Campanha da Fraternidade: “se não cuidarmos do planeta, não teremos nem almas”

No lançamento, secretário-geral da CNBB faz alerta contra "destruição do meio ambiente"; Papa Francisco, em mensagem, louva o tema da ecologia

Por Oscar Valporto | ODS 14ODS 15 • Publicada em 5 de março de 2025 - 15:50 • Atualizada em 5 de março de 2025 - 16:27

No cartaz da Campanha da Fraternidade 2025, a imagem de São Francisco entre a natureza e a cidade: ecologia como tema (Divulgação)

Com o tema ‘Fraternidade e ecologia integral’, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) lançou, nesta quarta-feira de Cinzas, sua tradicional campanha – que ocorre anualmente desde 1964 – em que a Igreja Católica mobiliza seus fieis brasileiros a refletir sobre uma questão durante o período da Quaresma. No lançamento da Campanha da Fraternidade 2025, dom Ricardo Hoepers, bispo de Brasília e secretário-geral da CNBB, destacou que o tema “faz ecoar no coração humano uma urgente conversão e a consciência da gravidade dos pecados contra a criação que desfiguram e destroem o meio ambiente”.

A obra criada por Deus está sendo ferida, aviltada, destruída. O pecado iludiu o nosso coração humano fazendo-nos pensar que poderíamos dominar e saquear todos os bens, de modo a consumi-los ao nosso bel prazer, sem medir as consequências do desastre do mau uso dos recursos naturais

Dom Ricardo Hoepers
Bispo de Brasília e secretário-geral da CNBB

Durante a cerimônia, foi apresentada a mensagem do Papa para a Campanha da Fraternidade 2025. No texto, Francisco louvou o “esforço em propor o tema da ecologia, junto à desejada conversão pessoal a Cristo” e felicitou a CNBB pela iniciativa. “Que todos nós possamos, com o especial auxilio da graça de Deus neste tempo jubilar, mudar nossas convicções e práticas para deixar que a natureza descanse das nossas explorações gananciosas”, escreveu o Papa Francisco.

Na cerimônia de abertura, na sede da CNBB em Brasília, dom Ricardo Hoepers chamou atenção para o desejo de dominação dos recursos naturais que fere a obra da criação de Deus e convidou à tomada de consciência “da missão que recebemos de cultivar e guardar a criação, no cuidado e no respeito à vida”, lembrando as ameaças ao planeta. “Se não cuidarmos da vida com justiça, solidariedade e fraternidade, se não cuidarmos do planeta, nossa casa comum, não teremos nem almas que possam buscar salvação”, disse o bispo. A Campanha da Fraternidade 2025 tem o tema “Fraternidade e Ecologia Integral”, acompanhado do lema bíblico, extraído de Genesis 1, 31, “Deus viu que tudo era muito bom”.

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O secretário-geral da CNBB destacou a necessidade de reflexão sobre a proteção à natureza. “A obra criada por Deus está sendo ferida, aviltada, destruída. O pecado iludiu o nosso coração humano fazendo-nos pensar que poderíamos dominar e saquear todos os bens, de modo a consumi-los ao nosso bel prazer, sem medir as consequências do desastre do mau uso dos recursos naturais”, disse.

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Dom Ricardo Hoepers acentuou que a Campanha da Fraternidade é realizada no Tempo da Quaresma – da Quarta-Feira de Cinzas até a Páscoa – e lembrou dos 40 dias que Jesus esteve no deserto, onde enfrentou e venceu as tentações. “Em Cristo, recuperamos a relação de harmonia entre os bens criados e a humanidade, superando a predatória visão de domínio sobre os dons de Deus”, afirmou.

“O tema da Campanha da Fraternidade deste ano expressa também a disponibilidade da Igreja no Brasil em dar a sua contribuição para que, durante a COP 30 do próximo mês de novembro, que se realizará em Belém do Pará, no coração da querida Amazônia, as nações e os organismos internacionais possam comprometer-se efetivamente com práticas que ajudem na superação da crise climática

Papa Francisco
Em mensagem para Campanha da Fraternidade

Na visão do secretário-geral da CNBB, o tempo da quaresma e a temática da Campanha da Fraternidade sobre a ecologia integral “soam como um sopro do Espírito Santo sobre uma geração que pode evitar o ponto sem retorno da crise climática”. Para dom Ricardo, este tempo é também para “sair da nossa passividade” e encontrar saídas, “com criatividade e mobilização em todos os níveis sociais” de defesa e proteção da natureza e de suporte ao “sentido humano da ecologia, onde especialmente o povo mais pobre, seja respeitado nos seus direitos e na sua dignidade”.

