publicada em 20 de fevereiro de 2023 - 12:40 • Atualizada em 25 de novembro de 2023 - 14:22

A Amazônia e um indígena defensor da floresta representados no desfile da Porto da Pedra: preservação ambiental dentro e fora da Passarela do Samba (Foto: Gabriel Santos / Riotur)

A Porto da Pedra entrou na Passarela do Samba, no sábado (18/02) ecoando a voz do canto do indigenista Bruno Pereira, assassinado ao lado do jornalista Dom Phillips no Acre: “Warrãna-rarae, Warrãna-rarae, Mari-nawa-kenadêe”. Com uma preocupação com o meio ambiente que começou antes do desfile e com um enredo marcante sobre o imaginário da Amazônia, a partir da literatura do escritor francês Júlio Verne, a escola de samba de São Gonçalo explorou a criatividade na apresentação sobre a floresta e também trouxe à tona o debate sobre preservação e conservação para o público. Além do público, a Porto da Pedra também conquistou o júri: foi a campeã da Série Ouro e vai desfilar no Grupo Especial em 2024.*

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Quinta escola a desfilar na última noite da Série Ouro (o grupo de acesso do carnaval do Rio), a vermelho e branco ganhou elogios, principalmente pela evolução e pelo samba-enredo. Para os jurados do Estandarte de Ouro, tradicional premiação carnavalesca do jornal O Globo, a Porto da Pedra fez o melhor carnaval da Série Ouro e era forte candidata a retornar ao Grupo Especial em 2024. “O desfile foi completo e teve clareza no significado das alegorias luxuosas e fantasias criativas”, resumiu o júri.

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A escola também assumiu um compromisso diante da escolha do enredo. A redução do uso de penas reais nas fantasias e a compensação da emissão de CO2 – das atividades da escola durante a preparação para o carnaval – fazem parte desse compromisso com uma postura mais sustentável no maior espetáculo da terra. Antes dos desfiles, integrantes da Porto da Pedra participaram de mutirão para plantar mudas de espécies da Mata Atlântica numa área de preservação ambiental em São Gonçalo

Aclamada durante o desfile com gritos de toda a arquibancada e até com fogos de artifício, a Porto da Pedra homenageou figuras importantes do ativismo ambiental, assassinadas na defesa da floresta e de seus povos: o jornalista Dom Phillips, o indigenista Bruno Pereira, a missionária católica Irmã Dorothy e o ambientalista Chico Mendes.

Poucos minutos antes do desfile começar, o carnavalesco Mauro Quintaes definiu a sua expectativa para o desfile como a melhor possível. “A ideia é tocar no dedo na ferida das culturas indígenas brasileiras. O último carro tem uma visão política muito forte”, afirmou o carnavalesco. Neste carro, a escola trouxe lideranças indígenas e até a filha do próprio Chico Mendes para desfilar.

Imagens de Dom Phillips, Bruno Pereira, Dorothy Strang e Chico Mendes em alegoria da Porto da Pedra: homenagem a mártires na defesa da floresta e seus povos (Foto: João Gabriel / Riotur)
Imagens de Dom Phillips, Bruno Pereira, Dorothy Strang e Chico Mendes em alegoria da Porto da Pedra: homenagem a mártires na defesa da floresta e seus povos (Foto: João Gabriel / Riotur)

Amor pela vermelho e branco na Passarela

Os integrantes da Porto da Pedra ficaram emocionados com o desfile. Parte da diretoria, Rui Franco está há muito tempo na escola e afirma a importância da escola para o município de São Gonçalo. Para ele, a agremiação veio para brigar pela vitória neste ano. “É uma escola fazendo carnaval de Especial. Além do enredo ser muito bonito”, declarou.

Moradora do município de Rio Bonito, quase vizinho a São Gonçalo, Maria Imaculada estreou na Sapucaí. “A Porto da Pedra surgiu no meu caminho por meio do meu irmão e do meu sobrinho. Eles foram trazendo devagarzinho todo mundo da família”. Com as melhores expectativas sobre o desfile, Maria estava ansiosa. “É uma alegria imensa porque é a minha primeira vez desfilando, então o coração está aceleradíssimo”, afirmou.

Irmão de Maria, João Batista tem o samba em sua vida desde 1995. Porém, a relação com o Porto da Pedra começou por causa de seu filho. “Quando o trazia para os ensaios e testes de som, acabei me envolvendo com a escola. E hoje trouxe dez pessoas de Rio Bonito para cá “, contou. Para João, o enredo encaixou com a escola e as expectativas são altas pela dedicação durante o preparo e ensaios realizados.

Na ala das baianas pela segunda vez, Auxiliadora de Souza também já desfilou em algumas alas. Ela acredita que a proposta do carnavalesco era casar todos os elementos do desfile da melhor maneira possível para trazer a mensagem. “Vamos dar o melhor de nós pelo Tigre. Orgulho e glória de São Gonçalo”, vibrou.

De geração a geração, essa foi a história da Porto da Pedra na vida de Vera Lúcia dos Santos. Com uma relação de 30 anos com a vermelho e branco, ela até tatuou o tigre – símbolo da escola – em seu braço. “Tô muito emocionada de falar. Tenho um neto que sai na bateria desde pequeno. Eu sempre saio nos desfiles, mas hoje vim acompanhá-lo”, contou.

*Atualizada às 19h52 de 22/02 para informar o resultado oficial do desfile das escolas da Série Ouro

Ana Carolina Aguiar

Jornalista, comunicadora antirracista, da Baixada Fluminense e apaixonada por ouvir e contar histórias. Seja por meio da fotografia, audiovisual ou escrita. Foi estagiária da assessoria de comunicação do Ministério Público Federal no Rio de Janeiro e colaboradora do portal Notícia Preta.

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