Amazônia ganha antenas para monitoramento de pássaros

Projeto que reúne várias instituições de pesquisa acompanhará migração de andorinhas-azuis

Por Liege Albuquerque | ODS 14 • Publicada em 30 de novembro de 2018 - 08:00 • Atualizada em 10 de maio de 2022 - 17:50

As primeiras antenas de monitoramento de aves foram instaladas em uma torre de 42 metros de altura sobre a Floresta Amazônica (Foto: Purple Martin Conservation Association)

As primeiras três antenas de monitoramento de aves e, eventualmente, de insetos, do Brasil foram instaladas em novembro de 2018 em Manaus, em cima de uma torre de 42 metros de altura sobre a Floresta Amazônica, no Museu da Amazônia (Musa), na Zona Norte da capital amazonense. Em um convênio do Musa com Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa); Instituto Butantan, de São Paulo; Universidade de Manitoba, em Winnipeg, no Canadá, e a ONG Purple Martin Conservation Association (PMCA), as antenas têm  foco principal no monitoramento do movimento migratório das andorinhas-azuis (Progne subis) na floresta tropical.

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Estas andorinhas, que só se reproduzem na América do Norte, fazem parte do cenário da Amazônia de setembro a março todos os anos, quando migram fugindo do forte inverno em seu habitat. O equipamento, que opera no sistema Motus de transmissão de dados, pode detectar qualquer espécie da fauna que tenha um transmissor compatível, um tipo de chip, numa distância de 20 quilômetros.

“O Brasil, com as antenas instaladas, agora faz parte de uma rede internacional de um sistema colaborativo científico de rastreamento de aves migratórias e também de insetos maiores, como mariposas. Com estas antenas, poderemos detectar a presença não só das andorinhas-azuis, nosso alvo primordial de pesquisa, mas também de quaisquer animais alados de várias partes do mundo que passem por aqui com seus chips”, frisou o ornitólogo do Inpa e responsável pelo monitoramento no Brasil, Mario Cohn-Haft. Nas próximas semanas, o pesquisador começa a capturar as aves para a colocação dos microchips, num processo indolor.

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Todos os dados coletados são gravados num cartão de memória e podem ser baixados através de um aplicativo de celular via rede wireless. Foto Purple Martin Conservation Association
Todos os dados coletados são gravados num cartão de memória e podem ser baixados através de um aplicativo de celular via rede wireless (Foto: Purple Martin Conservation Association)

Conforme destaca o pesquisador, as andorinhas azuis vivem um caso de amor com os norte-americanos há décadas, numa relação de respeito e admiração. “Há uma interação real e voluntária do que chamamos de ciência cidadã: são construídas casinhas nos quintais, como condomínios de apartamentos, onde as andorinhas entram e saem à vontade e colocam seus ovos. As pessoas coletam dados e repassam aos pesquisadores, numa relação de respeito e admiração por estes animais”, conta. Na América do Norte, relata Cohn-Haft, décadas atrás as andorinhas tiveram seus hábitos modificados totalmente pela chegada de pardais da Europa, e essas casinhas construídas para elas ajudaram na readaptação.

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O que as andorinhas fazem na floresta nesses seis meses é um mistério, que os dados dos seus voos transmitidos pelos microchips pretende desvendar. “Há muitas suposições, infelizmente há muitos pesticidas usados em espaços onde elas poderiam ficar. Provavelmente ficam nas copas das árvores”. O monitoramento vai destacar seus hábitos e dará material para diversas pesquisas, em especial da universidade canadense que ajuda a bancar o projeto e tem tradição na pesquisa de pássaros.

Uma das antenas tem capacidade de captação de 360 graus, as outras duas são direcionais. Todos os dados coletados são gravados num cartão de memória e podem ser baixados através de um aplicativo de celular via rede wireless. As informações são então carregadas num banco de dados acessível, via web, por pesquisadores cadastrados de todo o mundo. Ou seja, alguém que esteja fazendo uma pesquisa sobre qualquer outra espécie marcada com chip do sistema Motus vai ser informado automaticamente se seu animal for detectado pela antena.

A torre de observação do Musa, inaugurada em 2015, é o ponto mais alto de observação da Floresta Amazônica. É um endereço turístico obrigatório em Manaus. São mais de 200 degraus que permitem ao turista ver a floresta muito acima da copa das árvores nativas, exceto da sumaúma, que atinge até 70 metros.

Liege Albuquerque

Liege Albuquerque é jornalista e mestre em Ciências Políticas (USP). É professora de jornalismo e publicidade na UniNorte/Laureate em Manaus, de onde faz freelances para diversos veículos. Foi repórter e editora de Cidades e Política em jornais como A Crítica, Amazonas em Tempo e Diário do Amazonas (em Manaus), Folha de S. Paulo e Veja (em São Paulo), O Globo e O Estado de S. Paulo (em Brasília). Trabalhou por oito anos como correspondente do Estadão no Amazonas. É autora de dois livros infantis e tem um blog sobre maternidade com outras jornalistas: o maescricri.

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