O bispo de Brasília chamou atenção ainda para a necessária consciência contra a ignorância. “Nesta quaresma, faça jejum, faça penitência, dobre os joelhos, mas também estude, se informe, se organize, se mobilize, compartilhe boas práticas, pois se temos um mal para enfrentar no mundo atual é a ignorância, mãe de tantos males e que alimenta a soberba dos que se negam viver a fraternidade como exigência evangélica. Ignorância que justifica seus erros e pecados para não perder seu bem-estar. Ignorância que mata e destrói em nome do desenvolvimento”, afirmou.

Dom Ricardo Hoepers, secretário-geral da CNBB, no lançamento da Campanha da Fraternidade: “se não cuidarmos da vida com justiça, solidariedade e fraternidade, se não cuidarmos do planeta, nossa casa comum, não teremos nem almas que possam buscar salvação” (Foto: Luiz Lopes Jr / CNBB)
Dom Ricardo Hoepers, secretário-geral da CNBB, no lançamento da Campanha da Fraternidade: “se não cuidarmos da vida com justiça, solidariedade e fraternidade, se não cuidarmos do planeta, nossa casa comum, não teremos nem almas que possam buscar salvação” (Foto: Luiz Lopes Jr / CNBB)

Campanha inspirada por Francisco

Durante a cerimônia de lançamento, o secretário-geral da CNBB afirmou que a escolha do tema traz a importância do magistério do Papa Francisco. Desde o início, ele se preocupou com a natureza, com as populações tradicionais, aqueles grupos mais vulneráveis que por causa das crises climáticas sofrem consideravelmente e com mais intensidade. É momento de rezarmos pelo Papa e por um mundo melhor, com mais consciência ecológica integral”, disse dom Ricardo.

Do Hospital Gemelli, em Roma, onde está internado para tratar de graves problemas respiratórios, o Papa Francisco enviou sua mensagem para a Campanha da Fraternidade. “Louvo o esforço da Conferência Episcopal em propor mais uma vez como horizonte o tema da ecologia, junto à desejada conversão pessoal de cada fiel a Cristo. Que todos nós possamos, com o especial auxilio da graça de Deus neste tempo jubilar, mudar nossas convicções e práticas para deixar que a natureza descanse das nossas explorações gananciosas”, afirma a mensagem, citando sua Carta Encíclica ‘Laudato Si’, de 2015, e a Exortação Apostólica ‘Laudate Deum’.

Francisco também destaca a realização da COP30 no Brasil. “O tema da Campanha da Fraternidade deste ano expressa também a disponibilidade da Igreja no Brasil em dar a sua contribuição para que, durante a COP 30 do próximo mês de novembro, que se realizará em Belém do Pará, no coração da querida Amazônia, as nações e os organismos internacionais possam comprometer-se efetivamente com práticas que ajudem na superação da crise climática e na preservação da obra maravilhosa da Criação, que Deus nos confiou e que temos a responsabilidade de transmitir às futuras gerações”, aponta o Papa.

O cartaz e outras peças da Campanha da Fraternidade 2025 tem a imagem de São Francisco de Assis como figura central. De acordo com a CNBB, o santo é considerado padroeiro de todos os que estudam e trabalham no campo da ecologia e também é amado também por muitos que não são cristãos. Nos materiais, São Francisco aparece entre imagens dos biomas brasileiros e sua diversidade, de um lado, e, do outro, das grandes cidades, divididas entre as comunidades marginalizadas, nas favelas e periferias, e os grandes arranha-céus.

Oscar Valporto

Oscar Valporto é carioca e jornalista – carioca de mar e bar, de samba e futebol; jornalista, desde 1981, no Jornal do Brasil, O Globo, O Dia, no Governo do Rio, no Viva Rio, no Comitê Olímpico Brasileiro. Voltou ao Rio, em 2016, após oito anos no Correio* (Salvador, Bahia), onde foi editor executivo e editor-chefe. Contribui com o #Colabora desde sua fundação e, desde 2019, é um dos editores do site onde também pública as crônicas #RioéRua, sobre suas andanças pela cidade

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