Biodiversidade em chamas

Coala morto pelo fogo na Ilha do Canguru, na Austrália: um terço da população dos coalas australianos já morreu nos incêndios (Foto: Peter Parkis/AFP)

Incêndios na Austrália são o exemplo mais gritante do que a insensatez humana pode fazer com o equilíbrio do planeta

Por José Eduardo Mendonça | ODS 15 • Publicada em 20 de janeiro de 2020 - 08:09 • Atualizada em 17 de fevereiro de 2020 - 19:39

Coala morto pelo fogo na Ilha do Canguru, na Austrália: um terço da população dos coalas australianos já morreu nos incêndios (Foto: Peter Parkis/AFP)
Coala morto pelo fogo na Ilha do Canguru, na Austrália: um terço da população dos coalas australianos já morreu nos incêndios (Foto: Peter Parkis/AFP)
Coala morto pelo fogo na Ilha do Canguru, na Austrália: um terço da população dos coalas australianos já morreu nos incêndios (Foto: Peter Parkis/AFP)

Os incêndios na Austrália, que varreram do planeta diversas espécies e provocaram a morte de, pelo menos, 27 pessoas e de mais de meio bilhão de animais – inclusive a de um terço da população de coalas -, são o exemplo mais gritante da história moderna do que a insensatez humana pode fazer com o equilíbrio do planeta.

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Alguns estudos mostram que a interação de condições experimentadas hoje, como a aceleração da mudança do clima – que governos como o australiano negam -, a mudança da composição atmosférica causada pela indústria e estresses ecológicos anormais do consumo de recursos compõem a tempestade perfeita para as extinções.

Na década passada 467 espécies foram declaradas extintas, de acordo com Lista Vermelha da União Internacional de Conservação da Natureza. Outras estão à beira de desaparecer, e muitas sofrem declínio em suas populações. Segundo Stuart Pimm, professor de conservação da Universidade de Duke (EUA), contudo, “temos agora uma ideia mais clara de quantas espécies estamos perdendo, e como protegê-las”.

Todas as espécies têm o direito de estarem aqui. Nossas atividades e nosso egoísmo as estão dizimando

Baseado no número decrescente de espécies vertebradas, registradas na Lista Vermelha , 32% de todas as espécies em todos os grupos e ecossistemas estão sofrendo diminuição em abundância e abrangência. Na verdade, o planeta perdeu cerca de 60% de todos os indivíduos vertebrados desde 1970.

Canguru queimado perto de Camberra, na Austrália: mais de 500 milhões de animais de todos os tipos mortos durante incêndios florestais no país (Foto: Torsten Blackwood/AFP)
Canguru queimado perto de Camberra, na Austrália: mais de 500 milhões de animais de todos os tipos mortos durante incêndios florestais no país (Foto: Torsten Blackwood/AFP)

Sem contar os incêndios, a Austrália teve um dos maiores recordes de qualquer continente, com mais de 300 animais e mil plantas ameaçadas por extinção iminente.

Há poucos anos, uma equipe de cientistas da Europa tentou responder a uma pergunta simples: quanto tempo demoraria para repor as 300 espécies mamíferas que se extinguiram desde que o homem habita o planeta? A resposta foi: de cinco milhões a sete milhões de anos. Isso para falar apenas dos mamíferos.

No total, estima a Plataforma Intergovernamental de Ciência e Políticas de Biodiversidade e Serviços do Ecossistema, da ONU, cerca de um milhão de espécies estão hoje em risco de extinção se não forem tomadas medidas urgentes. O número inclui 40% de todas as espécies anfíbias, 33% dos corais e cerca de 10% dos insetos.

“Todas as espécies têm o direito de estarem aqui”, diz Joseph Mendelson, diretor do zoológico de Atlanta. Nossas atividades e nosso egoísmo as estão dizimando.

Em um estudo de 204, Pimm e colegas concluíram que as espécies hoje são extintas a uma taxa mil vezes maior que antes da chegada dos humanos. Hoje as extinções prováveis são de 100 por milhões de espécies por ano. Isso torna as coisas mais graves porque os cientistas nem chegaram a catalogar todas existentes na Terra. Há de oito milhões a nove milhões delas, e foram registradas pouco mais de um milhão.

Por que temos esta crise de biodiversidade? Um relatório da ONU de maio de 2019 menciona cinco fatores. O primeiro são as mudanças no uso da terra e do mar: a área do mundo não alteradas pelos humanos encolhe o tempo todo. E quando isso acontece, o mesmo se dá com o lugar para a natureza. Um terço das terras do planeta são atualmente reservadas para a agricultura e gado. Cerca de 100 milhões de hectares de vegetação nativa (um hectares equivale a dez mil metros quadrados) desapareceram entre 1980 e 2000. 

Depois, a ONU cita a exploração direta de organismos, o que compreende a caça, ilegal ou não. Segue com a mudança do clima, o que aumenta de vários modos as dificuldades das espécies. Poluição é outro fator: pense na quantidade enorme de plástico que vai no mar todos os anos. E, finalmente, a invasão da espécies alienígenas. Como consequência do mundo globalizado, espécies de um continente vão parar em outro, onde não têm predadores naturais, e afetam o meio ambiente.

A qualidade de nossa existência está diretamente ligada à biodiversidade. Muitos de nossos remédios são derivados de plantas. Todos os nossos alimentos derivam de vida, de uma maneira ou de outra. Os ecossistemas nos fornecem água limpa. E quando as espécies desaparecem o meio ambiente entra em colapso.

 

José Eduardo Mendonça

Jornalista com passagens por publicações como Exame, Gazeta Mercantil, Folha de S. Paulo. Criador da revista Bizz e do suplemento Folha Informática. Foi pioneiro ao fazer, para o Jornal da Tarde, em 1976, uma série de reportagens sobre energia limpa. Nos últimos anos vem se dedicando aos temas ligados à sustentabilidade.

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