ODS 1
A cada ano, Brasil queima área maior que o estado do Ceará
Levantamento inédito do Projeto MapBiomas mostra que 19,6% do território brasileiro já foi queimado, ao menos uma vez, nos últimos 36 anos
Imagine um país que seja capaz de queimar, todos os anos, uma área equivalente ao estado do Ceará? Ou um território superior ao da Inglaterra? É isso que o Brasil vem fazendo, sistematicamente, nos últimos 36 anos. O levantamento inédito, feito pelo Projeto MapBiomas, analisou imagens de satélite entre 1985 e 2020 e revelou que o país destrói, a cada ano, em média, 150.957 km² ou 1,8% do seu território. O acumulado do período chega a praticamente um quinto do território nacional: 1.672.142 km², ou 19,6% do Brasil, sendo que 65% do total da área queimada foi de vegetação nativa. O estado de Mato Grosso apresentou a maior incidência de fogo, seguido pelo Pará e por Tocantins. E advinha quem é o responsável? O homem, é claro, e a ideia mofada de que é preciso destruir para se desenvolver.
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Entre os cinco biomas do Brasil, nenhum foi tão atingido como o Pantanal: 57% de seu território foi queimado pelo menos uma vez entre 1985 e 2020. A vegetação campestre é a mais afetada no bioma. Durante os períodos úmidos as plantas acumulam biomassa e no período seco, a vegetação seca vira combustível para o fogo. “Essas características do bioma, associadas a eventos climáticos de seca e fortes ventos, torna o fogo um problema a ser controlado. Questões relativas ao uso do fogo como forma de manejo, em condições inadequadas, podem levar a ocorrência de incêndios descontrolados por extensas áreas”, alerta o coordenador do MapBiomas Pantanal, Eduardo Reis Rosa.
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Veja o que já enviamosO pesquisador explica que o Pantanal tem uma vegetação adaptada ao fogo. No entanto, a alta frequência pode torná-lo prejudicial à biodiversidade de fauna e flora: “Questões relativas ao uso do fogo devem ser integradas às condições de uso das pastagens, de forma preventiva, controlada e seguindo os ciclos do Pantanal e condições meteorológicas adequadas, com o objetivo de proteger o bioma”.
O mapeamento revela cada pedaço de território do Brasil atingido pelo fogo nos últimos 36 anos. Para Ane Alencar, coordenadora do MapBiomas Fogo, “sabendo onde foi queimado é possível entender a dinâmica do fogo e quais as áreas que estão mais vulneráveis no futuro. Assim, o mapeamento é fundamental para entender a frequência e a intensidade do fogo, para o planejamento do combate e apontar áreas de maior risco”. Cerrado e Amazônia representam 85% da área queimada nesses últimos 36 anos. “A Amazônia não é um bioma do qual o fogo faz parte da dinâmica natural do ecossistema, diferente do Cerrado onde o fogo natural faz parte de sua dinâmica evolutiva”, destaca a pesquisadora.
Para chegar a esses números, a equipe do MapBiomas processou mais de 150 mil imagens geradas pelos satélites Landsat 5, 7 e 8 de 1985 a 2020. Com a ajuda de inteligência artificial, foi analisada a área queimada em cada pixel de 30m x 30m dos mais de 8,5 milhões de quilômetros quadrados do território nacional, independente do uso e cobertura do solo. Ao todo, foram 108 terabytes de imagens processadas para mostrar áreas, anos e meses de maior e menor incidência do fogo.
Os dados de queimadas e incêndios florestais estão disponibilizados em mapas e estatísticas anual, mensal e acumulada para qualquer período entre 1985 e 2020 na plataforma MapBiomas, aberta a todos. Ela também inclui dados de frequência de fogo, indicando as áreas mais afetadas nos últimos 36 anos. A resolução é de 30m, com indicação do tipo de cobertura e uso do solo que queimou, permitindo recortes territoriais e fundiários por bioma, estado, município, bacia hidrográfica, unidade de conservação, terra indígena, assentamentos e áreas com Cadastro Ambiental Rural (CAR).
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Texto produzido pelos jornalistas da redação do #Colabora, um portal de notícias independente que aposta numa visão de sustentabilidade muito além do meio ambiente.